O correspondente da Wilder, António Heitor, está atento aos primeiros sinais de que o Verão está a terminar. Várias são as espécies de aves que testemunham que vem lá mais um Outono. Umas preparam-se para partir, outras começam a chegar.
O Verão é para as aves o fim da época de reprodução e o início de (mais) uma jornada difícil: é tempo de migrações, de abandonar locais de nidificação e de regressar aos locais de invernada. Estes movimentos irão por à prova a condição física das aves.
Os estuários são bons sítios para testemunhar estas movimentações e lá podemos encontrar mais espécies e um maior número de indivíduos do que noutras alturas do ano. Há aves que se preparam para partir, há outras que são as primeiras a chegar para passar o Inverno e outras ainda que estão só de passagem nas suas viagens.
Nos arrozais da Lezíria do Tejo, que nesta época do ano já estão crescidos, as garças-vermelhas preparam-se para regressar aos locais de invernada, principalmente na África subsariana.
O mesmo acontece com as alvéolas-amarelas que dentro em breve estarão a rumar a África ou ao sul da Ásia. Mas, em virtude de posturas mais tardias, ainda é possível encontrar adultos a alimentar crias, como esta que “pedia alimento” incessantemente.
Observamos também um grande bando de sisões, ave que não nidifica no estuário do Tejo, mas que no fim da época de reprodução começa a formar grandes bandos e pode ser aqui encontrado nesta época do ano.
Ali por perto avistamos facilmente outras espécies – como íbis-pretos, gaivotas e cegonhas-brancas – à caça de lagostins-vermelhos, rãs, sapos e libelinhas. Maçaricos, borrelhos, galinhas-de-água e patos compõem o cenário.
Nos canais de rega começam a ser mais abundantes as pequenas limícolas (aves que procuram alimento na lama) que podem ser bastante irrequietas e, por isso, difíceis de observar. Os maçaricos-das-rochas procuram de alimento na lama enquanto balanceiam a cauda de um lado para o outro.
Nesta época chegam do Centro e Norte da Europa os primeiros abibes.
E os primeiros maçaricos-bique-bique, com o seu pio “trissilábico”. Esta ave tímida – que percorre as zonas menos profundas da Ponta-da-Erva (local onde o Sorraia se junta ao Tejo) à procura de alimento – voa ao primeiro sinal de perigo. É então que podemos ver o seu uropígio branco, que facilita bastante a sua identificação.
Outro sinal de que o tempo quente está a terminar é a chegada das narcejas. Pousadas na lama, estas aves são facilmente identificadas, com a sua cauda pequena, bico comprido e “ligeira barriguinha”.
Nos campos agrícolas, as vedações merecem sempre a nossa atenção. As aves de rapina aproveitam estes poisos para descansar, alimentar-se e procurar nova refeição.
Os peneireiros (o vulgar e o cinzento), as águias-de-asa-redonda e tartaranhões são os predadores alados mais comuns nesta época do ano. Dependendo da característica da vegetação, mais ou menos densa, podemos ver como as diferentes espécies caçam e competem entre elas pelas presas.
Falar de migração sem referir as grandes aves planadoras não seria possível. Tal facto deve-se em parte às grandes “colunas de migração” – assim chamadas pois aproveitam as “colunas” de ar quente para ganhar altitude – que podem ter centenas de indivíduos. As cegonhas-brancas são as mais célebres, mas podemos encontrar garças, cegonhas-negras e mesmo algumas rapinas.
Quando poisam é a altura ideal para as ver mais de perto, como no caso desta cegonha-branca, apanhada enquanto descia em espiral para poisar numa salina abandonada. Chamou-me a atenção a “falta de pena” debaixo das asas, resultado da muda das penas.
Um agradecimento ao Carlos Pacheco pelas lições, pelas valiosas informações e pela companhia nestas buscas pelas grandes observações.
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Saiba quais as espécies que o António está a registar.
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