Investigadores da Universidade de Évora estão a estudar as pradarias marinhas do estuário do rio Mira com recurso a drones. Entretanto já descobriram que estes habitats estão em declínio.
Desde 2022 que Helena Adão, investigadora no Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE), da Universidade de Évora (UÉ) e Pedro Nogueira, investigador do Instituto de Ciências da Terra (ICT), da mesma universidade têm estado a fazer um estudo de cartografia detalhada das pradarias marinhas do estuário do rio Mira.
O Mira nasce no concelho de Almodôvar, na Serra do Caldeirão, e percorre cerca de 130 quilómetros até desaguar no oceano junto a Vila Nova de Milfontes, num estuário com cerca de 30 quilómetros de comprimento.
Segundo um comunicado divulgado no final de Abril pela Universidade de Évora, os resultados dos trabalhos de monitorização com drones confirmam o que os investigadores já suspeitavam. “Existe um retrocesso da recuperação natural deste habitat no estuário do Mira” revela, em comunicado, Helena Adão.
Recorrendo a drones equipados com câmara multispectral, os investigadores estudam a dinâmica do povoamento destes ecossistemas sensíveis no rio Mira para “detetar a evolução da sua distribuição espacial atendendo à perda generalizada destes habitats para obter conhecimento essencial e compreender a recuperação natural destes habitats” acrescentou a investigadora.
Em Portugal existem três espécies de ervas marinhas: Zostera noltii, Zostera marina e Cymodocea nodosa. No estuário do rio Mira existiam as duas primeiras. Mas agora já só lá ocorre a Zostera noltii.
A investigadora explica que a Zostera noltii é a espécie de planta que forma as pradarias marinhas do estuário do Mira mas até aos anos 90 do século XX existiam também as pradarias marinhas da espécie Zostera marina “que hoje já não se observa”.
Helena Adão recordou que a perda generalizada destes habitats foi igualmente registada noutras partes do mundo “e em Portugal não é exceção”.
Pedro Nogueira salientou a importância da cartografia detalhada das pradarias marinhas já que se tratam de “ecossistemas naturais com elevado valor”. “São viveiros naturais de numerosas espécies de elevada importância, o que se traduz em enormes benefícios sócio-económicos para as populações piscatórias que tradicionalmente vivem da apanha de marisco e da pesca”.
Além disso, estes habitats são cruciais para muitas espécies de invertebrados e de peixes e “funcionam como filtros biológicos de nutrientes e poluentes, oxigenam as águas e os sedimentos, tendo um papel fundamental no controle da erosão costeira e no sequestro do carbono” acrescentou Helena Adão.
Por isso, estes ecossistemas costeiros “são considerados dos mais valiosos do mundo, ultrapassando as florestas tropicais em termos de serviços ecológicos fornecidos”.
Os investigadores acreditam que os trabalhos de investigação nas pradarias marinhas do estuário do Mira podem ajudar a “impulsionar esforços internacionais para proteger e restaurar esses valiosos habitats”.