Helena Geraldes
A organização entregou ontem no Parlamento da Andaluzia 146.079 assinaturas de pessoas que pedem a suspensão da proposta de Lei para legalizar centenas de regadios na zona de Doñana, uma das zonas húmidas mais importantes da Europa.
A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) – ligada a Doñana desde as suas origens em 1954, através das primeiras campanhas científicas e de anilhagem – levou ao Parlamento a mensagem de 146.079 pessoas que dizem não à proposta de legalizar regadios em Doñana. A organização pede à Junta da Andaluzia que cumpra com a sua obrigação legal de proteger esta zona húmida.
A petição continua aberta para que os cidadãos possam manifestar o seu apoio na defesa deste espaço natural Património da Humanidade.
“Estamos a falar de um espaço que é Património da Humanidade como é o Alhambra de Granada”, comentou Carlos Davila, da SEO/Birdlife em Doñana. “A norma que defende o governo andaluz equivale a derrubar grande parte deste monumento histórico para, por exemplo, construir um centro comercial.”
A proposta de lei inicia o processo de legalização de 650 propriedades com poços, “ignorando os relatórios técnicos e científicos de todas as administrações ambientais nacionais; as recomendações da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), da Convenção de Ramsar (de zonas húmidas) e da UNESCO”, por exemplo, lembra a SEO/Birdlife.
A entrega das assinaturas foi acompanhada por uma carta dirigida ao presidente do Parlamento andaluz, na qual a SEO/Birdlife recorda que esta proposta de lei afecta negativamente as populações de aves de Doñana, critério fundamental para a sua declaração como Zona Húmida de importância internacional.
“Aquilo que se está a passar em Doñana é aplicável a outros espaços naturais do nosso país”, disse Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife. “Não podemos deixar que uma decisão que beneficia poucos ponha numa situação irreversível a agricultura e o turismo, além de implicar a perda de biodiversidade de uma das jóias naturais da Europa.”
“Precisamos viver num ambiente são, seguro e resiliente perante o cenário de emergência climática e de perda de biodiversidade no qual nos encontramos. Defender Doñana não é um capricho ecologista, defender Doñana é defender um interesse comum.”
Carlos Molina, técnico da SEO/Birdlife em Doñana, disse aquando da entrega das assinaturas, que “ainda estamos a tempo de chegar a consensos que garantam a conservação deste território emblemático e estamos abertos ao diálogo com todas as forças políticas para conseguir acordos que beneficiem tanto Doñana como as pessoas que lá vivem”.
A organização defende a necessidade urgente de uma mudança do modelo produtivo em redor de Doñana, assim como um plano de ordenamento e reestruturação do sector agrícola no espaço natural protegido.
