Banner

Vista geral da Jazida de Sant Antoni de la Vespa durante a extração de um dos exemplares de Garumbatitan. Foto: GBE-UNED

Descoberto novo dinossáurio gigante na Península Ibérica

28.09.2023

O Garumbatitan morellensis é uma nova espécie de dinossáurio saurópode descrita agora para a Ciência e que viveu na Península Ibérica há 122 milhões de anos, no Cretácico Inferior. Os restos foram descobertos por portugueses e espanhóis em Castelló, Espanha.

Os restos deste novo dinossáurio foram encontrados e escavados em 2005 e 2008 nos sedimentos da localidade de Morella, na jazida de Sant Antoni de la Vespa, em Espanha. São eles que estão na base do novo estudo publicado na revista Zoological Journal of the Linnean Society, coordenado pelo paleontólogo português Pedro Mocho, investigador do Instituto Dom Luiz, pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

Vista geral da Jazida de Sant Antoni de la Vespa durante a extração de um dos exemplares de Garumbatitan. Foto: GBE-UNED

O Garumbatitan morellensis pertence ao grupo dos saurópodes que é composto por dinossáurios herbívoros quadrúpedes com pescoços e caudas compridas e que podiam alcançar dimensões colossais.

Este dinossáurio Garumbatitan morellensis tem um conjunto de características anatómicas diferente de outros dinossáurios saurópodes. “Garumbatitan carateriza-se pela morfologia singular do fémur (o osso superior da perna) e dos elementos que formam o pé. O fémur apresenta uma morfologia similar aos fémures de saurópodes mais modernos do Cretácico Superior”, explicou um comunicado da FCUL enviado hoje à Wilder.

De acordo com os investigadores, Garumbatitan é um dos membros mais primitivos de um grupo de saurópodes denominados Somphospondyli, que corresponde a um dos grupos mais diversos e abundantes durante o Cretácico e que se extinguiu no final do Mesozóico.

Os depósitos sedimentares que afloram na região de Els Ports de Morella (Espanha) contêm um abundante registo de dinossáurios do Cretácico Inferior, com cerca de 122 milhões de anos. Em particular, alguns dos primeiros restos de dinossáurios encontrados em Espanha foram descobertos na região de Morella.

Naquela jazida foram identificados elementos de, pelo menos, quatro indivíduos, três dos quais pertencentes a esta nova espécie.

“Um dos indivíduos encontrados destaca-se pelo seu grande tamanho, com vertebras de mais de um metro de largura e um fémur que poderia alcançar dois metros de longitude; nesta jazida foram encontrados dois pés quase completos e articulados, que são particularmente raros no registo geológico” contou Pedro Mocho num comunicado da FCUL enviado hoje à Wilder.

Garumbatitan morellensis. Ilustração: Grup Guix

O nome da nova espécie, Garumbatitan morellensis, contém uma dupla referência: Garumbatitan significa “o gigante da Garumba” pelo facto de este exemplar ter sido encontrado na base da Mola de la Garumba, um dos relevos mais altos da região de Els Ports. O nome específico morellensis faz referência à localidade em que se situa a jazida.

Esta descoberta “permitiu ampliar a diversidade de dinossáurios conhecida num dos melhores registos fósseis do Cretácico Inferior da Europa”, segundo o mesmo comunicado.

Nos últimos anos foram encontrados numerosos fósseis de vertebrados mesozóicos nas proximidades desta localidade, incluindo uma importante coleção de dinossáurios ornitópodes, entre os quais se destaca o dinossauro ornitópode Morelladon beltrani, e dinossáurios saurópodes. Sant Antoni de la Vespa é considerada uma das localidades chave para o estudo das faunas de dinossáurios de Espanha para este período e é reconhecida como tendo uma das maiores concentrações em restos de dinossáurios saurópodes do Cretácico Inferior europeu.

Os autores do artigo sublinham ainda a “enorme complexidade da história evolutiva dos saurópodes do Cretácico europeu, em particular, da Península Ibérica, com espécies aparentadas com linhagens presentes em Ásia e América do Norte, assim como alguns grupos aparentados com formas do continente africano”. Estes resultados sugerem a existência de períodos de dispersão de faunas entre estes continentes.

O futuro restauro de todos os materiais fósseis encontrados nesta jazida adicionará informação importante para compreender a evolução inicial deste grupo de saurópodes, que dominou as faunas de dinossáurios durante os últimos milhões de anos da era mesozóica. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss