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Galo-lira. Foto: Vnp/Wiki Commons

Espanha abre porta à reintrodução de 32 espécies selvagens já extintas

15.08.2018

Foca-monge, lince-europeu e águia-rabalva são três das 32 as espécies que poderão voltar a viver em Espanha, segundo a estratégia de implementação da Lei de Património Natural e da Biodiversidade. Este documento propõe projectos de reintrodução e recuperação de espécies que já se extinguiram naquele país.

 

A primeira Lista de Espécies Extintas em Estado Selvagem em Espanha, publicada a 13 de Agosto no Boletim Oficial do Estado espanhol, tem 32 espécies de animais e plantas que já existiram ali e que agora Espanha quer começar a recuperar.

 

Galo-lira. Foto: Vnp/Wiki Commons

 

São mamíferos, peixes e plantas, como o arbusto endémico da ilha de Tenerife Kunkeliella psiloclada, visto pela última vez em 1983 e do qual apenas restam sementes em jardins botânicos.

Esta lista é o primeiro passo para a reintrodução de espécies extintas, um desígnio previsto em 2015 quando foi incorporada a reintrodução de espécies autóctones selvagens extintas na Lei do Património Natural (Lei 42/2007, de 13 de Dezembro), explicou à agência EuropaPress Miguel Aymerich, subdirector-geral da Biodiversidade e Meio Natural do Ministério para a Transição Ecológica.

Desde então foi sendo feita esta lista para saber quais as espécies que ainda existem – ainda que seja apenas em cativeiro ou em bancos de germoplasma – e para as quais ainda seja possível a sua reintrodução.

 

Lince-europeu. Foto: Aconcagua/Wiki Commons

 

Por isso, com este documento passa a ser proibido reintroduzir espécies que nunca tenham existido em Espanha.

“Há espécies que já habitaram em Espanha em tempos históricos e que desapareceram, no geral, por perseguição humana ou pela transformação do habitat provocada pelo homem, mas que ainda existem em outros países”, comentou o subdirector.

Aymerich mostrou-se confiante na reintrodução de foca-monge. Esta espécie existia no Mediterrâneo espanhol e o último animal foi visto nas ilhas Chafarinas.

Espanha e Mauritânia – país onde vive a maior colónia da espécie – têm um convénio de cooperação desde há três anos, no âmbito do qual Espanha ajuda aquele país a recuperar espécies de gazelas e antílopes que desapareceram no seu território – com animais a ser criados num centro em Almería – e a Mauritânia cederá alguns exemplares de foca-monge para a sua reintrodução nas Canárias.

As primeiras soltas experimentais de foca-monge no arquipélago deverão começar entre 2019 e 2020. A ideia é, “se tudo correr bem”, poder trazer seis animais por ano da Mauritânia, revelou à EuropaPress.

Quanto ao esturjão europeu, que existiu em rios como o Guadalquivir, o subdirector informou que Espanha assinou um acordo com França para que este país envie exemplares para as primeiras soltas experimentais no Ebro, já que no Guadalquivir não há habitat suficiente. “A espécie desapareceu de muitos rios por causa da sobre-pesca e construção de barragens que o impediam de aceder às zonas de desova”.

“Tudo isto implica uma grande quantidade de estudos prévios sobre o habitat, a qualidade, a aceitação social, entre outras condições”, admitiu. Em primeiro lugar são estudadas as condições do habitat, a possível interferência com populações humanas, os riscos de prejuízos para as populações, entre outros.

 

Águia-rabalva. Foto: Uclax/Wiki Commons

 

Também a águia-rabalva tem um projecto, promovido por uma ONG, para o seu regresso a Espanha. É uma rapina de grande envergadura, bastante abundante no Norte da Europa. Actualmente está a ser reintroduzida no Reino Unido.

A lista de espécies extintas inclui também a baleia-franca-do-atlântico-norte mas neste caso a esperança vem, não de um projecto, mas sim da própria melhoria do habitat. “É preciso esperar para que volte a migrar nas costas europeias, de onde desapareceu devido à sobre-caça”, assegurou. Se forem realizadas acções de melhoria do habitat marinho, a espécie – que não se extinguiu a nível mundial – poderá recuperar em Espanha, quem sabe, dentro de “décadas ou séculos”.

Referiu ainda o lince-europeu, uma espécie cujo plano de recuperação estava a avançar nos Pirinéus mas que enfrentou um bloqueio social. “Queria-se testar com poucos exemplares sem capacidade reprodutora mas não houve aceitação social por parte dos criadores de gado e caçadores”.

Não obstante, recorda que a espécie vivia em toda a cordilheira atlântica e houve indícios da sua presença até aos anos 80 do século XX. A presença de um grande predador como o lince-europeu ou o lobo nos Pirinéus – onde há sobre-abundância de corço, gamo e veado – poderia libertar o território da forte carga de ungulados.

Aymerich prevê que a publicação desta lista incentive as comunidades autónomas e o Ministério a iniciar novos programas de reintrodução através da Fundação Biodiversidade (do Ministério da Transição Ecológica) ou dos projectos Life e do financiamento e participação público-privada.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Esta é a lista completa das espécies:

Mamíferos:

Lince europeu (Lynx Lynx)

Foca monge do Mediterrâneo (Monachus monachus)

Baleia-franca-do-atlântico-norte (Eubalaena glacialis)

Peixes:

Esturjão europeu (Acipenser sturio)

Lampreia de rio (Lampetra fluviatilis)

Aves:

Águia-rabalva (população reprodutora) (Haliaeetus albicilla)

Falcão-lanario (população reprodutora) (Falco biarmicus)

Perdiz-avelã (Bonasa bonasia)

Galo-lira (Tetrao tetrix)

Perdiz-grega (Alectoris graeca)

Toirão (Turnix sylvatica)

Grou-comum (população reprodutora) (Grus grus)

Grou-pequeno (Anthropoides virgo)

Plantas:

Aeonium mascaense

Astragalus algerianus

Astragalus baionensis

Aurinia sinuata

Cicuta virosa

Draba incana

Kunkeliella psilotoclada

Lysimachia minoricensis

Nolletia chrysocontoides

Nonea calycina

Normania nava

Oenanthe aquatica

Potentilla grandiflora

Pulicaria undulata

Sagittaria sagittifolia

Silene uniflora thorei

Stratiotes aloides

Trapa natans

Verbascum faurei subsp. Commixtum

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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