PUB

rio
Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Um quarto dos animais de água doce estão em risco de extinção, alerta a UICN

08.01.2025

Pelo menos 24% dos peixes de água doce, libélulas, libelinhas, caranguejos, camarões e lagostins de todo o mundo têm um elevado risco de extinção, alerta a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Esta percentagem, publicada hoje num artigo da revista científica Nature, faz parte da maior avaliação mundial a estas espécies, feita por mais de mil peritos de todo o mundo e técnicos da UICN durante mais de 20 anos.

“A falta de dados sobre a biodiversidade de espécies de água doce deixou de poder ser usada como desculpa para a inação”, comentou, em comunicado, Catherine Sayer, responsável pelo grupo de água doce na UICN e primeira autora do artigo.

Habitats de água doce são a casa de 10% de todas as espécies conhecidas no planeta. Agora, este estudo descobriu que, pelo menos, 4,294 espécies de um total de 23,496 animais de água doce estão em risco de extinção na Lista Vermelha da UICN.

O maior número de espécies ameaçadas está no Lago Vitória, no Lago Titicaca, nas zonas húmidas do Sri Lanka e na região ocidental de Ghats, na Índia. Aqui vivem espécies únicas em todo o mundo.

Os sistemas subterrâneos de água doce têm, afinal, mais espécies ameaçadas do que o esperado. Por exemplo, a América do Norte alberga um elevado número de lagostins, como o lagostim Fallicambarus jeanae no Arkansas (classificado como Vulnerável na Lista Vermelha).

Lagos, oásis e fontes são hotspots para a extinção. Em 2020, 15 espécies de peixes do Lago Lanao, nas Filipinas, foram declaradas extintas na Lista Vermelha da UICN.

Dos grupos estudados, os lagostins, caranguejos e camarões são aquele que tem o risco de extinção mais elevado, com 30% das espécies ameaçadas, seguido dos peixes (26%) e das libélulas e libelinhas (16%).

A poluição, principalmente da agricultura e exploração florestal, traz impactos para mais de metade de todos os animais de água doce ameaçados. Mas esta não é a única ameaça. Há ainda a degradação dos habitats pela transformação do uso do solo para fins agrícolas, extracção de água e construção de barragens, que também bloqueiam as rotas de migração dos peixes. 

A sobre-pesca e a introdução de espécies exóticas invasoras têm tido um papel especialmente forte na extinção de animais. Por exemplo, a carpa Squalius palaciosi, vista pela última vez em 1999, foi declarada Extinta este ano por causa da perda de habitat ditada pela construção de barragens e açudes e pela introdução de espécies exóticas invasoras no Sul de Espanha.

O artigo científico descobriu também que, apesar de os animais de água doce ameaçados que foram estudados tenderem a viver nas mesmas áreas de anfíbios, aves, mamíferos e répteis ameaçados, enfrentam ameaças diferentes, por causa dos seus habitats tão específicos.

A UICN apela a esforços de conservação direccionados para travar a extinção destes animais.


PUB

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss