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Imagem de filídeos de Chlorosphagnum cateficense do Cretácico de Catefica. Escala = 500 µm (a, b). Foto: © DR

Descobertos os primeiros fósseis de musgos em Portugal

08.01.2024

Uma equipa internacional de investigadores descobriu os primeiros fósseis de musgos em Portugal, mais concretamente na jazida fossilífera de Catefica, na região de Torres Vedras. Os resultados deste trabalho foram publicados na revista Fossil Imprint.

Os fósseis têm cerca de 110 milhões de anos e pertencem a sete novas espécies e seis géneros atribuíveis a quatro ordens atuais: Sphagnales, Polytrichales, Diphysciales e Dicranales, demonstrando a sua existência, pelo menos, desde o Cretácico.

Imagem de filídeos de Chlorosphagnum cateficense do Cretácico de Catefica. Escala = 500 µm (a, b). Foto: © DR

Foram descobertos em rochas sedimentares entre Catefica e Mugideira, a cerca de quatro quilómetros a Sul de Torres Vedras. Hoje, os espécimes descritos neste artigo científico estão guardados nas colecções paleobotânicas do Museu sueco de História Natural em Estocolmo.

“A fossilização de musgos é um processo extremamente raro”, explicou, em comunicado, Mário Miguel Mendes, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) que participou na investigação. “Ao que se sabe, em Portugal, nunca haviam sido reconhecidos musgos fósseis até ao momento. Estes são os primeiros.”

Ao contrário do que acontece com as plantas vasculares (mais evoluídas), “os musgos não apresentam sistema condutor diferenciado, pelo que, não possuem verdadeiras raízes, caules e folhas, mas sim rizoides, cauloides e filídeos. O registo fóssil dos briófitos é parco e fragmentado, pois a sua fossilização só se realiza em condições muito especiais devido, fundamentalmente, à fragilidade dos seus tecidos”, descreve Mário Miguel Mendes.

Graças à combinação de técnicas de microscopia eletrónica de varrimento e de microtomografia de raios-x por radiação de sincrotrão, os investigadores conseguiram descrever detalhadamente sete novas espécies e seis géneros atribuíveis, de forma inequívoca, a quatro ordens atuais: Sphagnales, Polytrichales, Diphysciales e Dicranales, demonstrando a sua existência, pelo menos, desde o Cretácico.

“Os musgos pertencem ao grupo dos briófitos e embora, muitas vezes, passem despercebidas, estas pequenas plantas desempenham um papel crucial nos ecossistemas, contribuindo para a estabilidade e sustentabilidade dos habitats”, comentou Mário Miguel Mendes, investigador que, por exemplo, descobriu em 2022 uma nova espécie de conífera do Cretácico em Leiria, a Pseudofrenelopsis zlatkoi.

O estudo – que envolveu investigadores de várias instituições internacionais, do Swedish Museum of Natural History de Estocolmo (Suécia), da Universidade de Aarhus (Dinamarca), da Universidade de Yale (Estados Unidos da América), do National Museum Prague (República Checa) e, da Universidade de Münster (Alemanha) – contribui para a compreensão da evolução das plantas ao longo da história.

“Este avanço paleontológico representa um marco significativo no entendimento da flora do Cretácico português e das transformações que presidiram ao aparecimento e evolução das plantas com flor e que moldaram o nosso planeta”, segundo um comunicado do MARE.

Hoje estima-se que existam cerca de 500 espécies de musgos em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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