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Marcação de milhafres-reais. Foto: Governo das Ilhas Baleares

Em Perigo: Governo das Baleares cede 15 milhafres-reais à Andaluzia para reforçar população desta ave

11.06.2025

O governo das Ilhas Baleares cedeu 15 crias de milhafre-real (Milvus milvus), nascidas na ilha de Maiorca, à Andaluzia para reforçar a população desta ave que, em Portugal, está classificada como Criticamente Em Perigo de extinção.

Esta iniciativa enquadra-se no projeto de reintrodução e reforço populacional de milhafre-real no Parque Natural de las Sierras de Cazorla, Segura y Las Villas (Jaén).

Desde o início desta colaboração, há cinco anos, as Ilhas Baleares já cederam cerca de 50 crias desta espécie.

Marcação de milhafres-reais. Foto: Governo das Ilhas Baleares

“O milhafre-real é uma espécie classificada Em Perigo de extinção (em Espanha) e está protegida”, lembrou, em comunicado, o conselheiro para a Agricultura, Pesca e Meio Natural, Joan Simonet. “Nos anos 1990 só havia oito casais desta espécie em Maiorca. Graças ao trabalho do governo, hoje já há mais de cem. Este aumento populacional permite-nos participar activamente no projeto andaluz de reintrodução.”

Nos últimos meses, os agentes do departamento de Ambiente do governo realizaram um seguimento da população reprodutora de milhafre-real em Maiorca, localizando e controlando os ninhos. Foram escolhidos os mais acessíveis e o Grupo de Intervenção em Altura dos Agentes de Ambiente encarregou-se de extrair as crias no momento mais adequado. Destes, um grupo permaneceu em Maiorca e o outro foi cedido à Andaluzia.

O Grup Balear d’Ornitologia i Defensa de la Naturalesa (GOB), em coordenação com o Serviço de Protecção de Espécies, anilhou e marcou as 12 crias que permaneceram nos ninhos em Maiorca. Nove foram equipados com emissores de seguimento por satélite, o que vai permitir seguir de perto estas aves e obter informação sobre o uso que fazem do território, assim como detectar casos de mortalidade provocados pelo uso de veneno, disparos ilegais ou electrocussões.

Milhafre-real. Foto: Hansueli Krapf/Wiki Commons

Por seu lado, o Consorcio para la Recuperación de la Fauna de las Illes Balears (COFIB) identificou as 15 crias de milhafre-real que foram cedidas à Andaluzia. Estas jovens aves foram levadas paras as instalações do COFIB em Santa Eugènia, onde foram monitorizadas até serem levadas para a Andaluzia, para serem libertadas.

O Grupo de Rehabilitación de la Fauna Autóctona y su Hábitat (GREFA), entidade encarregada de executar o projeto de reintrodução da Junta de Andalucía, levou as crias para a Andaluzia e aplicou a técnica de hacking para as libertar na Sierra de Cazorla. Esta metodologia consiste em manter os exemplares em ninhos ou plataformas artificiais até que se adaptem ao novo ambiente e possam ser libertados. As aves serão marcadas no local de libertação com anilhas oficiais, marcas alares e emissores GPS de seguimento por satélite.

Durante o ano de 2024, o GREFA libertou 48 milhafres-reais na Sierra de Cazorla, procedentes das ilhas Baleares, de Madrid e de Aragão. Além disso, no ano passado o macho chamado Mallorca, procedente das ilhas Baleares, reproduziu-se pelo segundo ano consecutivo.

Em Portugal, os milhafres-reais são mais comuns na época de Inverno, quando muitas aves se deslocam para a Península Ibérica vindas dos países onde se reproduzem, na Europa Central. Esta população invernante tem um risco de extinção Pouco Preocupante, segundo a Lista Vermelha das Aves de Portugal

Bem diferente está a população nidificante de milhafres-reais, aves que se reproduzem em território português, classificada como Criticamente em Perigo. Nas últimas décadas, a sua abundância e distribuição sofreram uma redução significativa, em grande parte devido à mortalidade associada ao contínuo uso de venenos (para controlo de predadores), mas também devido à mortalidade em linhas elétricas e a alterações nos modelos de produção agropecuários.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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