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Custo económico de formigas invasoras chega aos 46.000 milhões de euros

30.05.2022

As formigas invasoras estão entre as espécies mais destrutivas do mundo. Investigadores de vários países estimam que os custos económicos cheguem aos 46.000 milhões de euros desde 1930, revela um novo estudo.

Estas formigas podem alterar gravemente os ecossistemas e são responsáveis pela perda de espécies de formigas nativas. E em cima disso causam custos económicos.

Um estudo internacional liderado pelo Conselho Superior espanhol de Investigações Científicas (CSIC) estimou que esse custo atinge, pelo menos, os 46.000 milhões de euros desde 1930. O seu impacto está concentrado nos sectores da agricultura e do bem-estar social.

A equipa de investigadores chegou a estas conclusões a partir da informação da InvaCost, a primeira base de dados que reúne os custos económicos associados às invasões biológicas em todo o mundo.

O trabalho, publicado na revista Biological Invasions, resulta de uma colaboração internacional na qual participaram cientistas da Austrália, França, Marrocos, Itália, República Checa, Índia, Koweit e Japão.

“Como invasoras, as formigas podem chegar a ser muito perigosas para a saúde humana e para os animais de gado”, alertou, em comunicado, Elena Angulo, investigadora da Estación Biológica de Doñana (EBD-CSIC) e líder do trabalho.

“As suas características biológicas e ecológicas, a sua estrutura em super-colónias, o seu alto potencial reprodutor e a sua grande capacidade para monopolizar recursos fazem com que o seu impacto possa ser muito prejudicial também para os cultivos”, acrescentou. “Além disso, o seu tamanho pequeno e difícil detecção favorecem o seu transporte e expansão fora dos seus habitats nativos.”

Um exemplo destas espécies é a pequena formiga de fogo (Wasmannia auropunctata). Tem uma picada dolorosa e, por se alimentar das secreções dos pulgões, é abundante em zonas de cultivos. Chega a causar o abandono de plantações devido à sua presença.

Outro caso é a formiga de Singapura (Trichomyrmex destructor), também conhecida como formiga destruidora por causa da facilidade com que provoca grandes perdas económicas, danificando equipamentos electrónicos ao morder os cabos.

A equipa de investigadores centrou a sua análise na informação relativa a 12 das 19 espécies de formigas hoje identificadas como invasoras pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Os cientistas estudaram os custos económicos reportados desde 1930 para essas 12 espécies em 27 países.

Dos 46.000 milhões de euros de prejuízos, 9.400 milhões foram gastos na sua gestão ou são considerados perdas económicas pelos danos que causaram. O resto está associado a custos que não se observaram mas que foram extrapolados tanto especialmente (por exemplo, com previsões para as áreas invadidas onde ainda não foram quantificados os custos), como temporalmente (por exemplo, os custos projectados para o futuro).

Boa parte dos custos está associada a duas espécies por causa das picadelas que produzem: a formiga vermelha de fogo (Solenopsis invicta) e a pequena formiga de fogo (Wasmannia auropunctata). Estes custos concentram-se na Austrália e nos Estados Unidos.

Até agora, os relatórios sobre os custos económicos tinham-se limitado, principalmente, a avaliar os custos das medidas para controlar as invasões, à excepção dos custos associados a algumas espécies de formigas invasoras com mais impacto, como a formiga vermelha de fogo. A equipa de investigadores que publica este artigo quis estimar o impacto económico total. Isso “poderia aumentar a visibilidade do problema destas espécies invasoras e pressionar as administrações e os profissionais a tomar consciência da sua gravidade, em particular sobre a actual ameaça que representam para a biodiversidade”, acrescentou Angulo.

“Este estudo sugere-nos que os custos mundiais das formigas invasoras são enormes”, mas ainda assim há uma “grande proporção de custos sem serem reportados em muitos países”, alertou a investigadora. “Uma melhor colaboração entre a parte gestora, profissional e científica é crucial para conhecer o verdadeiro impacto destas invasões e melhorar as estratégias de gestão.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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