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Foto: Helena Geraldes/Wilder

Musgos têm papel essencial na recuperação de solos queimados

21.10.2019

Investigadores da Universidade de Aveiro quantificaram, pela primeira vez em Portugal, o papel ecológico dos musgos na conservação do solo após incêndios florestais.

Em Portugal conhecem-se mais de 700 espécies de musgos. São plantas únicas e florestas em miniatura que aquecem e dão abrigo aos pequenos insectos que neles se refugiam do frio rigoroso e dos predadores. Vários animais usam-no ainda para forrar os seus ninhos e tocas.

Mas não se esgota aqui a importância dos musgos. Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) provou que estes têm um papel fundamental na conservação do solo afectado por um incêndio florestal.

Os investigadores Flávio Silva, Diana Vieira e Jacob Keizer. Foto: Universidade de Aveiro

Os investigadores concluíram que “os musgos previnem a erosão em áreas ardidas, ajudando a consolidar a estrutura dos solos, a reter a sua humidade e a conservar a sua fertilidade”, segundo um comunicado da UA enviado hoje à Wilder.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas monitorizaram durante um ano uma encosta com plantações de eucaliptos que tinha ardido, na região Centro de Portugal. Logo nas primeiras semanas após a passagem do fogo, os musgos começaram a colonizar a encosta, espontaneamente.

“Os musgos são espécies pioneiras em solos recentemente ardidos, embora a sua proliferação dependa de condições ambientais específicas”, explicou Flávio Silva, investigador e autor do trabalho, a par com os investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA Diana Vieira e Jacob Keizer, e de Els van der Spek, da Universidade de Wageningen (Holanda).

Cogumelos, musgo, floresta. Foto: Andreas/Pixabay

Os investigadores quantificaram a erosão do solo – pela escorrência superficial causada pela chuva e perda de sedimentos e de matéria orgânica – em parcelas com diferentes graus de cobertura de musgo.

O estudo, publicado na revista Ecological Engineering, concluiu que o desenvolvimento de uma cobertura anual média com 67% de musgos permitiu reduzir a erosão anual em 65% (de 1.150 para 400 quilogramas de solo por hectare).

Flávio Silva sublinhou que “os musgos podem ser encarados como ‘engenheiros’ de ecossistema naturais que constituem o primeiro passo para a preservação da fertilidade dos solos, proporcionando todas as condições para o desenvolvimento da biodiversidade subsequente”.

Investigadores pedem a promoção dos musgos

O solo é um recurso não renovável e um “compartimento ecológico estratégico”, lembrou Flávio Silva. A atestar a sua importância está a necessidade da sua conservação, uma prioridade nas políticas europeias.

Este estudo, realizado no âmbito do projeto RECARE, defende a estimulação do desenvolvimento de musgos em áreas ardidas, enquanto instrumento de gestão de solos após incêndios florestais. 

Foto: Universidade de Aveiro

“Os musgos são espécies vegetais cosmopolitas e desenvolvem-se muito bem em solos pobres, e por isso a sua proliferação é fácil e rápida, requerendo apenas alguma humidade e luz solar baixa ou moderada”, explicou o investigador.

“Como são tolerantes a contextos de seca extrema, embora pareçam mortos quando sujeitos ao calor, basta alguma humidade para que se reabilitem, e os esporos também continuam viáveis.”

Os investigadores aconselham a primeiro identificar as áreas mais críticas sujeitas a erosão e depois fazer a aplicação da sementeira apenas nessas áreas, incluindo esporos de musgos ou fragmentos triturados de musgo seco nos lotes de misturas de sementes normalmente usadas em medidas de estabilização de emergência pós-incêndio.

“Como os musgos se desenvolvem rapidamente, eles retêm o solo e a humidade necessários para o desenvolvimento posterior de plantas vasculares”, explicou ainda o comunicado.


Saiba mais.

Conheça estes cinco factos fascinantes sobre a relação entre os musgos e as árvores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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