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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

UICN: há atuns que estão a conseguir recuperar mas 37% dos tubarões e raias estão em risco de extinção

06.09.2021

A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) tem hoje cerca de 37.500 espécies em perigo de extinção. Durante o Congresso Mundial da Natureza, em Marselha, foi revelada uma actualização para os estatutos de atuns, tubarões, raias e dragões de Komodo.

Hoje, a Lista Vermelha da UICN tem 134.425 espécies, das quais 37.480 estão em perigo de extinção.

Nesta actualização da Lista Vermelha, divulgada durante o Congresso Mundial da Natureza, a decorrer em Marselha de 3 a 11 de Setembro, foram reavaliadas as sete espécies de atum mais pescadas a nível comercial. Quatro delas mostram sinais de recuperação, graças a quotas de pesca mais sustentáveis e a uma luta mais eficaz contra a pesca ilegal.

O atum-rabilho (Thunnus thynnus) passou da categoria Em Perigo para a categoria Pouco Preocupante; o atum-rabilho-do-Sul (Thunnus maccoyii) passou de Criticamente Em Perigo para a categoria Em Perigo.

Tanto o atum-voador (Thunnus alalunga) como o atum-albacora (Thunnus albacares) passaram da categoria Quase Ameaçado para Pouco Preocupante.

“Esta actualização da Lista Vermelha da UICN é um sinal poderoso de que, apesar das crescentes pressões sobre os nossos oceanos, as espécies podem recuperar-se se os Estados se comprometerem, verdadeiramente, a implementar práticas sustentáveis”, comentou, em comunicado, Bruno Oberle, director-geral da UICN.

“Os Estados e outros actualmente reunidos no Congresso Mundial da Natureza da UICN em Marselha devem aproveitar esta oportunidade para reforçar as suas ambições em matéria de conservação da biodiversidade e trabalhar para objectivos vinculativos baseados em dados científicos sólidos.”

Mas, apesar das melhorias mundiais ao nível das espécies, muitas populações regionais de atum continuam gravemente ameaçadas e esgotadas. Por exemplo, enquanto que a maior população oriental de atum-vermelho-do-Atlântico, originária do Mediterrâneo, aumentou pelo menos 22% nos últimos 40 anos, a população mais pequena da espécie no Atlântico Ocidental, que se reproduz no Golfo do México, diminuiu em mais de metade durante o mesmo período.

Enquanto isso, o atum-albacora continua a ser alvo de sobre-pesca no Oceano Índico.

“Precisamos continuar a aplicar quotas de pesca sustentáveis e a tomar medidas energéticas contra a pesca ilegal”, acrescentou Bruce B. Collette, presidente do Grupo de Especialistas em Atuns da CSE-UICN. “As espécies de atuns migram ao longo de milhares de quilómetros, por isso coordenar a sua gestão a nível mundial também é crucial.”

O atum-vermelho-do-Pacífico (Thunnus orientalis) passou de Vulnerável a Quase Ameaçado nesta actualização, devido à disponibilidade de novos dados e modelos de avaliação de populações mais recentes. Esta espécie continua gravemente esgotada, a menos de 5% da sua biomassa original. Outras espécies de atuns avaliadas para esta actualização da Lista Vermelha incluem o atum-patudo (Thunnus obesus), que continua Vulnerável, e o atum-bonito (Katsuwonus pelamis), que continua na categoria Pouco Preocupante.

Esta nova actualização da Lista Vermelha da UICN também inclui uma reavaliação exaustiva das espécies de tubarões e raias do mundo, segundo a qual 37% estão em risco de extinção. Os peritos alertam para uma falta de medidas de gestão eficazes em grande parte dos oceanos do mundo.

As espécies ameaçadas de tubarões e de raias estão sobre-exploradas, enquanto que 31% também estão afectadas pela perda e degradação dos habitats e 10% pelas alterações climáticas.

O maior lagarto vivo do mundo, o dragão de Komodo (Varanus komodoensis) passou de Vulnerável a Em Perigo de extinção.

A espécie, endémica da Indonésia e que apenas ocorre no Parque Nacional de Komodo, declarado Património da Humanidade, e na vizinha ilha Flores, está cada vez mais ameaçado pelos impactos das alterações climáticas.

Espera-se que o aumento global das temperaturas e, consequentemente, do nível do mar, reduzam o habitat adequado à espécie em pelo menos 30% nos próximos 45 anos.

A sub-população do Parque Nacional de Komodo está estável e bem protegida. Mas os dragões de Komodo que vivem fora dessa área protegida, na ilha Flores, também estão ameaçados por uma perda significativa do seu habitat devido às actividades humanas em curso.

De 3 a 11 de Setembro, o Congresso Mundial da Conservação, organizado pela UICN na cidade francesa de Marselha, vai debater as medidas para recuperar e proteger as espécies e ecossistemas.

Entre os temas em debate estão a desflorestação, a floresta da Amazónia, a agroecologia, os oceanos e as alterações climáticas.

São mais de 1.400 as organizações que participam neste congresso, num total de 600 sessões.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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