Uma equipa de investigadores descreveu agora para a Ciência a espécie Pararosa vigarae, um verme aquático encontrado a 30 metros de profundidade na Ria de Arosa, na Galiza, Espanha.
Trata-se de um novo género de verme aquático ou nemertino que foi encontrado em dois locais da Ria de Arosa. Pertence à família Lineidae, a mesma família a que pertence o Lineus longissimus, o mais comprido verme do mundo, segundo Livro Guinness dos Recordes.
A espécie agora descrita tem um comportamento único, mais concretamente a capacidade de contrair o seu corpo numa série de anéis que fazem lembrar um acordeão; consegue ficar cinco vezes mais pequeno do que o seu tamanho habitual, explicou o Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) que participou no artigo publicado na revista The Royal Society Open Science.
“Para descrever a nova espécie sequenciámos o ADN do verme e realizámos análises filogenéticas que nos permitiram confirmar que se trata de um novo género”, explicou, em comunicado, Aida Verdes, investigadora do MNCN.
Segundo os investigadores, estes vermes aquáticos são invertebrados pouco conhecidos. São especialmente desafiantes para os taxonomistas porque têm poucas características morfológicas externas. “Por isso, o número de espécies conhecidas de nemertinos poderá representar apenas uma pequena fracção da verdadeira diversidade do filo”, escrevem os autores no artigo.
Esta situação é especialmente preocupante tendo em conta a actual crise da biodiversidade, alertam os investigadores. “Alguns estudos estimam que continuam por descrever até 1400 outras espécies de vermes aquáticos, mas a real diversidade pode ser ainda maior.”
Agora, avançou-se mais um pouco no conhecimento que temos sobre estas espécies.
A equipa de investigadores realizou mergulhos durante o verão de 2021 e conseguiu recolher vários espécimes, de cor castanha ou verde escura, que depois estudou em laboratório. Estes tinham entre 110 e 250 milímetros de comprimento e 3 a 4 milímetros de largura mas, quando perturbados, eram capazes de se contrair até um quarto ou um quinto do seu tamanho.
“A Pararosa vigarae é uma espécie pouco comum, já que só foi encontrada em duas localizações na Ria de Arosa”, acrescentou outro dos investigadores, Juan Junoy, da Universidade de Alcalá.
“Esta descoberta permite-nos ampliar o número de espécies de nemertinos conhecidas e o facto de o termos encontrado numa zona tão acessível e estudada como o litoral galego indica que hoje só conhecemos uma parte muito pequena deste grupo de animais”, disse Verdes.
Os nemertinos são um grupo de vermes aquáticos com corpos geralmente aplanados sobre os quais há muito pouca informação. Na sua grande maioria vivem em meios marinhos, ainda que também existam espécies de água doce e até algumas terrestres.
No caso das espécies marinhas, estas alimentam-se de pequenos crustáceos ou de anelídeos.
Uma das características principais deste grupo, do qual se conhecem cerca de 1350 espécies, é que têm um probóscide (apêndice alargado e tubular que podem projectar rapidamente) que usam para injectar o veneno com o qual paralisam as suas presas. Algumas das toxinas que compõem os venenos que estes vermes produzem estão a ser estudadas para o desenvolvimento de diferentes fármacos e pesticidas ecológicos.