Um total de 500 elefantes serão levados de duas áreas protegidas “sobrelotadas” para uma outra área protegida, tudo no Malawi, pequeno país no Sul de África. É uma das maiores migrações “humanamente assistidas” de elefantes de sempre e o objectivo é preservar a espécie. Os primeiros 250 animais começaram a ser transferidos este mês; os restantes seguirão viagem em 2017.
Esta iniciativa é coordenada pela African Parks, grupo de conservação sem fins lucrativos com sede em Joanesburgo, em colaboração com o Departamento governamental de Parques Naturais e Vida Selvagem do Malawi.
O objectivo é aliviar a pressão do Parque Nacional de Liwonde e da Reserva de Vida Selvagem de Majete e restabelecer a biodiversidade da Reserva de Vida Selvagem de Nkhotakota. Nestas três áreas vive 90% da população de elefantes do Malawi. Segundo a African Parks, este é um país densamente povoado e não existem corredores ecológicos que permitam a migração natural dos animais.
Os primeiros 250 elefantes começaram a ser transferidos a 3 de Julho de Liwonde – reserva com 548 quilómetros quadrados onde vive a maior população de elefantes do país, cerca de 800 – para Nkhotakota. Esta operação vai durar até meados de Agosto.
O segundo grupo de 250 animais serão transferidos de Majete – reserva com 700 quilómetros quadrados e onde vivem 400 elefantes – para Nkhotakota em Julho e Agosto de 2017.
Em apenas uma semana, 92 elefantes foram capturados com sucesso de Liwonde, depois de terem sido adormecidos por dardos tranquilizantes. Depois foram transportados 450 quilómetros em camiões, e libertados em Nkhotakota. Do grupo fazem parte machos, fêmeas e crias.
“Esta deslocação é uma operação muito especializada e um imenso desafio logístico”, comentou Peter Fearnhead, director da organização, em comunicado. “Mas conseguimos reunir a melhor equipa de peritos possível para o conseguir.”
Para trás ficaram nove meses de preparação, incluindo a criação de uma rede de estradas, a vedação de um perímetro em Liwonde e Nkhotakota, a criação de um santuário dentro de Nkhotakota para os elefantes que estão a ser libertados e a contratação de centenas de funcionários locais para ajudar a montar esta operação.
Os animais serão levados de duas áreas protegidas onde se assiste a uma crescente degradação do habitat, à diminuição dos recursos disponíveis, tendo em conta a quantidade de elefantes existentes, e a um número crescente de conflitos com as comunidades locais, explica a organização em comunicado.
Por outro lado, Nkhotakota, com 1.800 quilómetros quadrados, vivem menos de 100 elefantes. Há 20 anos, esta reserva chegou a ter mais de 1.500 elefantes mas a degradação e a caça furtiva fizeram diminuir drasticamente a sua população destes animais.
“Os elefantes são animais extremamente ameaçados. Os mais de 10 milhões que percorriam o continente há 100 anos reduzem-se a menos de 450 mil atualmente”, escreve em comunicado a African Parks, organização responsável pela gestão de 10 parques naturais de vários países africanos, desde a Zâmbia ao Chade. “Não só a perda e fragmentação dos seus habitats causadora de conflitos humanos com a vida selvagem, mas também a comercialização ilegal do marfim têm justificado a queda a pique das suas populações.”
“Um projeto desta escala é logisticamente desafiador e exige uma capacidade substancial. O que esta iniciativa demonstra é que a escala não tem que ser uma limitação. Aparentemente podem ser tomadas medidas extremas para aliviar parques sobrelotados, para reabastecer novos parques, e para realojar animais provenientes de áreas não protegidas para áreas protegidas”, garante African Parks à revista National Geographic.
Este texto foi editado por Helena Geraldes