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Descritas duas novas espécies marinhas na costa de Cascais

12.11.2024

Investigadores espanhóis e portugueses descreveram cinco novas espécies de planárias marinhas, vermes achatados, duas delas descritas a partir de exemplares recolhidos na costa de Cascais.

As cinco novas espécies de planárias marinhas são descritas num artigo agora publicado na revista Zoosystematics and Evolution.

Foto: Mónica Albuquerque

A descrição destas espécies foi feita a partir de exemplares encontrados no Sul e Oeste da Península ibérica.

Duas destas espécies foram encontradas na zona costeira de Cascais. A planária Plehnia cascaiensis foi recolhida durante a expedição M@rbis em 2015 frente a Cascais. A planária Izmira lusitanica foi recolhida na zona entre-marés da Área Marinha Protegida das Avencas.

Estas duas espécies são, por agora, conhecidas apenas nestes locais.

O estudo inseriu-se no plano de doutoramento da investigadora Patrícia Perez-García na Universidade de Cádis, em Espanha, e o material que levou à descrição das espécies portuguesas resultou de uma colaboração desta investigadora com a Universidade Lusófona, tendo orientado o projeto de final de curso da então estudante Filipa Gouveia, segunda autora do artigo.

As planárias marinhas, com 1033 espécies descritas em todo o mundo, são vermes achatados que pertencem ao filo Platyhelminthes. São conhecidas por terem corpos achatados e uma notável capacidade de regeneração, podendo recriar partes do corpo quando divididas. Variam em tamanho e cor, podendo ser pequenas e translúcidas ou de cores vibrantes, dependendo da espécie.

São predadoras e detritívoros, alimentando-se de pequenos invertebrados, algas e matéria orgânica em decomposição. Têm um sistema digestivo simples, sem ânus. As planárias marinhas são hermafroditas, possuindo tanto órgãos sexuais masculinos quanto femininos, e podem se reproduzir sexualmente ou por fragmentação.

As planárias marinhas desempenham um papel importante nos ecossistemas litorais, contribuindo para a saúde e o equilíbrio ambiental dessas zonas. As suas principais funções ecológicas incluem o controlo de microinvertebrados, suas presas; a reciclagem de nutrientes – as planárias marinhas consomem matéria orgânica em decomposição, ajudando a transformar resíduos em nutrientes acessíveis para outros organismos marinhos -; serem indicadores de qualidade ambiental, já que são sensíveis a alterações no ambiente, especialmente a variações nos níveis de poluentes e toxinas na água; e serem fonte de alimento para várias espécies de peixes e outros animais marinhos.

Por enquanto, a fauna de planárias marinhas de Portugal é ainda muito pouco conhecida, sendo de esperar que ainda possam aparecer espécies novas para a Ciência.

Até este estudo, a maioria das espécies de planárias marinhas da Europa tinha sido descrita a partir de material recolhido no Golfo de Nápoles, Itália, por Arnold Lang em 1884. Por outro lado, pouco se sabia sobre a diversidade destes animais na Península Ibérica, com 49 espécies registadas, a maioria registada na costa Norte de Espanha.

Esta investigação – cuja recolha de material aconteceu desde Julho de 2013 a Julho de 2019 – conseguiu recolher espécimes de 13 espécies em 17 pontos das costas Sul e Oeste do Atlântico na Península Ibérica – incluindo a Praia de Gondarém (Porto), a Praia do Baleal (Peniche), Cascais, Área Marinha Protegida das Avencas (Parede), Tróia (Grândola), Praia de Alpertuche (Arrábida), Sagres, Praia da Luz (Lagos) e Ria Formosa (Faro). Este trabalho ajudou a actualizar a informação sobre a distribuição geográfica deste grupo. Destas 13 espécies, cinco são novas para a Ciência: Stylochus erytheiusS. marimarensisPlehnia cascaisensisIzmira lusitanicaEmprosthopharynx onubensis.

Os espécimes recolhidos em Portugal estão depositados na Colecção de Invertebrados do Museu Nacional de História Natural e da Ciência de Lisboa.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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