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Foto: Joana Bourgard

Investigadoras de moluscos, rios e áreas protegidas ganham prémio de Ecologia

17.07.2024

Martina Panisi, Ana Paula Senra Portela e Joana Pereira foram as galardoadas com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2024 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, foi hoje revelado.

No seu oitavo ano, estes prémios pretendem “valorizar o trabalho desenvolvido por recém-doutorados ao longo do seu programa doutoral” na área da Ecologia, explicam os organizadores.

“As três premiadas têm como afinidade a associação da investigação ecológica dedicada à conservação com uma forte componente sociológica e aplicação ao planeamento e gestão, combinando o estado e a estabilidade dos ecossistemas com as necessidades humanas”, comenta a SPECO em comunicado. 

O primeiro prémio foi para Martina Panisi, actualmente investigadora no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto mas antes estudante de mestrado e doutoramento no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Martina Panisi estudou as relações entre moluscos terrestres, os seus habitats e as pessoas que vivem nas ilhas oceânicas do Golfo da Guiné – São Tomé e Príncipe e Annobón. O seu grande desafio foi o de tentar desenvolver medidas de conservação eficazes em países em desenvolvimento que são ao mesmo tempo hotspots de biodiversidade. Nesta região, em particular, existe uma elevada proporção de endemismos de moluscos terrestres cuja ecologia e importância social é pouco conhecida. Por outro lado desconheciam-se as consequências das actividades humanas, como as alterações do uso do solo e a introdução de espécies exóticas na malacofauna destas ilhas.

“Os resultados deste trabalho permitiram compreender a importância da preservação de ecossistemas florestais para a malacofauna nativa das ilhas e para prevenir invasões, aportar conhecimentos sobre as populações locais de espécies endémicas e alertar para o perigo de desenvolver medidas de conservação para estes endemismos em presença de espécies invasoras com nítidos benefícios económicos. Por esta razão, esta tese de doutoramento representa a componente de investigação de um projecto de conservação aplicado e de educação ambiental que envolveu centenas de pessoas ao longo de quatro anos.”

O segundo prémio foi atribuído a Ana Paula Senra Portela, investigadora e antes doutoranda no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

O trabalho de Ana Paula Portela interliga a biodiversidade, serviços de ecossistema e estabilidade ecológica com a sustentabilidade dos ecossistemas fluviais. “Esta tese demonstra que os ecossistemas e as comunidades vegetais ripícolas, assim como os serviços de ecossistema que fornecem, são vulneráveis ao crescente stress ambiental a longo prazo e a eventos de seca extremos.” A alta sensibilidade, a limitada capacidade adaptativa e resiliência e a diminuição da diversidade funcional provoca o declínio da estabilidade ecológica destes ecossistemas ripícolas. Nestas condições, o bem-estar humano será negativamente afectado pelo declínio do fornecimento de serviços de regulação, o qual poderá também comprometer soluções baseadas na natureza para mitigação e adaptação às alterações climáticas. “Além dos resultados práticos que podem servir à gestão estratégica destas áreas, esta tese identifica também novas questões sobre a resiliência dos ecossistemas ripícolas, que deverão constituir prioridades de investigação futura em prol da sustentabilidade dos ecossistemas fluviais.”

O terceiro prémio foi para Joana Pereira, investigadora e antes doutoranda no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Joana Pereira desenvolveu um trabalho que demonstra a necessidade de uma visão holística do conceito de vulnerabilidade das comunidades e da sua integração na gestão de áreas protegidas em Moçambique, tendo em vista o objetivo de um modelo de conservação mais socialmente inclusivo. “Esta tese demonstra que os problemas sociais e de conservação não podem ser endereçados separadamente, sendo muitas vezes interdependentes.”

Os três primeiros classificados irão apresentar o seu trabalho e receber o prémio no 23º Encontro Nacional de Ecologia que irá decorrer de 24 a 26 de Novembro no Instituto de Pernambuco do Porto. Os prémios, no valor de 3 000, 2 000 e 1 000 euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de 2 anos com quotas pagas.

O prémio recebeu 6 candidaturas elegíveis, de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Coimbra, Lisboa, Minho e Porto. 

O júri foi constituído por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia), João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias, Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid, Jorge Gonçalves, professor convidado da Universidade do Algarve, Investigador Senior e Membro da Direcção do CCMAR (Centro de Ciências do Mar), Helena Freitas, professora catedrática da Universidade de Coimbra e coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional), Myriam Lopes, professora associada da Universidade de Aveiro, e vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos) e por Ricardo Melo, professor auxiliar da Universidade de Lisboa e coordenador  do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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