Estas são algumas das espécies que podemos observar durante a Primavera. Vamos procurar estas e outras espécies e anotá-las no Caderno de Campo Wilder, na tabela: o nome, a data e o local da observação.
Abelharuco (Merops apiaster):
Os abelharucos são das aves mais coloridas da nossa fauna e podem ver-se mais facilmente no Sul e Interior Centro do país. São mais fáceis de observar enquanto constroem os ninhos e na fase em que alimentam as crias, mas é necessário ter muito cuidado para não os perturbar na época de reprodução.
Segundo Joana Costa, cientista que tem trabalhado na investigação sobre estes aves migradoras, é comum observarmos abelharucos “perto de barreiras de areia, barro ou argila, situadas à beira de rios ou ribeiras, ou até em barreiras junto à estrada ou areeiros abandonados. Podemos observá-los a perseguir insectos em áreas abertas ou pousados nos fios eléctricos ou ramos de árvores.”
O nome comum destas aves, e também o nome científico apiaster, devem-se precisamente ao facto de comerem abelhas, entre outros insectos. Os abelharucos que observamos em Portugal costumam chegar entre o final de Março e o mês de Abril, depois de passarem o Inverno na África Ocidental, concluiu recentemente um grupo de cientistas que estudaram seu o voo.
Abelhão-comum (Bombus terrestris):
Esta é uma das espécies de abelhões que podemos observar em Portugal e pode ser identificado pelas duas faixas amarelas vistosas e pelos pelinhos brancos que apresentam na extremidade. Os abelhões fazem parte do grupo das abelhas e vivem em colónias. São também importantes polinizadores.
As rainhas emergem no fim do Inverno e começam a fundar novas colónias de abelhões utilizando para isso buracos no subsolo, muitas vezes tocas de roedores abandonadas. Para isso, precisam de energia em abundância, pelo que podemos vê-las a alimentar-se de néctar nas flores, tendo particular preferência pelas flores da borragem. Quando já têm obreiras suficientes na colónia, são estas que passam a desempenhar esse papel.
Os abelhões-comuns estão muito ativos durante a manhã e final da tarde, evitando as horas de maior calor. São muitos os locais onde podemos ver esta espécie.
Andorinhões (Apus sp.):
É na Primavera que estas aves espantosas chegam ao território português, onde podemos observá-las em muitas localidades nos seus voos sobre os telhados – um dos locais preferidos para fazerem os ninhos – ao mesmo tempo que ouvimos os seus chamamentos agudos. O andorinhão-preto (Apus apus) e o andorinhão-pálido (Apus pallidus) são as espécies de andorinhão mais fáceis de observar e são muitas vezes confundidos com andorinhas, embora não sejam sequer parentes próximos.
Uma das características mais curiosas dos andorinhões é que passam praticamente toda a vida a voar, mesmo enquanto dormem. Na verdade, isso só não acontece na altura da nidificação, em que precisam de cuidar dos ovos e das pequenas crias. Estas últimas por vezes caem do ninho e precisam de ajuda. Se encontrar uma destas aves, o melhor a fazer é encaminhá-las o mais depressa possível para um dos centros de recuperação de animais selvagens do país.
Conheça três espécies de andorinhões em Portugal e aprenda como identificá-las.
Alvéola-amarela (Motacilla flava):
Esta é uma das mais coloridas aves portuguesas. Os machos adultos têm uma plumagem amarela no peito e no ventre e a cabeça azulada. Nas fêmeas as cores são menos vivas e os juvenis são mais acastanhados.
“A chegada das primeiras alvéolas-amarelas representa, tal como a das andorinhas, um dos primeiros sinais de que a Primavera está próxima”, diz Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal. Esta ave é um dos migradores estivais mais precoces. As primeiras alvéolas-amarelas chegam a Portugal ainda em Fevereiro, sobretudo na última semana, depois de passarem o Inverno na África subsariana.
Nidificam praticamente por toda a Europa, em ninhos no solo. É uma pequena taça feita de ervas”, explica Gonçalo Elias.
Em Portugal, este ornitólogo sugere como bons sítios para procurar esta ave “as terras baixas do Litoral, desde o Minho ao Algarve, nomeadamente junto a estuários, lagoas costeiras, ou grandes várzeas”. Aí, estas alvéolas frequentam sapais, arrozais, terrenos encharcados ou prados húmidos.
Borboleta cauda-de-andorinha (Papilio machaon):
Vistosa e inconfundível, a borboleta cauda-de-andorinha é uma das espécies que se podem ver um pouco por todo o país, mesmo nas cidades.
Logo depois de eclodirem, as lagartas desta espécie assemelham-se a um pequeno excremento de pássaro, evitando assim ser comidas. Passado algum tempo, depois de algumas mudas, ganham finalmente cores mais vistosas – em tons verdes, pretos e laranjas – que servem de aviso sobre o seu mau sabor. Alimentam-se das folhas tenras das arrudas (Ruta sp.) e de plantas da família Apiaceae, que inclui espécies como o funcho, a salsa e a cenoura.
Os adultos surgem três semanas depois da formação da crisálida, ou após os meses frios do Inverno.
Crias de pato-real (Anas platyrhynchos):
Antepassado do pato doméstico, este é o pato mais comum em Portugal, onde é uma espécie residente – ou seja, mantém-se por aqui todo o ano. Segundo o “Guia de Aves” da autoria de Lars Svensson, os patos-reais reproduzem-se em parques, canais de cidades, lagos, charcas, entre outros locais.
Quase sempre o ninho é construído no chão, em sítios próximos da água e escondidos pela vegetação. A fêmea, de penugem acastanhada, utiliza materiais naturais para o local onde vai incubar os ovos – entre nove a 13 ovos, normalmente. As crias nascem quase um mês depois e começarão a voar passados cerca de 50 dias.
Descubra porque são os machos de pato-real mais coloridos do que as fêmeas.
Esteva (Cistus ladanifer):
A esteva é uma das flores típicas da paisagem mediterrânica que é incontornável para procurar na Primavera.
As estevas podem chegar até aos três metros de altura e enchem-se de grandes flores brancas entre Março e Maio.
Em Portugal, esta espécie ocorre espontaneamente um pouco por todo o território continental, mas com maior incidência no Centro e Sul do país e no arquipélago da Madeira, onde foi introduzida.
Procure-a em zonas com exposição solar plena, em especial em matos xerófilos, terrenos incultos e degradados e no subcoberto de sobreirais, azinhais ou pinhais.
Flores brancas do pilriteiro (Crataegus monogyna):
O pilriteiro é um arbusto espinhoso com floração primaveril bastante comum em Portugal.
Nas primeiras semanas de Primavera este arbusto ou pequena árvore enche-se de pequeninas flores brancas ou em tons rosa. Mas são dias que acabam depressa, pois só duram entre Abril e Maio. No final do Verão, estas flores são fecundadas e dão lugar a pequenos frutos vermelhos.
É uma espécie espontânea da Europa que gosta de sítios húmidos e sombrios. Para o distinguir de outros arbustos com flor semelhante, tenha atenção ao recorte das folhas.
É uma espécie bastante resistente e robusta e pode viver até 500 anos de idade, conta-nos Carine Azevedo.
Um bom local para apreciar todo o esplender dos pilriteiros em flor é a mancha de pilriteiros de porte arbóreo no Campo do Gerês, no Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Flores amarelas do tojo (Ulex europaeus):
O tojo, também conhecido como carqueja ou pica-rato, é uma das 10 espécies nativas do género Ulex que ocorrem em Portugal.
É um arbusto espinhoso, originário da Península Ibérica. Em Portugal, pode encontrá-lo em muitos locais variados, incluindo orlas de bosques, taludes de estradas e campos agrícolas abandonados.
As pequenas flores amarelas do tojo são mais comuns nos primeiros meses do ano, até meados de Maio, e também em Outubro e Novembro.
Joaninha-de-sete-pontos (Coccinella septempunctata):
Esta bem conhecida joaninha será a mais comum entre as joaninhas da Europa.
Apesar de ser pequeno, com cerca de seis milímetros, este animal destaca-se entre a vegetação graças à sua cor vermelha.
As joaninhas surgem durante a Primavera, mais concretamente a partir de Março, um pouco por todo o país. Passam os meses mais frios do ano juntas, abrigadas em locais adequados à hibernação.
Esta é uma espécie muito apreciada por quem cultiva hortas e campos, já que tanto adultos como larvas são vorazes predadores de pragas como os afídeos.
Lebre-comum (Lepus europaeus):
A lebre-comum, também conhecida como lebre-europeia, é um regalo para os olhos de quem tiver a sorte de a observar nos campos de Portugal. É especialmente provável de a encontrar em zonas agrícolas pouco humanizadas. Mas será preciso alguma paciência, já que este mamífero tão icónico tem uma coloração mimética para se dissimular na paisagem.
Ao contrário do coelho-bravo, a lebre abriga-se em tocas pouco profundas, viradas sempre para um ponto de saída estratégica em caso de ataque de seus predadores.
Mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus):
A parada nupcial do mergulhão-de-crista – que acontece na Primavera, a partir de Março – é uma das mais espectaculares de entre as aves em Portugal. É uma exuberante dança, em que macho e fêmea abanam a cabeça, esticam os pescoços e se erguem espalhafatosamente na água.
Estas paradas podem ser observadas nas albufeiras, lagos, açudes e barragens do interior do país.
O mergulhão-de-crista exibe, na Primavera, um longo pescoço branco, sendo esta a característica que mais se destaca. “Como o seu nome indica, esta é uma ave que mergulha e que desaparece frequentemente da vista, podendo reaparecer num ponto diferente do plano de água”, explica o portal Aves de Portugal. Nesse portal poderá informar-se sobre os melhores locais para observar esta ave em cinco regiões de Portugal.
Orquídeas silvestres (família Orchidaceae):
A variedade impressiona e são muitas as razões para as procurar. Tem mais de 60 espécies de orquídeas à sua espera, um pouco por todo o país.
As orquídeas distinguem-se pela forma: todas têm três sépalas e três pétalas. Uma das pétalas, a que se chama labelo, costuma sobressair.
Procure-as em clareiras iluminadas pelos raios do sol – já que quase todas as espécies de orquídeas detestam a sombra e a falta de luz – e em terrenos descampados e incultos.
Algumas áreas protegidas são locais onde pode encontrar muitas destas plantas. Experimente visitar, por exemplo, o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, a Paisagem Protegida da Serra de Montejunto, o Parque Natural de Sintra-Cascais, o Parque Natural da Arrábida, a Paisagem Protegida Local da Rocha da Pena e a Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola.
E agora uma recomendação importante: nunca, mas mesmo nunca, se deve apanhar uma orquídea. Tal significa que essa planta já não se vai conseguir reproduzir.
Papoila (Papaver rhoeas):
As papoilas, com o seu aspeto frágil e beleza efémera, alegram qualquer paisagem portuguesa, salpicando-a de cor.
Esta é uma espécie que ocorre um pouco por todo o país, em searas, pousios, pastagens, prados, montados ou olivais. Por vezes comporta-se como ruderal em bermas de caminhos, baldios e entulhos.
É uma das espécies utilizadas no dia da Espiga e simboliza o amor e a vida. Existem várias espécies de papoilas no nosso país, pelo que para termos a certeza de estar frente a uma Papaver rhoeas devemos confirmar que a parte superior dos pedúnculos apresenta pêlos algo rígidos e patentes (perpendiculares).
Esta planta de ciclo de vida curto não tarda a tornar-se rara, como muitas outras “ervas daninhas” indesejadas. O desaparecimento desta e de outras espécies de plantas pode levar também ao desaparecimento de muitos polinizadores.
A botânica Carine Azevedo explicou recentemente na Wilder tudo sobre a papoila.
Rã-verde (Pelophylax perezi):
Não será difícil encontrar e conseguir ver esta rã, já que se acredita ser o anfíbio mais comum em Portugal. Está presente em todo o território português e é uma espécie nativa e endémica da Península Ibérica.
Como nem todos os exemplares são verdes, e podem ter uma grande variedade de coloração, pode pensar que não é uma “rã-verde”, mas esta variabilidade nas cores é muito comum nos anfíbios.
Mas todos os indivíduos têm duas pregas de pele longitudinais que vão desde o olho até à inserção da pata posterior.
Este anfíbio atinge facilmente 7,5 centímetros, podendo chegar aos 10 centímetros de comprimento.