Neste ano atípico, os nossos leitores capturaram imagens que reflectem a beleza e a diversidade das espécies que nos rodeiam. Em 2020 respondemos a cerca de 500 pedidos de identificação do “Que Espécie é Esta”, de Norte a Sul do país. Aqui ficam alguns dos mais fantásticos.
Esta vespa foi fotografada pelo leitor Nuno Jesus a 9 de Setembro em Telhadela, Albergaria-a-Velha. Maria João Verdasca, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), explicou que as fêmeas destas vespas têm um ovopositor incrivelmente longo. É através deste órgão tubular que elas depositam os seus ovos.
Este registo do leitor José Manuel Costa é muito interessante pela localização onde foi feito. Esta rã foi fotografada a 21 de Abril em Alegrete, Portalegre. Segundo Rui Rebelo, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, esta rã só existe a Norte do rio Tejo. Mas há uma excepção: há um núcleo isolado na serra de São Mamede. Este animal foi visto mesmo no limite sul desse núcleo isolado.
Esta aranha lobo foi fotografada pelo leitor Pedro Almeida a 16 de Julho, cerca das 23h00, no pequeno planalto do Fanal, na ilha da Madeira. Segundo Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres, a Madeira já foi chamada as Galapagos das aranhas lobo, onde se encontram espécies únicas. As aranhas deste género nestas ilhas são algumas das maiores do mundo, e é de facto um privilégio poder vê-las, descobri-las e poder dizer que são portuguesas.
A leitora Célia Santos conseguiu fotografar uma ave com uma capacidade de camuflagem “absolutamente notável”, segundo Gonçalo Elias, responsável pelo portal Aves de Portugal. Este noitibó-de-nuca-vermelha foi visto em Vale Navio, Albufeira, a 20 de Junho. O noitibó é uma ave que está activa durante a noite e passa o dia em repouso, em geral no chão, podendo passar facilmente despercebida.
Este rato-de-cauda-curta deu uma bela fotografia aoleitor José Fernandes, que o encontrou a 30 de Outubro no concelho de Pinhel, Guarda. Joana Paupério,investigadora do CIBIO-InBIO especializada em pequenos mamíferos, explica que em Portugal ocorrem cinco espécies de ratinhos do género Microtus. Todas são morfologicamente similares por isso nem sempre é possível identificar a espécie.
O leitor Aldiro Pereira fotografou este escaravelho-tigre em Vagueira, em Ílhavo, numa zona de areal com pinheiros. Segundo Eva Monteiro, da Rede de Estações da Biodiversidade, Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, os escaravelhos-tigre são vorazes predadores, conhecidos por serem muito rápidos na perseguição das suas presas: insectos e outros invertebrados.
Esta é uma orquídea terrestre que pode atingir cerca de 40 cm. Foi fotografada pelo leitor Rogério Lousada em Abril, em Vila Real. O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra explicou que as sépalas desta espécie têm a mesma orientação das pétalas, característica poderá ajudar a distinguir de outras espécies do mesmo género.
A 14 de Março, o leitor Joaquim Silva fotografou uma víbora-cornuda a comer uma centopeia. Tudo aconteceu no trilho do Morto que Matou o Vivo, Para Luís Ceríaco, especialista em répteis e investigador do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, esta é uma “foto incrível” e um “registo fantástico”. A víbora-cornuda é uma das duas espécies de serpentes venenosas que ocorrem em Portugal, juntamente com a víbora-de-Seoane. É normalmente tímida e pouco observada e é muito raro atacar: só se for pisada ou se se sentir ameaçada.
A leitora Filipa Ribeiro fotografou esta medusa a 16 de Agosto na praia das Aroeiras. Segundo Gonçalo Calado, biólogo e investigador associado do Instituto Português de Malacologia, a espécie Velella velella, conhecida como “Veleiro” devido à forma que tem, é uma das medusas mais comum na costa continental portuguesa.
O leitor Rafael Brito teve muita sorte em fotografar esta pequenina borboleta a 31 de Maio de 2018 nos Passadiços do Paiva, Arouca. Eva Monteiro, da Rede de Estações da Biodiversidade, Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, identificou esta espécie este ano e explicou que a mariposa é um macho. A quase ausência de escamas nas asas é comum nos adultos desta família, tal como o aspecto peludo do abdómen que a ela lhe faz sempre lembrar um mini escovilhão.
O cogumelo que a leitora Rafaella Magalhães fotografou no Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, em Dezembro, tem uma estratégia fantástica. Segundo a Associação Ecofungos, a frutificação inicia-se com o aparecimento de um “ovo” gelatinoso, que na maturação rompe e deixa a descoberto uma pseudo-gaiola vermelha. O ovo gelatinoso permite a disponibilização de humidade ao fruto, mantendo-o fresco mais tempo. Esta rede vermelha mimetiza a carne em putrefacção, quer pela cor, quer pelo cheiro nauseabundo que exala, a fim de atrair insectos necrófagos. Na fase final de maturação, abre e acaba por se liquefazer no solo. Essa estratégia permite que os insectos que aqui se banqueteiam contribuam para a dispersão dos esporos desta espécie.
Em plena Serra da Arrábida, a leitora Filomena Alcaide Ferreira encontrou estes caracóis a 21 de Novembro. Segundo Gonçalo Calado, biólogo e investigador associado do Instituto Português de Malacologia, este é um caracol terrestre endémico da Península Ibérica que vive entre as pedras e o solo.
Já que está aqui…
Apoie o projecto de jornalismo de natureza da Wilder com o calendário para 2021 dedicado às aves selvagens dos nossos jardins.
Com a ajuda das ilustrações de Marco Nunes Correia, poderá identificar as aves mais comuns nos jardins portugueses. O calendário Wilder de 2021 tem assinalados os dias mais importantes para a natureza e biodiversidade, em Portugal e no mundo. É impresso na vila da Benedita, no centro do país, em papel reciclado.
Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.
Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.