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Foto: CRAS/UTAD

Tartaranhão-caçador: Ovos e crias de espécie em risco ficam à guarda da UTAD

10.01.2025

O acolhimento dos ovos e crias que forem resgatados no Norte e Centro de Portugal vai ser realizado pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Esta iniciativa faz parte das ações previstas pelo projeto LIFE SOS Pygargus, co-financiado por fundos europeus, que tem como objetivo travar o declínio acentuado das populações de tartaranhão-caçador (Circus pygargus). A espécie está atualmente Em Perigo de extinção, tanto em Portugal como em Espanha.

Esta ave de rapina migradora, também chamada de águia-caçadeira, passa os meses da primavera e do verão na Península Ibérica, vinda do continente africano. Faz habitualmente os seus ninhos no chão, em terrenos com culturas de cereais, onde está a ser ameaçada pelas colheitas precoces e pelas culturas forrageiras, que levam à destruição involuntária de ninhos, ovos e crias, explica um comunicado da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Macho de tartaranhão-caçador. Foto: Cks3976/Wiki Comuns

Como resultado, o número de tartaranhões-caçadores que nidificam em Portugal desceu de forma drástica: em 2022 e 2023, o primeiro censo nacional dirigido a esta espécie concluiu que a população portuguesa está atualmente estimada em 119-207 casais, tendo havido um declínio de 76 a 79% desde 2012.

“O CRAS, do Hospital Veterinário da UTAD, vai liderar a tarefa de incubação e criação em cativeiro dos ovos e/ou crias de tartaranhão-caçador resgatados. A conservação ex-situ que vamos desenvolver vai proteger esta espécie fora do seu habitat natural, para garantir a sua preservação, e prestaremos apoio veterinário a qualquer ave que seja encontrada ferida ou
debilitada”, afirma o diretor do Hospital Veterinário, Filipe Silva.

Até 2030, o LIFE SOS Pygargus tem como objetivos reduzir em 75% a mortalidade e aumentar em 50% o número de aves reprodutoras de tartaranhão-caçador, tanto em Portugal como no oeste de Espanha.

Para que isso aconteça, estão previstas campanhas de salvamento e resgate, mas também a adaptação das práticas agrícolas ao ciclo reprodutivo desta ave de rapina e a consciencialização pública sobre a importância da sua conservação. A partir de abril, altura em que esta espécie nidifica em Portugal, a UTAD vai reforçar as ações de educação ambiental dirigidas às escolas, indica a universidade transmontana.

Crias de tartaranhão-caçador no ninho. Foto: CRAS/UTAD

Agendada está também a monitorização do estado de saúde das populações do tartaranhão-caçador, com a participação desta universidade na recolha de amostras em algumas aves, que terão como destino a realização de análises toxicológicas e o despiste de doenças infeciosas.

“A equipa médico-veterinária do CRAS também fará aconselhamento aos técnicos de campo para que prestem os melhores cuidados às crias resgatadas e aos ovos” – acrescenta a UTAD – desde a sua eclosão até que as aves entretanto nascidas sejam libertadas e devolvidas à natureza.

Combatentes de pragas

A proteção do tartaranhão-caçador é considerada vital para os agricultores, uma vez que estas aves de rapina são conhecidas por ajudarem a eliminar pragas, uma vez que se alimentam de insetos, roedores e aves de pequeno porte. “Durante o período reprodutivo, um casal de tartaranhão-caçador é capaz de ingerir mais de 1000 animais prejudiciais às culturas agrícolas”, detalha a universidade transmontana.

Com um orçamento de quase 11 milhões de euros, o LIFE SOS Pygargus vai ter lugar em 49 zonas de proteção especial da Rede Natura 2000 e áreas adjacentes, tanto em Portugal como no oeste de Espanha, onde habitam a maior parte das populações de tartaranhão-caçador.

Coordenado pela ONG Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, o projeto teve início em 2024 e prolonga-se até 2030. Envolve um total de 17 parceiros ibéricos e pretende juntar agricultores, conservacionistas, investigadores e entidades governamentais para impedir que as populações desta ave desapareçam da Península Ibérica.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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