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28.000 voluntários ajudaram cientistas a estudar animais do Serengeti

10.06.2015

Cerca de 28.000 os voluntários catalogaram mais de um milhão de fotografias captadas por centenas de câmaras que cientistas espalharam pelo Parque Nacional do Serengeti. O estudo sobre todo o processo foi publicado ontem na Scientific Data, publicação online da revista Nature.

 

A equipa coordenada por Alexandra Swanson, da Universidade de Oxford e da Universidade do Minnesota, quis estudar a vida selvagem do Serengeti e usou duas tecnologias relativamente recentes: as câmaras fotográficas accionadas à distância e uma plataforma de ciência cidadã.

“Este é o maior censo com câmaras de controlo remoto realizado até ao momento para fins científicos”, disse Swanson, em comunicado.

A maioria dos estudos utiliza, normalmente, 20 a 30 câmaras. Já a equipa de Swanson espalhou 225 câmaras por mais de mil quilómetros quadrados no Parque Nacional do Serengeti, na Tanzânia.

 

Foto: Snapshot Serengeti
Foto: Snapshot Serengeti

 

“Queríamos estudar de que forma predadores e presas coexistem numa paisagem dinâmica”, explicou. Mas aquilo que Swanson depressa descobriu é que estava a ser inundada por dados. Por isso, ela e a colega Margaret Kosmala, da Universidade de Harvard, criaram uma parceria com a plataforma de ciência cidadã Zooniverse para conceber, implementar e lançar o Snapshot Serengeti.

As câmaras estiveram a funcionar continuamente desde 2010 e, até 2013, captaram 1.200.000 imagens.

Mais de 28.000 voluntários aceitaram o desafio e classificaram as imagens, identificaram espécies, contaram indivíduos e número de crias e caracterizaram comportamentos. Das 1.200.000 imagens captadas, 322.653 continham animais. No total foram registadas 40 espécies de mamíferos da savana africana.

 

Foto: Snapshot Serengeti
Foto: Snapshot Serengeti

 

 

O Snapshop Serengeti tinha várias categorias, incluindo uma para “Humanos” – fotografias tiradas aos investigadores e funcionários do parque durante a instalação e inspecções periódicas às câmaras – e uma de “selfies” – sempre que um animal aparece a olhar directamente para a câmara.

 

Foto: Snapshot Serengeti
Foto: Snapshot Serengeti

 

“Sem a ajuda dos voluntários, a investigação nunca teria sido possível”, disse Swanson, que se confessou surpreendida pela qualidade dos dados que recebeu. “Cada imagem foi vista por muitos voluntários e criámos um algoritmo para encontrar consensos na identificação.”

O estudo publicado ontem é não é um artigo de investigação tradicional mas antes descreve os dados e os métodos que permitiram criar uma base de dados consensual. “Ainda não falamos dos fantásticos resultados de ecologia (esses ainda só estão publicados na minha dissertação) mas falamos sobre todas as coisas maravilhosas que esperamos conseguir com esta base de dados”, diz Swanson no blogue do Snapshot Serengeti.

“Este projecto é um exemplo fantástico de como a ciência cidadã pode contribuir para a investigação científica”, disse a cientista. “Todos sabemos que as pessoas são boas em reconhecer padrões. Por isso, aproveitar o poder dos voluntários vai tornar-se cada vez mais importante para os estudos de ecologia. Podemos envolver pessoas sem bases científicas para ajudar a produzir investigação científica publicável a uma escala que de outra forma seria impossível.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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