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pequena ave cinzenta e castanha pousada num ramo
Papa-moscas-cinzento. Foto: Listamann/Wikimedia Commons

Cidadãos descobriram 25 novas espécies no Bioblitz de Monsanto

19.10.2017

Aves, insectos, gafanhotos, grilos, borboletas, morcegos. Estes são alguns dos grupos em que os cerca de 100 participantes no Bioblitz de Monsanto, realizado a 23 de Setembro, contribuiu para o registo de 25 novas espécies para o parque florestal de Lisboa. A Wilder conta-lhe o que por lá se passou.

 

As saídas de campo começaram pelas 9h00 e prolongaram-se até ao final da noite. Ao longo do dia, os participantes observaram 156 espécies diferentes,  entre plantas, aves, insectos, borboletas e outros animais e até líquenes e musgos, com a ajuda de especialistas.

 

grupo reúne-se em torno de alguém que tem um guia de aves no Bioblitz de Monsanto
Participantes no bioblitz, à procura de aves. Foto: Cristina Luís

 

“Esperávamos números um pouco inferiores aos que tínhamos obtido nas outras edições, realizadas no início do Verão, uma vez que esta edição se verificou no Outono”, explicou à Wilder uma das responsáveis da equipa organizadora, Cristina Luís, investigadora no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUNHAC).

O número de espécies observadas foi maior nas plantas (40), nas aves (37) e também nos musgos e líquenes (32) que houve mais observações.

Segundo Palmira Carvalho e César Garcia, os biólogos que guiaram a saída em busca de musgos e líquenes, “o número de registos foi bastante grande, com a ajuda dos participantes, porque houve um incentivo ao público, no espírito do bioblitz, para investirem na procura de espécies diferentes.”

 

ramo coberto por líquenes
Foto: Cristina Luís

 

Quanto às 25 espécies novas registadas, Cristina Luís reconhece que houve alguma surpresa: “Estávamos à espera de fazer novos registos pelo facto de estarmos numa época diferente, mas de facto, não estávamos à espera de tantas espécies novas.”

No caso dos insectos, quem andou por Monsanto teve a possibilidade de observar nove novas espécies de gafanhotos e grilos, que ainda não tinham sido registadas nos bioblitzs anteriores.

 

 

uma mulher olha para dentro de uma grande rede de tecido branco
Foto: César Garcia

 

“Este aumento no número de registos poderá ser explicado pela época do ano em que foi feito o Bioblitz”, adianta Patrícia Garcia Pereira, da associação Tagis-Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.

“É um grupo em que os adultos, tipicamente, aparecem tarde no ano, nas alturas de maior calor, e por isso ainda há bastantes indivíduos no Outono, particularmente este ano que ainda estava bastante calor no final de Setembro”, explica a mesma responsável, que é também investigadora do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa).

Registaram-se também cinco novas borboletas nocturnas – como a vistosa borboleta-caveira, ainda em fase de lagarta.

 

lagarta esverdeada com triângulos verdes e amarelos e pontinhos pretos
Borboleta-caveira (Acherontia atropos), em Monsanto. Foto: Albano Soares

 

Além de ser um grupo “com bastante variação sazonal”, pelo que era de prever que no Outono se encontrassem diferentes insectos no que no início do Verão, “não existe um bom registo base de insectos”, nota a investigadora. “Por isso, é natural que novos registos vão surgindo sempre que decorre o bioblitz.”

Já nos morcegos e nas aves também surgiram novas observações. Uma foi o papa-moscas-cinzento (Muscicapa Striata), uma espécie migradora que costuma ser observada no Outono, quando está a voar para África, onde irá passar o Inverno.

 

pequena ave cinzenta e castanha pousada num ramo
Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata). Foto: Listamann/Wikimedia Commons

 

Ana Leal, também do cE3c, e que guiou a observação das aves, acrescenta que a outra espécie foi uma escrevedeira-de-garganta-preta (Emberiza cirlus) – uma espécie residente, que permanece em Portugal durante todo o ano.

 

Morcegos surpreenderam

Quanto aos morcegos, a juntar às três espécies novas registadas, houve outro dado que surpreendeu quem por ali ficou até ao crepúsculo. “Nunca tínhamos visto morcegos a voar ao final do dia, em Monsanto. Esta foi a primeira vez”, nota Cristina Luís.

“É normal que no mês de Setembro se registe grande actividade, visto que os morcegos se estão a preparar para hibernar: tanto os adultos como os juvenis deste ano, que tinham começado a voar recentemente, estavam a alimentar-se”, explica por sua vez Margarida Augusto, investigadora ligada à Bioinsight.

Para que servem os dados registados? Além de enriquecerem a informação sobre a biodiversidade da cidade de Lisboa, ficam também disponíveis para o trabalho de investigadores e de todos os interessados, disponíveis na plataforma BioDiversity4All.

 

investigadora abre guia de borboletas no Bioblitz de Monsanto
À procura de borboletas nocturnas, já noite dentro. Foto: Cristina Luís

 

Quanto ao próximo ano, seja no Outono ou noutra estação do ano, os organizadores acreditam que vai haver uma quarta edição.

“Sim, contamos realizar novamente o Bioblitz Monsanto. Esperamos que seja uma iniciativa que veio para ficar!”, conclui Cristina Luís.

Além do MUHNAC e da CML, participaram na organização deste bioblitz várias universidades portuguesas. Já os especialistas que guiaram as saídas de campo pertencem também a várias entidades: cE3c, Museu de História Natural e da Ciência, Tagis, Biodiversity4All, Sociedade Portuguesa de Botânica e Bioinsight.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Conheça melhor o número de espécies registadas na última edição do Bioblitz de Monsanto, através da informação na plataforma BioDiversity4All.

Recorde os resultados da segunda edição do Bioblitz de Monsanto, realizada em 2016, neste artigo da Wilder.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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