Director do CIBIO-InBIO considera que a presença do urso-pardo em Portugal “é um sinal de esperança extraordinário” e mais uma prova do rewilding natural.
Na mesma semana em que as Nações Unidas divulgaram um relatório alarmante, segundo o qual um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção, soubemos que foi confirmada a presença de um urso-pardo em Portugal, pela primeira vez desde 1843.
“É algo absolutamente extraordinário (…), um ganho enorme em termos de conservação da biodiversidade na Europa”, disse hoje à Wilder Nuno Ferrand de Almeida, director do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.
Apesar de a Europa ter territórios já muito alterados por séculos de actividades humanas, há evidências de que há espécies selvagens que estão a reconquistar territórios.
Graças a projectos de conservação ou de forma natural, há populações de ursos, lobos, linces, abutres e águias que hoje estão estáveis ou mesmo em expansão.
Portugal assistiu nas últimas décadas ao regresso de grandes espécies como a cabra-brava, o lince-ibérico ou o abutre-preto. Estas e outras estão a lutar pela sobrevivência.
“É extraordinário termos a possibilidade de, num curto espaço de tempo, das nossas vidas, assistir a tudo isto”, comentou Nuno Ferrand de Almeida. “Toda a evidência que temos está suportada em factos. Há grandes espécies, como o lobo e o urso, em processos de expansão populacional.”
O urso-pardo localizado no Parque Natural de Montesinho é um “embaixador” dos processos de rewilding natural. “Sabemos que o rewilding natural está em curso. Mas nunca pensei que fosse tão depressa”, acrescentou o investigador do CIBIO-InBIO, instituição que recentemente viu aprovadas pela Comissão Europeia duas candidaturas, num financiamento global que se estima entre os 130 e os 150 milhões de euros, para promover a investigação na área da Biodiversidade.
Nuno Ferrand de Almeida acredita que “a Ciência tem um papel fundamental” neste cenário de regresso dos grandes animais.
“O mundo mudou. Hoje temos acesso a tecnologia – como emissores e marcadores moleculares, por exemplo – que nos permite monitorizar os animais em tempo real, perceber como se estão a expandir, quais as barreiras que enfrentam, saber qual a sua filiação, como usam as rotas de dispersão e o habitat e ainda como são afectados pelas alterações globais”, explicou.
Actualmente, várias espécies estão a ser acompanhadas graças a emissores por satélite, como os abutres-do-egipto, a espécie de abutre mais pequena da Europa e com estatuto de Em Perigo de extinção, e os abutres-pretos, espécie Criticamente Em Perigo.
Outras, como o lobo-ibérico, estão a ser estudadas como nunca, graças à investigação genética, que recorre a análises de ADN.
Além disso, “estamos na era da informação e as pessoas estão mais informadas e sensibilizadas”, acrescentou o investigador. “Também por isso, o papel da Ciência é hoje muitíssimo mais importante do que era dantes.”