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Rewilding Portugal apresenta propostas para a recuperação da Serra da Estrela

06.09.2022
Veado (Cervus elaphus). Foto: Luc Viatour/WikiCommons

Depois dos incêndios que afectaram este Verão pelo menos 25 mil hectares na Serra da Estrela, a organização Rewilding Portugal apresentou às autarquias e Governo propostas de medidas de restauro ecológico urgentes e que evitem incêndios catastróficos no futuro.

A Rewilding Portugal pede “que se crie uma paisagem mais resiliente ao fogo, mais funcional do ponto de vista dos ecossistemas e mais biodiversa e abundante em fauna e flora”, segundo um comunicado enviado à Wilder.

Para isso será crucial a “elaboração de uma proposta séria e realista para a recuperação ambiental do Parque Natural da Serra da Estrela”, que reúna “todas a partes interessadas no território e a nível nacional”. Segundo a organização, esta “deve ser encarada como uma oportunidade de repensar o futuro do Parque Natural da Serra da Estrela para os próximos 100 anos”.

Foto: Rewilding Portugal

“Os incêndios estivais deste ano foram de uma gravidade sem precedentes e tiveram severos impactos nos ecossistemas da serra, o que levará a uma perda substancial do capital natural da região, se nada for feito de imediato e com uma visão a longo prazo.”

A proposta da Rewilding Portugal foi enviada a todas as câmaras municipais da Serra da Estrela, ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Entre as medidas para curto prazo (antes do final de 2022) estão o corte e disposição de madeira morta para construção de paliçadas de prevenção de erosão, nomeadamente em zonas de maior declive; a realização de sementeiras de emergência para prevenir a erosão dos solos e preservar a fauna sobrevivente; intervir nas linhas de água afetadas para estimular o crescimento de vegetação ripícola e acelerar a recuperação destes ecossistemas; e ainda melhorar a captação de água na paisagem como prevenção a futuros incêndios com a construção de pequenas charcas e zonas de alagamento na paisagem.

Foto: Rewilding Portugal

A Rewilding Portugal sugere como medidas para médio e longo prazo prazo (a partir de 2023) a manutenção e ampliação da rede de prevenção de incêndios através do aumento de herbivoria e reintrodução de espécies-chave de herbívoros selvagens e semisselvagens – nomeadamente cavalos (por exemplo de raça Garrana), veado e cabra-montesa e ainda incrementar o número de corços -; e a criação de um Plano Integral de Gestão Florestal para a Serra da Estrela para a próxima década. Este deverá ter as alterações climáticas, assegurando a continuidade da sucessão florestal para que esta possa recuperar e tornar-se novamente numa área de elevado valor natural em Portugal.

Por último, a Rewilding Portugal desaconselha “campanhas de plantação de árvores (a taxa de insucesso destas árvores vindas de viveiros e maioritariamente com crescimento lento é altamente elevada e não há acompanhamento a longo prazo, necessário para que resulte, nomeadamente pinheiros e pseudotsugas (género de conífera), sendo que mesmo as árvores autóctones devem ser plantadas apenas em áreas em que o banco de sementes esteja demasiado empobrecido e que a dispersão natural possa ser mais demorada); e a construção de barragens (estas estruturas têm impactos negativos ambientais, implicam grandes alterações da paisagem e estão dependentes de fluxos de água constante para as abastecer)”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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