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Solo árido. Foto: Luis Iranzo Navarro/Pixabay

Rede Natura ajuda a reduzir degradação do solo em Espanha, mas…

06.03.2025

Os solos estão mais saudáveis dentro dos espaços da Rede Natura 2000 em comparação com outros locais sem protecção, revela um novo estudo do Conselho espanhol Superior de Investigações Científicas (CSIC). Mas esta eficácia não é igual em todos os locais.

Investigadores do Museu Nacional de Ciências Naturais em Madrid (MNCN) e da Estação Experimental de Zonas Áridas (EEZA), ambos do CSIC, analisaram 596 amostras de solos recolhidas em Sítios de Importância Comunitária da Rede Natura 2000 na Península Ibérica. O objectivo foi avaliar a eficácia da Rede Natura na conservação do coberto terrestre.

A análise, realizada mediante o índice de severidade relativa normalizada (SER), permitiu quantificar o estado do solo e comparar áreas protegidas com aquelas que não o estão.

Concluíram num artigo publicado na revista científica Land, que nesta rede de espaços protegidos, criada para travar o declínio da biodiversidade, os solos estão em melhor estado em comparação com outros locais sem protecção.

Ainda assim, o estudo revelou que esta eficácia não é igual em todas as regiões. Em Espanha há comunidades autonómicas que têm pontuações muito baixas do índice SER em alguns locais. E dão exemplos. A Rede Natura 2000 é muito mais eficaz na Região de Múrcia ou La Rioja do que nas Astúrias ou na Andaluzia.

E na Galiza, Astúrias e Cantábria, as condições do solo fora da Rede mostram, em alguns casos, uma melhor condição.

“A Península Ibérica é um território diverso e, por isso, as estratégias de conservação devem adaptar-se às particularidades e ameaças de cada comunidade autónoma”, escrevem os investigadores em comunicado.

O investigador do MNCN, Mario Mingarro, comentou que, “sem dúvida, a Rede Natura 2000 desempenha um papel chave na conservação do solo e na protecção da biodiversidade. Mas, para garantir a eficácia das suas medidas, é essencial que a gestão considere as especificidades de cada região”.

Por isso, esta investigação propõe várias acções, como o restauro ecológico em zonas degradadas do Mediterrâneo, a gestão sustentável das pastagens no Norte e o fortalecimento de práticas agro-ambientais.

Os investigadores chamam a atenção para a necessidade de se promover a gestão sustentável e de carácter conservacionista nos territórios não protegidos, sob pena de afectar negativamente a eficácia da Rede Natura 2000.

“É crucial reconhecer que a gestão nas áreas protegidas deve responder às ameaças ambientais específicas de cada região”, comentou Mingarro. “Por exemplo, na zona mediterrânea, a degradação do território é mais pronunciada devido a factores como a aridez extrema e à maior pressão humana.”

A metodologia usada neste estudo, chamada 2dRUE e desenvolvida pela EEZA-CSIC, mede variáveis como a precipitação e aridez e ontem como resultado o estado no qual se encontra o solo em relação ao estado de referência que deveria ter.

A 2dRUE usa dados públicos como as imagens de satélite e as medições das estações meteorológicas que, trabalhadas por um complexo programa de computador, oferece mapas sobre a degradação da terra. Assim é possível compreender como os estados dos solos – em termos de fluxo de energia através dos ecossistemas – estão longe ou perto do estado de referência.

O primeiro ensaio desta metodologia foi realizado na Península Ibérica e entretanto já foi adoptado pelos Governos espanhol e português para vigiar e melhorar a condição dos ecossistemas. Também já foi usado no Magreb, Sahel, Moçambique e Nordeste brasileiro e está a ser usado na China, tendo sido incluído no atlas mundial da desertificação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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