O consumo de produtos importados por países da União Europeia, incluindo Portugal, está a ter um “enorme impacto” para a desflorestação tropical, alerta um novo relatório da WWF.
Os resultados de uma investigação conduzida pela WWF – World Wildlife Fund mostram que “a União Europeia (UE) foi responsável, entre 2005 e 2017, por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional, com um total de 203.000 hectares e 116 milhões de toneladas de CO₂ emitido”, indica em comunicado a Associação Natureza Portugal – ANP/WWF, parceira da organização internacional.
Portugal está entre os principais responsáveis dentro da UE. Surge em sexto lugar entre os Estados-membros com maior consumo per capita associado à desflorestação nos trópicos – nota a ANP/WWF – e está em nono lugar tendo em conta o total de hectares que esse consumo destrói anualmente, com uma média de 7.500 hectares entre 2005 e 2017. Na liderança desta última tabela surgem Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Holanda, seguidos pela França, Bélgica e Polónia, responsáveis por 80% do total.
“A procura por estas mercadorias está também a causar a destruição de ecossistemas não-florestais como prados e zonas húmidas”, uma vez que “o relatório estabelece uma ligação clara entre a produção de soja e de carne de bovino e a conversão de prados”, alerta a ANP/WWF.
Igualmente pouco favorável é o retrato da UE como um todo, mostra o novo relatório. Em 2017, apenas a China terá tido um impacto maior. A importação de produtos pelo país mais populoso do mundo representou 24% de um total de 1,3 milhões de hectares de florestas dos trópicos destruídas nesse ano.
A UE, com 16% nesse ano, ficou à frente da Índia (9%), Estados Unidos da América (7%) e Japão (5%). Durante o período analisado, os principais produtos importados com mais desflorestação associada foram a soja, o óleo de palma e a carne de bovino, seguindo-se os produtos de base florestal, o cacau e o café.
“Este relatório fornece informação essencial para uma acção concertada e urgente em defesa das florestas e da biodiversidade existente. Sabíamos que o consumo dos países da União Europeia tem um impacto significativo na desflorestação das regiões tropicais e na conversão de habitats, mas não sabíamos com o rigor científico que nos é apresentado agora que a UE apenas é ultrapassada pela China, consumindo mais florestas tropicais e destruindo outros ecossistemas que a Índia, Estados Unidos e Japão”, considerou Catarina Grilo, directora de conservação da ANP – WWF. “A forma como comemos em Portugal e na Europa está literalmente a devorar as florestas mundiais e outros ecossistemas também.”
O novo documento surge numa altura em que Bruxelas está a preparar nova legislação para combater a destruição de florestas, sendo por isso urgente a criação de “um enquadramento legal capaz de abordar a totalidade da pegada do consumo causado pela UE nas florestas do nosso planeta e outros ecossistemas como prados e zonas húmidas”, sublinha a organização parceira da WWF.
“A Comissão Europeia, e Portugal, deverão considerar os resultados deste estudo como um alerta e criar uma proposta de legislação forte e capaz de combater a pegada da UE”, acrescentou ainda Catarina Grilo, para quem é importante “impedir que os produtos que contribuem para a destruição da natureza (legalmente ou ilegalmente) e que violam direitos humanos entrem nos mercados europeus e garantir que as empresas cumprem as regras definidas”.
Saiba mais.
Conheça aqui a versão original do relatório da WWF, em inglês.