Portugal passa a fazer parte da rede de 55 países onde a organização internacional Greenpeace, criada em 1971, trabalha de forma permanente. Entre as prioridades está a protecção da biodiversidade.
Há mais de 15 anos que a Greenpeace marca presença pontual em Portugal com campanhas específicas – pelos oceanos ou contra a importação de milho transgénico ou de madeira ilegal, por exemplo – e chegou a ter um escritório virtual gerido a partir de Bruxelas.
A primeira acção da Greenpeace em Portugal aconteceu em Junho de 2008 em Lisboa, durante a qual nove activistas pediram o fim da venda de peixe de espécies ameaçadas em vários supermercados.
Agora decidiu, pela primeira vez, estabelecer-se fisicamente em Portugal com uma equipa permanente. A decisão surge num “momento crítico, em que quase sete dos nove limites planetários já foram ultrapassados e um modelo de produção e consumo ameaça a vida no planeta”, explica a Greenpeace em comunicado.
“A isto soma-se o agravamento de conflitos geopolíticos, a restrição do espaço democrático, o retrocesso dos direitos humanos e dos compromissos ambientais, bem como a emergência climática e a perda de biodiversidade sem precedentes.”
O lançamento da Greenpeace Portugal aconteceu esta manhã a bordo do icónico quebra-gelo da organização, o Arctic Sunrise, e contou com a participação do diretor da Greenpeace Portugal, Toni Melajoki Roseiro, e da presidente do Conselho da Greenpeace Internacional, Jo Dufay. O navio está em Lisboa para celebrar a criação da nova equipa, realizar reuniões políticas e reforçar alianças estratégicas.
O Arctic Sunrise partirá de Lisboa rumo ao Porto, onde estará de 21 a 23 de fevereiro, no Porto de Leixões, com as portas abertas ao público, entre as 10h00 e as 13h00 e as 15h00 e as 18h00. As visitas guiadas, gratuitas, são uma boa oportunidade para conhecer a história e os recantos deste lendário navio quebra-gelo.
Este navio da Greenpeace foi construído em 1975, na altura com o nome Polar Bjorn. Por ironia, a organização chegou a combater este navio, que então era utilizado na caça às focas. Em 1995 foi adquirido pela Greenpeace e desde então tem dado a volta ao mundo a combater a sobre-exploração costeira, a caça comercial às baleias ou o abate de florestas tropicais.
A Greenpeace é uma organização ecologista e pacifista internacional, cujos membros são conhecidos como os “guerreiros do arco-íris”. Não aceita doações de governos, partidos políticos ou empresas, financiando-se exclusivamente através das contribuições individuais dos seus membros.
Com presença permanente no país a partir de hoje, a Greenpeace quer focar-se nos principais desafios socio-ambientais, em conjunto com a sociedade civil e outras organizações e atores sociais portugueses. Com mais de 50 anos de experiência, a organização também quer reforçar em Portugal o espaço democrático e as ferramentas de incidência política, essenciais para acelerar as mudanças urgentes que o país, a região e o planeta necessitam.
“Era essencial termos uma presença permanente em Portugal, o único grande país europeu que ainda não fazia parte da família Greenpeace”, comentou Jo Dufay, Presidente do Conselho da Greenpeace Internacional. “Portugal tem sido pioneiro em várias questões ambientais e mantém laços históricos e culturais com países-chave na luta contra as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, como o Brasil”, recordou.
“Há mudanças urgentes que têm de acontecer em Portugal e no mundo. A Greenpeace quer contribuir com propostas concretas para esses avanços.”
Toni Melajoki Roseiro, diretor da Greenpeace Portugal, destacou que “há mudanças urgentes que têm que acontecer no país e no mundo. A Greenpeace quer travar as ameaças globais que se manifestam neste território e apresentar propostas para construir futuros alternativos para além do crescimento económico”. “Queremos canalizar a indignação e a voz da cidadania portuguesa, historicamente preocupada e comprometida com a luta contra a emergência climática e a defesa da biodiversidade”.
Em que vai trabalhar a Greenpeace?
A organização tem três grandes prioridades globais que se refletem em cada canto do mundo: a luta contra a Emergência Climática e a sua face mais visível, os eventos meteorológicos extremos (incêndios, ondas de calor, secas, inundações…), a proteção da Biodiversidade e a procura de alternativas a um modelo socioeconómico que ameaça a vida no planeta.
No âmbito da Emergência Climática, sendo Portugal o país da União Europeia com a maior percentagem de superfície ardida, durante este primeiro ano a organização irá focar-se num trabalho de investigação para apresentar propostas sobre políticas florestais e alternativas para todo o ciclo de gestão.
Em relação à proteção da biodiversidade, a organização trabalhará na proteção dos oceanos, tanto em águas nacionais como internacionais. “A primeira exigência da Greenpeace ao Governo português será a ratificação do Tratado dos Oceanos das Nações Unidas. Quatro países europeus, incluindo Espanha, já o anunciaram, e Portugal – o país com a maior zona marítima da Europa – não pode ficar para trás. Além disso, a Greenpeace exigirá que Portugal apoie a declaração de áreas marinhas protegidas em alto mar, para alcançar a meta de 30% de proteção até 2030.”
Portugal foi o primeiro país europeu a anunciar a proibição da exploração mineira em mar profundo, nas suas águas territoriais, até 2050. “A Greenpeace irá também exigir que o Governo português lidere as negociações da ISA (International Seabed Authority) para expandir essa proibição às águas internacionais.”
Além disso, a Greenpeace reivindicará um papel ativo de Portugal na COP30, a próxima Cimeira do Clima das Nações Unidas, que terá lugar no Brasil, em novembro de 2025, coincidindo com o décimo aniversário do Acordo de Paris.
“A Greenpeace voltará a denunciar que a inação climática dos governos mata as pessoas, irá expor o negócio destrutivo das grandes corporações de combustíveis fósseis e da indústria agroalimentar e exigirá que estas empresas paguem pelos danos que estão a causar às pessoas e ao planeta.”
A abertura da sede da Greenpeace em Portugal coincide com o 40º aniversário da morte de Fernando Pereira, fotógrafo português e ativista da Greenpeace, que faleceu aos 33 anos de idade no naufrágio do navio Rainbow Warrior a 10 de Julho de 1985. Quando o Rainbow Warrior se preparava para impedir os ensaios nucleares franceses no atol de Mururoa, explodiram, com 60 segundos de intervalo, duas bombas colocadas no casco do navio. O barco afundou-se numa baía da Nova Zelândia e hoje está transformado num recife artificial nas ilhas Cavallii, a 26 metros de profundidade. O seu mastro está exposto no Museu Marítimo de Dargaville, na Nova Zelândia.
“A memória de Fernando Pereira representa uma reivindicação do espaço democrático e do direito ao protesto, essencial para denunciar as injustiças que ameaçam a vida no nosso planeta”, comentou Toni Melajoki Roseiro.