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Foto: Virvoreanu Laurentius/Pixabay

Natureza: Quercus escolhe o pior e o melhor de 2023

28.12.2023

Agora que o ano de 2023 se aproxima a passos largos do fim, a associação Quercus olha para trás e escolhe o que de pior e de melhor aconteceu. Além disso diz o que espera de 2024.

Entre os piores factos ambientais de 2023 está o abate de árvores, nomeadamente espécies protegidas como o sobreiro, em nome da transição energética. “Continuamos ainda a assistir no nosso país ao avanço de unidades centralizadas de produção fotovoltaica e outras infraestruturas, como o parque eólico de Morgavel – Sines, sem uma avaliação de alternativas de localização, colocando assim em causa muitos milhares de árvores”, segundo um comunicado da Quercus enviado à Wilder.

A associação escolheu também o grande incêndio no concelho de Odemira, em Agosto, como uma das piores coisas que aconteceram ao Ambiente em 2023. O fogo destruiu mais de oito mil hectares e “afetou diversos habitats classificados da Zona Especial de Conservação de Monchique da Rede Natura 2000 e uma parte da área protegida Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina”.

Na lista do pior de 2023, a Quercus inclui ainda a aprovação do herbicida Glifosato por mais 10 anos pela Comissão Europeia.

Quanto ao que de melhor aconteceu neste ano que está quase a terminar, a associação escolheu, por exemplo, a criação de mais áreas marinhas protegidas. A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores aprovou a revisão da legislação em vigor, desde 2011, referente ao Parque Marinho dos Açores. Para a Quercus, este é “um passo importante para o objetivo da proteção de 30% do mar dos Açores, dos quais 15% para interdição total de atividades extrativas”, algo “fundamental para a proteção e recuperação da biodiversidade marinha”.

Lembra ainda a aprovação pelo Governo da criação do Parque Natural Marinho do Recife do Algarve – Pedra do Valado, uma área marinha com 156 km2 e que abrange a costa de Albufeira, Lagoa e Silves.
“Foi uma grande vitória ambiental, após a Consulta Pública deste ano, que terminou no dia 4 de agosto. Alguns dos objetivos de classificação desta área como Parque Natural são: salvaguardar e recuperar de forma eficaz os valores naturais e a saúde dos ecossistemas existentes, sobretudo os mais sensíveis; promover a pequena pesca das comunidades locais de forma sustentável; e garantir a sustentabilidade das atividades marítimo-turísticas e recreativas.”

Nesta lista de coisas boas de 2023, a Quercus inclui também a criação, em Novembro, da Aliança Europeia para a Agricultura Regenerativa – iniciativa que quer promover a produção de alimentos saudáveis e acessíveis a todos ao mesmo tempo que se recupera o capital natural, em particular a fertilidade do solo e o ciclo hidrológico.

Outro facto ambiental positivo foi a Declaração de Impacto Ambiental desfavorável ao projecto da central fotovoltaica de Estoi, Algarve, que ” implicava a destruição de 154 hectares do barrocal algarvio, com a instalação de 175.798 painéis fotovoltaicos”. “Este resultado após a consulta pública é um importante sinal para melhor ponderação dos investimentos no processo da transição energética, considerando a necessária proteção dos valores ecológicos”, entende a associação.

Para o próximo ano de 2024, a Quercus espera uma “melhoria das políticas de conservação e restauro dos ecossistemas, mediante a actualização do conhecimento científico das populações da fauna divulgada em 2023”.

A associação refere-se à publicação do primeiro Livro Vermelho dos Invertebrados de Portugal Continental (que abrange 200 espécies ameaçadas), a actualização do Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental – que revela que um terço das espécies de mamíferos em Portugal está ameaçado e apresenta 14 novas espécies para Portugal Continental -, o III Atlas das Aves Nidificantes e a Lista Vermelha das Aves, que revela que uma em cada três populações de aves portuguesas está ameaçada de extinção.

“O conhecimento dos valores naturais é uma base fundamental para a sua gestão e conservação e a necessárias adaptações das políticas públicas e práticas no terreno de modo a serem alcançados os objetivos de recuperação da biodiversidade.”


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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