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Dryadobates lutzi. Foto: Omar Rojas Padilla

Investigadores descobrem novo género de sapinhos com pelo menos 12 espécies, três já extintas

18.07.2025

Afinal a rã-foguete que vive na Mata Atlântica, no Brasil, não é uma espécie mas sim um género, Dryadobates, com pelo menos 12 espécies diferentes, três das quais já extintas, descobriu uma equipa de investigadores.

O estudo, publicado em Maio na revista Bulletin of the American Museum of Natural History, descreveu um novo género de sapinhos, Dryadobates, – conhecidos como rã-foguete -, a partir do que se conhecia como apenas uma espécie, o Allobates olfersioides. Esta foi descrita há um século por Adolpho Lutz (1855-1940) que fazia estudos de História Natural.

Dryadobates lutzi. Foto: Omar Rojas Padilla

Para o conseguir, a equipa liderada por investigadores da Universidade de São Paulo, Brasil, extraiu material genético de animais guardados há 100 anos nas coleções de museus de história natural – preservados em álcool ou formol – e de animais a viver na natureza.

Depois de compararem partes do genoma dos anfíbios de museu com o de animais a viver em vários locais da Mata Atlântica, os investigadores concluíram que o que era considerada uma única espécie amplamente distribuída na Mata Atlântica é, na verdade, um género com pelo menos 12 espécies diferentes. A equipa acredita mesmo que possam chegar às 16 espécies.

Os sapinhos guardados nas coleções de História Natural pertencem a quatro espécies, sendo que três destas já se terão extinguido: Dryadobates capixaba, a Dryadobates carioca e a Dryadobates olfersioides. As outras oito vivem nos estados brasileiros do Espírito Santo e da Bahia.

“Este é um trabalho que revela ao mesmo tempo uma diversidade oculta e extinções ocultas”, comentou Tarant Grant, professor do Instituto de Biociências (IB-USP) que coordenou o estudo à agência FAPESP. “É maravilhoso que possamos conhecer melhor as espécies com este nível de detalhe mas também é muito triste saber que outras já tenham sido perdidas  sem sequer termos sabido.”

Dryadobates bokermanni. Foto: Tarant Grant

“O facto de serem várias espécies e não uma amplamente distribuída muda tudo”, acrescentou Tarant Grant. “Como a Mata Atlântica é bastante fragmentada e muito susceptível à perda de habitat, cada espécie pode estar a enfrentar diferentes problemas, o que exige acções particulares para cada uma”, alertou.

Este investigador salientou que “o facto de 25% das espécies conhecidas deste género se terem extinguido nos últimos 50 anos é alarmante” e sugere que todas as espécies devem ser “cuidadosamente monitorizadas”.

De momento está a ser feito trabalho de campo para recolher e classificar todas as espécies deste género. Ainda há grandes áreas de Mata Atlântica no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia que ainda não foram amostradas pelos investigadores e por isso a equipa acredita que existam possibilidades de descreverem novas espécies deste género.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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