Em 2020, o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, no Algarve, tratou e devolveu à natureza mais de 1.300 animais. Em Novembro abre a 5ª edição de um curso prático para ensinar como se cuida de aves, répteis, mamíferos e anfíbios.
O RIAS, um dos hospitais de fauna selvagens do país, trabalha há mais de 25 anos para recuperar as mais variadas espécies de animais, desde camaleões a bufos-reais.
Em 2020, a equipa do RIAS recebeu um total de 3.168 animais (2.317 vivos e 851 mortos) de 138 espécies diferentes, principalmente gaivotas (gaivota-de-patas-amarelas, gaivota-d’asa-escura e gaivota de Audouin).
Foram 2.847 aves, 164 mamíferos, 155 répteis e 2 anfíbios.
Destes animais foi possível recuperar e devolver à natureza 1.382.
Um dos últimos animais a ser devolvido à liberdade foi um bufo-real (Bubo bubo) que tinha sido encontrado a flutuar em pleno mar, ao largo da praia da Manta Rota, em Julho. Vigilantes da Natureza da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António levaram a ave para o RIAS, onde foi examinada.
“Não foram encontradas quaisquer lesões físicas. Sendo um juvenil, é muito possível que estivesse desorientado, tomando a direção errada. Cansado, terá acabado por cair na água”, segundo o Centro de Recuperação.
Apesar disto, ficou em instalações interiores para uma monitorização constante e cerca de duas semanas mais tarde foi transferido para uma câmara de recuperação exterior, adequada às suas necessidades. Todos os dias era fornecido alimento vivo e realizada fisioterapia, o que permitiu que recuperasse a condição física necessária para ser devolvido à Natureza, no Cerro de São Miguel.
Em Novembro – mais concretamente nos dias 5, 6 e 7 de Novembro -, a equipa do RIAS vai realizar a 5ª edição do Curso Prático “Introdução à Medicina de Fauna Selvagem”, nas instalações do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) na Quinta de Marim, em Olhão.
Este curso foi criado porque “existe uma grande procura por parte de estudantes e profissionais de áreas como a veterinária em conhecer um pouco melhor a biologia e a medicina aplicada a animais silvestres”, explicou ontem à Wilder a equipa do RIAS.
Nas últimas quatro edições deste Curso participaram um total de 123 pessoas.
“A grande maioria dos participantes são estudantes de biologia, de medicina veterinária e de enfermagem veterinária”, especificou o RIAS. Mas também “existem participantes que apenas têm curiosidade pelo tema”.
O grande objetivo deste curso é “complementar um pouco a oferta pedagógica em Portugal no que diz respeito à fauna selvagem. A identificação, maneio, causas de admissão e respetivo tratamento são temáticas com grande procura”.
Entre os módulos do Curso estão noções básicas sobre recuperação de fauna selvagem; introdução à identificação de fauna selvagem; captura, manipulação e contenção; recepção e diagnóstico inicial; primeiros socorros em mamíferos marinhos; causas de admissão mais frequentes e procedimentos básicos e medicina legal em fauna selvagem.
No final do curso, os participantes irão fazer uma visita guiada às instalações do RIAS.
Segundo este Centro de Recuperação, entre os casos mais difíceis de tratar estarão as espécies limícolas e as aves marinhas. “Estas aves apresentam um elevado nível de stress em cativeiro e o processo de recuperação é um verdadeiro desafio.”
Não menos exigente é o cuidar de crias de mamíferos “que exigem atenção 24h sob 24h, inclusive a alimentação que tem que ser dada em intervalos de três horas.”
“Apesar disto, todo o esforço e dedicação é retribuído quando qualquer um destes animais é devolvido à Natureza.”
De momento, o maior desafio para o RIAS “é conseguir fundos para adquirir material veterinário que permita facilitar o diagnóstico das diferentes espécies que nos chegam. Para além disso, existe tecnologia que seria de grande utilidade, por exemplo, no tratamento de eletrocussões, mas cujo custo não é acessível às possibilidades do nosso centro.”
Este ano, o RIAS conseguiu um apoio do Fundo Ambiental para recursos humanos – que vai permitir assegurar parte dos salários da equipa durante um ano – e realização de obras de requalificação em várias instalações do centro, “para melhorar a segurança e o bem-estar dos animais”.
O RIAS pertence ao ICNF/ Parque Natural da Ria Formosa. Desde 1 de Abril de 2009, é gerido pela
Associação ALDEIA, sob orientação do ICNF e com o apoio financeiro da ANA-Aeroportos de
Portugal, SA e, mais recentemente, do Fundo Ambiental.