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Consumo de soja, óleo de palma e carne na UE está a destruir as florestas dos trópicos

14.04.2021
Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

O consumo de produtos importados por países da União Europeia, incluindo Portugal, está a ter um “enorme impacto” para a desflorestação tropical, alerta um novo relatório da WWF.

Os resultados de uma investigação conduzida pela WWF – World Wildlife Fund mostram que “a União Europeia (UE) foi responsável, entre 2005 e 2017, por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional, com um total de 203.000 hectares e 116 milhões de toneladas de CO₂ emitido”, indica em comunicado a Associação Natureza Portugal – ANP/WWF, parceira da organização internacional.

Portugal está entre os principais responsáveis dentro da UE. Surge em sexto lugar entre os Estados-membros com maior consumo per capita associado à desflorestação nos trópicos – nota a ANP/WWF – e está em nono lugar tendo em conta o total de hectares que esse consumo destrói anualmente, com uma média de 7.500 hectares entre 2005 e 2017. Na liderança desta última tabela surgem Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda, seguidos pela França, Bélgica e Polónia, responsáveis por 80% do total.

“A procura por estas mercadorias está também a causar a destruição de ecossistemas não-florestais como prados e zonas húmidas”, uma vez que “o relatório estabelece uma ligação clara entre a produção de soja e de carne de bovino e a conversão de prados”, alerta a ANP/WWF. 

Igualmente pouco favorável é o retrato da UE como um todo, mostra o novo relatório. Em 2017, apenas a China terá tido um impacto maior. A importação de produtos pelo país mais populoso do mundo representou 24% de um total de 1,3 milhões de hectares de florestas dos trópicos destruídas nesse ano.

A UE, com 16% nesse ano, ficou à frente da Índia (9%), Estados Unidos da América (7%) e Japão (5%). Durante o período analisado, os principais produtos importados com mais desflorestação associada foram a soja, o óleo de palma e a carne de bovino, seguindo-se os produtos de base florestal, o cacau e o café. 

plantação
Plantação de óleo de palma, na Malásia. Foto: Izhamwong/Wiki Commons

“Este relatório fornece informação essencial para uma acção concertada e urgente em defesa das florestas e da biodiversidade existente. Sabíamos que o consumo dos países da União Europeia tem um impacto significativo na desflorestação das regiões tropicais e na conversão de habitats, mas não sabíamos com o rigor científico que nos é apresentado agora que a UE apenas é ultrapassada pela China, consumindo mais florestas tropicais e destruindo outros ecossistemas que a Índia, Estados Unidos e Japão”, considerou Catarina Grilo, directora de conservação da ANP – WWF. “A forma como comemos em Portugal e na Europa está literalmente a devorar as florestas mundiais e outros ecossistemas também.”

O novo documento surge numa altura em que Bruxelas está a preparar nova legislação para combater a destruição de florestas, sendo por isso urgente a criação de “um enquadramento legal capaz de abordar a totalidade da pegada do consumo causado pela UE nas florestas do nosso planeta e outros ecossistemas como prados e zonas húmidas”, sublinha a organização parceira da WWF.

“A Comissão Europeia, e Portugal, deverão considerar os resultados deste estudo como um alerta e criar uma proposta de legislação forte e capaz de combater a pegada da UE”, acrescentou ainda Catarina Grilo, para quem é importante “impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza (legalmente ou ilegalmente) e que violam direitos humanos entrem nos mercados europeus e garantir que as empresas cumprem as regras definidas”.


Saiba mais.

Conheça aqui a versão original do relatório da WWF, em inglês.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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