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Tubarão-cinzento-dos-recifes (Carcharhinus amblyrhynchos). Foto: Marc Tarlock/WikiCommons

Estes tubarões estão a abandonar recifes de coral por causa do aumento da temperatura do oceano

12.09.2024

O aumento da temperatura do oceano está a obrigar os tubarões-cinzentos-dos-recifes (Carcharhinus amblyrhynchos) a abandonar os recifes de coral onde vivem, alerta novo estudo científico.

Em fases de stress ambiental, como temperaturas mais elevadas que podem levar a episódios de branqueamento de corais, estes tubarões estão a abandonar os seus recifes de coral, revelaram investigadores do King’s College London, da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) e da Universidade de Lancaster. Para o descobrir, os investigadores usaram uma combinação de dados de satélite e de uma rede de receptores acústicos instalados no leito marinho no arquipélago de Chagos.

Este arquipélago de Chagos no Oceano Índico é constituído por sete atóis e faz parte do Território Britânico do Oceano Índico.

Os efeitos destes episódios de aumento de temperaturas nestes animais incluem movimentos mais frequentes e longos para áreas diferentes e períodos de ausência total mais prolongados.

Segundo os investigadores, estes efeitos persistiram por períodos até 16 meses após períodos de stress ambiental, como o El Niño de 2015-2016, que causou um episódio de branqueamento significativo na região onde decorreu o estudo.

A equipa diz-se “preocupada”, uma vez que se prevê que a partir de 2043 ocorram episódios de branqueamento de corais todos os anos.

“Enquanto grandes predadores, os tubarões-cinzentos-dos-recifes têm um papel muito importante nos ecossistemas de recifes de coral”, comentou, em comunicado, Michael Williamson, principal autor desta investigação e na altura estudante de doutoramento no King’s College London e no Instituto de Zoologia da ZSL. Estes tubarões “mantêm um delicado equilíbrio na cadeia alimentar do recife e também levam nutrientes para os recifes vindos das águas mais profundas onde muitas vezes se alimentam”, explicou.

“Uma perda de tubarões, e dos nutrientes que trazem, poderia afectar a resiliência dos recifes durante os períodos de elevado stress ambiental”, constatou.

“Estes resultados dão algumas das primeiras provas de como as mudanças dos recifes em resposta ao stress ambiental, algo que se está a tornar mais extremo e mais frequente, está a afectar o movimento dos tubarões”, comentou David Jacoby, da Universidade de Lancaster e um dos responsáveis pelo artigo científico, publicado a 9 de Setembro na revista Communications Biology.

“Os tubarões-cinzentos-dos-recifes são um predador residente comum nos recifes do Indo-Pacífico, que se aventuram para fora do recife para se alimentar. Mas muitos estão a ter de decidir abandonar de vez os recifes em stress ambiental. Os tubarões têm de escolher se querem viver na relativa segurança do recife mas gastar mais energia a manterem-se frescos ou manterem-se num recife sem condições óptimas de temperatura mas pouparem energia”, explicou.

Segundo os investigadores, muitos tubarões escolhem deixar os recifes em direcção a águas mais profundas e com temperaturas mais baixas.

“À medida que as alterações climáticas trazem mais incerteza e mais eventos de stress extremos, o importante papel ecológico destes predadores nos recifes de coral deverá mudar, uma vez que estes animais se afastam dos recifes aos quais estavam muito ligados”, salientou Jacoby.

Ainda assim, há lugar para algum optimismo, segundo este estudo. Nem todas as localizações monitorizadas registaram um declínio no uso do habitat. Na verdade, alguns receptores acústicos em localizações específicas registaram mesmo um aumento. Isto indica que poderá haver factores localizados a influenciar as decisões dos tubarões e que alguns recifes são mais resilientes ao stress.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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