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Coruja-das-torres. Foto: Carlos Delgado/WikiCommons

Covid-19: Confinamentos melhoraram qualidade dos habitats das espécies, revela novo estudo

28.05.2024

Os confinamentos no âmbito da pandemia de Covid-19 melhoraram efetivamente a qualidade do habitat das espécies, revela um estudo de investigadores do Centro de Investigação em Ciências Geo-Espaciais (CICGE), da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Os investigadores estudaram, ao longo do tempo, as distribuições e a ocorrência de 381 espécies de plantas vasculares, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, na Península Ibérica, recorrendo a cinco variáveis de deteção remota como o índice de vegetação e a temperatura dos objectos à superfície da terra.

De acordo com o estudo recentemente publicado na revista Global Ecology and Conservation, por norma, a qualidade de habitat pode mudar de forma sazonal, sendo, geralmente, melhor na Primavera. Esta análise decorreu antes, durante e depois dos confinamentos em Portugal e Espanha, desde julho de 2017 a agosto de 2022, e permitiu excluir a sazonalidade, pois o padrão temporal detetado, sobretudo o do primeiro confinamento – que decorreu no inverno – revelou uma melhoria significativa na qualidade dos habitats.

A equipa cruzou estes padrões com dados da qualidade do ar e da mobilidade humana, o que reforçou estas conclusões. “Todas as espécies beneficiaram, de alguma forma, destes confinamentos”, frisaram.

“A única solução para conservar a nossa biodiversidade a longo prazo é a redução das atividades humanas”, comentou Neftalí Sillero, investigador do CICGE na FCUP e autor principal do trabalho. “Quando o ser humano deixa de alterar e destruir a natureza, esta recupera, possivelmente de forma rápida, como parece indicar o nosso trabalho.”

“Este estudo prova claramente que os humanos e as suas atividades são o principal problema para a conservação do nosso planeta e da sua biodiversidade. Se queremos que as próximas gerações tenham um planeta saudável, temos que reduzir o nível de exploração do planeta”, alertou.

Esta investigação, integrada no âmbito do projeto MontObEO, despertou o interesse da equipa quando, na literatura científica, surgiram “provas claras” de alterações no comportamento dos animais.

“Registou-se a ocorrência de animais em centros urbanos, os pássaros cantavam mais baixo por causa da falta de barulho e houve uma melhoria clara da qualidade do ar por causa dos confinamentos aplicados como resposta à pandemia. A nossa pergunta foi se estes confinamentos trouxeram uma melhoria substancial na qualidade dos habitats das espécies. A resposta é sim: o nosso estudo comprova que a única solução de conservação efetiva e permanente passa pela redução nas atividades humanas”, conta Neftalí Sillero.

O objetivo dos investigadores é dar continuidade a este estudo e trabalhar na implementação de novas metodologias de monitorização da biodiversidade e da saúde do planeta através de deteção remota e de técnicas de modelação ao longo do tempo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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