Bastaram oito horas e meia de actividade e cerca de 50 participantes empenhados. O primeiro bioblitz realizado na Lagoa Pequena, em Sesimbra, saldou-se na identificação de 84 espécies novas. A Wilder falou com a organização e conta-lhe como foi.
A chuva que se fez sentir logo pela manhã, naquele sábado dia 21 de Abril, não chegou para afastar quem estava decidido a participar nesta iniciativa de ciência cidadã. Objectivo: descobrir e identificar o maior número possível de espécies na Lagoa Pequena, que faz parte da Lagoa da Albufeira – sempre com a ajuda de especialistas.
Entre a meia centena de participantes, que ali estiveram ao longo do dia e participaram numa ou várias das saídas de campo, havia quem já tivesse experiência nestas acções, mas também curiosos que entraram num bioblitz pela primeira vez. “Apareceram diversas famílias com crianças bastante bem equipadas, com impermeáveis e galochas”, recorda Patrícia Tiago, da BioDiversity4All, entidade que coordenou a iniciativa.
Ao todo, cientistas e cidadãos identificaram 149 espécies, com destaque para as aves (47 espécies) e as plantas (54). No caso das primeiras, a Lagoa Pequena é aliás um espaço já bastante explorado, uma vez que ali se têm realizado acções de educação ambiental ligadas à Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), em parceria com a Câmara Municipal de Sesimbra.
Ainda assim, para quem logo ao início da manhã se juntou à saída de campo dedicada às aves, o caimão (Porphyrio porphyrio) e a garça-vermelha (Ardea purpurea) fizeram sensação.
Mas foi nas plantas, nos cogumelos e nos líquenes que se registou a maior fatia das 84 espécies novas registadas pela primeira vez para a Lagoa Pequena, durante este bioblitz. Estas vieram juntar-se a um total de 334 espécies, que já tinham sido anteriormente identificadas neste espaço, através da plataforma BioDiversity4All.
Exemplos? Nas plantas, foram pela primeira vez identificadas espécies como a Neotinea maculata e a Phragmites australis – ambas sem nomes comuns em português. Quanto a esta última, Patrícia Tiago sublinha que se pode encontrar nas margens de lagoas – como é o caso da Lagoa Pequena – onde é “importante para a protecção e refúgio da fauna”.
De resto, “as nove espécies de cogumelos e 30 de líquenes observadas foram bastante interessantes, por não estarem tão bem avaliadas até ao momento.” Entre os líquenes, fizeram sucesso a evernia (Evernia prunastri) – uma espécie que em inglês é conhecida por musgo dos carvalhos (‘oakmoss’) – e também a parmelia-verde (Flavoparmelia caperata).
Já quem se juntou à saída de campo em busca de cogumelos, ao final da manhã, deparou-se com fungos como o Xerocomus badius e também o Polyporus squamosus. Este último cogumelo, que nasce em troncos de árvores, é conhecido em inglês por sela-das-dríades (‘dryad’s saddle’). Na mitologia grega, as dríades eram pequenas fadas que estavam associadas às árvores, em especial aos carvalhos, e que conseguiriam usar estes fungos como selas.
Neste primeiro bioblitz na Lagoa Pequena, também se encontraram vestígios de toupeira (Talpa occidentalis), o único mamífero registado ao longo do dia. E apesar da chuva e do tempo incerto, houve ainda quem encontrasse uma borboleta malhadinha (Pararge aegeria).
Quanto à utilização dos dados ali obtidos, que poderão ser usados pelo Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena e pelos cientistas, Patrícia Tiago acredita que novas edições desta iniciativa, nos próximos anos, “poderão permitir análises temporais das espécies que ocorrem na região”.
Para já, as espécies identificadas vão ficar disponíveis na plataforma da BioDiversity4All, entidade que organizou este bioblitz em parceria com a SPEA, a Câmara de Sesimbra e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. O bioblitz teve ainda o patrocínio da Simarsul, empresa que gere o sistema multimunicipal de saneamento de águas residuais da região de Setúbal.