Seis investigadores portugueses estão a bordo de um navio de investigação para explorar o mar profundo na área do monte submarino Gorringe, a maior montanha submarina portuguesa e europeia.
O mar profundo representa 98% da Zona Económica Exclusiva Portuguesa.
Para tentar descobrir um pouco mais sobre esta zona do oceano, nove investigadores – entre eles seis do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) – estão a bordo do navio de investigação do NIOZ RV Pelagia – do Royal Netherlands Institute for Sea Research (NIOZ) – para explorar o banco submarino Gorringe, a maior montanha submarinha portuguesa.
A campanha a bordo do navio de investigação do NIOZ partiu do porto de Las Palmas para Banco do Gorringe a 3 de junho e terminará no Terminal do porto de Leixões a 16 de junho, antes de regressar à sua base no NIOZ, nos Países Baixos.
O veículo subaquático operado remotamente (ROV) a ser utilizado na campanha será o ROV Luso, um ROV português da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental – EMEPC.
Esta expedição faz parte do projeto TwinDEEPS, cujo principal objetivo é alavancar a capacidade de investigação de Portugal na área da exploração e observação em mar profundo. Fazem parte do TwinDEEPS o CIIMAR e três centros de excelência na Noruega (IMR), Países Baixos (NIOZ) e Alemanha (AWI).
As cientistas chefe nesta campanha são Joana Xavier do CIIMAR e Furu Mienis do NIOZ. Esta expedição tem como principais objetivos “mapear e caracterizar a biodiversidade, quer do fundo marinho, quer da coluna de água, e recolher informação ambiental que nos permita melhor compreender o funcionamento deste grande ecossistema e dos seus diferentes habitats” explicou, em comunicado, Furu Mienis.
Durante a campanha será possível documentar a presença, distribuição e comportamento de espécies de megafauna como baleias, aves e tartarugas marinhas, avaliar diversidade de comunidades microbianas na coluna de água, caracterizar a sua estrutura físico-química e a disponibilidade de nutrientes, e avaliar a extensão do impacto humano no Gorringe incluindo o impacto do lixo marinho e de contaminantes emergentes.
“Nos últimos anos houve um grande esforço por parte da comunidade científica para estudar este banco submarino”, salientou Joana Xavier, coordenadora do projeto TwinDEEPS. “Esta campanha vem complementar esse trabalho focando-se nas zonas mais profundas do Gorringe (entre os 500 e os 3000 metros de profundidade) implementando uma abordagem multidisciplinar que recorrerá à mais avançada tecnologia de exploração e observação oceânica dos dois países.”
Todos os dados e amostras serão tornados públicos e disponibilizados às autoridades nacionais com competências na gestão e conservação da biodiversidade marinha. Entre estas, destaca-se o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que está a desenvolver o plano de gestão desta Zona Especial de Conservação integrada na Rede Natura 2000. “Esperamos que os dados e o conhecimento gerados no âmbito desta campanha venham apoiar esse processo e com isso contribuir para a proteção deste “hotspot” de biodiversidade, de valor natural excecional no Norte Atlântico” comentou Joana Xavier.
Situado a cerca de 240 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente, o Banco Gorringe é uma impressionante cadeia montanhosa submersa que se estende por cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 de largura.
Esta estrutura eleva-se do fundo oceânico, a cerca de 5.000 metros de profundidade, até atingir um planalto situado entre os 200 e os 300 metros com os montes Gettysburg e Ormonde, a aproximarem-se significativamente da superfície, a apenas 60 e 25 metros, respetivamente.
O banco submarino do Gorringe é reconhecido como um oásis de biodiversidade marinha, habitat ideal para várias espécies se alimentarem e reproduzirem. Entre eles contam-se jardins de esponjas e corais, peixes, mamíferos e aves marinhas.