Foto: Adelaide Clemente

Ajude a encontrar uma das plantas mais raras de Portugal

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O apelo é lançado pela Sociedade Portuguesa de Botânica, que procura obter mais dados sobre a escabiosa-dos-pauis, neste momento em plena época de floração.

Esta iniciativa de ciência cidadã foi lançada pela Sociedade Portuguesa de Botânica (SPBotânica), que precisa de ajuda para conhecer todos os locais onde habita a escabiosa-dos-pauis (Succisella carvalhoana), classificada como Em Perigo.

Em Portugal, durante os trabalhos para a Lista Vermelha das Plantas Vasculares, esta planta só foi encontrada em três locais, e os investigadores precisam dos olhos de todos os cidadãos para a procurarem noutras zonas onde tenha passado despercebida. “Precisamos de buscas dirigidas a esta espécie. Todas as informações são preciosas”, apela João Farminhão, da SPBotânica.

O investigador, também ligado à Universidade de Coimbra, descreveu à Wilder como é que a escabiosa-dos-pauis pode ser identificada. “É uma planta de prados húmidos, que nasce quase sempre à sombra dos salgueiros-pretos e que floresce entre o final do Verão e o Outubo, de Agosto a Outubro”, aponta. “É muito delgada e tem conjuntos de flores cor-de-rosa pálidas e conjuntos de frutos verdes e avermelhados, que nasta altura do ano também se conseguem ver. As folhas são inteiras, ou seja, não têm as margens recortadas ou serrilhadas.”

Quem encontrar exemplares desta espécie pode fotografá-los e registar essa observação no site do projecto, na plataforma BioDiversity4All. No entanto, a espécie não está espalhada por todo o país, sendo conhecida apenas numa parte do território. A equipa da SPBotânica sugere que se comece por procurá-la perto de linhas de água com salgueiros-pretos no Baixo Mondego e Vouga, ou em prados húmidos na zona raiana entre Nave de Haver e o Sabugal. “Há registos históricos nas proximidades de Lavadores (Vila Nova de Gaia), Eirol (Aveiro), Santa Luzia (Estarreja), matas de Foja (Figueira da Foz) e Vil de Matos (Coimbra)”, indica uma pequena nota de informação.

Possibilidade de nova espécie

Dos três lugares onde a escabiosa-dos-pauis foi recentemente identificada, dois encontram-se na área de distribuição histórica. Um é a Pateira de Fermentelos, no concelho de Águeda, onde o habitat está degradado e só foram encontradas seis plantas. Já a zona de Covões, no concelho de Cantanhede, foi mais promissora. As buscas já realizadas traduziram-se nalgumas centenas.

O terceiro lugar onde a escabiosa-dos-pauis foi registada é a povoação de Sabugal, localizada na zona raiana, concelho de Almeida, que foi uma surpresa para os cientistas: neste caso foi encontrada fora da área de distribuição histórica e a nascer em pastagens e não em prados húmidos – como sucede também em Espanha, o outro país onde a espécie é conhecida. Na Universidade de Coimbra, aliás, está em curso uma investigação para determinar se as escabiosas-dos-pauis encontradas em Covões e na Pateira de Fermentelos serão de uma espécie diferente das restantes.

Assim, os resultados desta iniciativa de ciência cidadã poderão ajudar a descobrir uma nova espécie, mas não só. As informações obtidas vão ajudar a definir medidas de conservação para a protecção desta planta, uma vez que os seus habitats típicos têm vindo a desaparecer. João Farminhão adianta que estas zonas húmidas têm sido drenadas para a criação de novas áreas agrícolas, como é o caso dos campos de arroz no Mondego, e também porque a drenagem de zonas como estas, antigamente associadas à presença da malária e de outras doenças, continua a ser uma tradição comum.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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