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Miguel Bastos Araújo na zona do Vale do Côa, onde atualmente decorrem projetos de rewilding. Foto: João Cosme

Miguel B. Araújo distinguido com prémio da Sociedade Britânica de Ecologia

06.09.2024

Miguel Bastos Araújo, biogeógrafo português a trabalhar como investigador na Universidade de Évora e no Museu Nacional de História Natural, em Madrid, venceu o prémio Marsh Award para a investigação em alterações climáticas, atribuído pela Sociedade Britânica de Ecologia, foi anunciado a 4 de Setembro.

Aquela Sociedade, fundada em 1913, atribui esta distinção a um investigador que tenha feito uma “contribuição marcante no estudo das alterações climáticas”, explicou em comunicado.

Miguel Bastos Araújo na zona do Vale do Côa, onde atualmente decorrem projetos de rewilding. Foto: João Cosme

Miguel Bastos Araújo, Titular da Cátedra Rui Nabeiro – Biodiversidade da Universidade de Évora, dedica-se a compreender a distribuição espacial e temporal da vida e as razões subjacentes a estes padrões. Para isso, utiliza abordagens baseadas em dados e em modelos, explorando a forma como o clima influencia a distribuição das espécies e as propriedades emergentes dos conjuntos de espécies.

“Destaca-se pela forma como o seu trabalho científico integra dimensões espaciais e temporais, com um enfoque principal nos impactos das alterações climáticas passadas, presentes e futuras nos sistemas biológicos da Terra”, segundo a Universidade de Évora.

Em 2018 recebeu o Prémio Pessoa pelo seu trabalho sobre alterações climáticas e biodiversidade.

“Sinto-me honrado por ter recebido vários prémios nacionais e internacionais de prestígio ao longo da minha carreira. No entanto, dado que realizei a maior parte da minha formação académica na Grã-Bretanha, ser reconhecido pela British Ecological Society pela minha investigação tem um significado especial para mim”, comentou Miguel Bastos Araújo.

Este investigador explicou que a sua investigação “é mais conhecida pelo desenvolvimento de modelos de distribuição de espécies, que assumem que as espécies respondem a fatores ambientais, como o clima, de uma forma individualista”. “Estes modelos baseiam-se na premissa de que, embora as interações bióticas influenciem a ocorrência e a coexistência de espécies a nível local, o seu impacto macroecológico é mínimo quando comparado com os principais fatores ambientais. Recentemente, começámos a investigar as interações bióticas de uma perspetiva diferente. Em vez de nos concentrarmos na forma como estas interações podem afetar a distribuição de espécies individuais, estamos a examinar a forma como as interações bióticas são influenciadas pelo ambiente. Por exemplo, se o clima influencia os tipos de interações bióticas num determinado local, podemos mudar o foco das nossas previsões e abordar uma questão muito mais importante. Em vez de prever como as espécies respondem às alterações ambientais, o nosso objetivo é prever como as alterações ambientais irão alterar a composição e a função dos conjuntos de espécies.”

Miguel Bastos Araújo. Foto: José Santos

Em meados de Agosto, Miguel Bastos Araújo foi o primeiro autor de um estudo na revista científica Current Biology segundo o qual quase 25% da Europa (correspondendo a 117 milhões de hectares) tem boas condições para projetos de rewilding.

O Prémio será formalmente atribuído a Miguel Bastos Araújo na Reunião Anual da Sociedade Britânica de Ecologia que decorrerá de 10 a 13 de Dezembro, no Centro de Convenções de Liverpool (Inglaterra). 

Fundada em 1913, a Sociedade Britânica de Ecologia é a mais antiga sociedade dedicada à ecologia em todo o mundo. Esta organização promove o estudo da ecologia através de seis revistas científicas, de conferências, bolsas e iniciativas educativas. Actualmente tem 7.000 membros de mais de 120 países.

Todos os anos distingue nove ecologistas que se destacaram e cujo trabalho beneficiou a comunidade científica e a sociedade em geral.

Este ano, além de Miguel Bastos Araújo, foram premiados Tim Clutton-Brock (Universidade de Cambridge), Josephine Pemberton (Universidade de Edimburgo), Tom Ezard (Universidade de Southampton), Nathalie Seddon (Universidade de Oxford), Maria Fungomeli (National Museums of Kenya), James Stroud (Georgia Tech), Patrick Kirwan (Ardscoil na Mara School and the Irish Schools Sustainability Network) e Tatsuya Amano e o projecto translatE (Universidade de Queensland).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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