A população de pardilheira (Marmaronetta angustirostris), no centro de um projecto de conservação, continua a aumentar. Em 2024 foram registados um número recorde de 130 casais reprodutores e 806 crias, anunciou a 3 de Abril o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (Miteco).
A reprodução de pardilheira alcançou um número recorde em relação aos últimos 20 anos com 130 casais reprodutores e 806 crias nascidas em 2024, segundo os dados mais recentes anunciados pelo grupo de trabalho dedicado a esta espécie.
Isto significa que em 2024 houve mais 55 casais do que em 2023, o que supõe um crescimento de 73%, e quase o dobro de crias.
A pardilheira é uma das sete espécies classificadas como em situação crítica em Espanha – até meados do século XX, a pardilheira era abundante nas zonas húmidas costeiras mediterrânicas, especialmente em Doñana – e é a espécie de pato mais ameaçada da Europa. Em Portugal está Regionalmente Extinta.
Nas últimas décadas, o seu declínio foi tão drástico que esta espécie de interesse comunitário passou a estar Criticamente Em Perigo de extinção. Em 2020 apenas foram registados 45 casais reprodutores em Espanha, que é quase o único local de distribuição desta espécie na Europa.
Agora, o ministério espanhol fala num “esperançoso aumento da tendência de recuperação deste pato classificado como Criticamente Em Perigo de extinção em Espanha e o mais ameaçado da Europa”.
O número de casais reprodutores chegou mesmo a superar a meta dos 125 casais previstos no projecto LIFE Cerceta Pardilla que está a decorrer em Espanha com a coordenação da Fundación Biodiversidad, do MITECO.
Há quatro anos que este projecto, que acabará em Dezembro deste ano, desenvolve várias acções para reverter o risco de extinção da espécie, entre elas a melhoria do estado de conservação de mais de 3000 hectares de zonas húmidas, habitat essencial para a sobrevivência da pardilheira e de muitas outras espécies.
E este é um trabalho que está a dar frutos. “Os últimos números de reprodução de pardilheira são os mais elevados desde 2004 e continuam a tendência geral de aumento observada desde 2021, apesar de existirem anos intercalados com níveis de produtividade mais baixos”, refere o ministério espanhol em comunicado. “O número de crias também voltou a subir e a registar um máximo em 2024, com 806 crias; até então o ano com mais crias, 740, tinha sido 2022.”
Andaluzia é a comunidade autonómica com mais casais reprodutores, 101 que tiveram 618 crias. Depois, segue-se a Comunidade Valenciana (21 casais e 139 crias), as Ilhas Baleares (quatro casais e 28 crias), Castela-La Mancha (dois casais e 10 crias), Comunidade de Madrid (um casal e duas crias) e a Região de Múrcia (um casal e oito crias). O ministério espanhol sublinha que nesta última comunidade autonómica conseguiu-se a primeira reprodução da espécie desde 2008, quando se reproduziu na Laguna de las Moreras, em Mazarrón.
“As condições hidrológicas na região do Baixo Guadalquivir, com abundantes chuvas na primavera, melhoraram os níveis e a qualidade da água em numerosas zonas húmidas, o que favoreceu a reprodução da espécie”, explica o ministério. Ainda assim, no Levante e Baleares o ano passado foi de falta de água e de um défice de locais favoráveis à reprodução da espécie, à semelhança do que aconteceu em 2023.
O ano de 2024 também ficou marcado pela compra da herdade La Raja, no Parque Natural del Hondo (Comunidade Valenciana), no âmbito do LIFE Cerceta Pardilla. “Essa herdade, sumida à herdade El Espigar, comprada anteriormente pelas organizações ANSE e SEO/Birdlife, supõem um total de 141 hectares de zonas húmidas destinadas à conservação da espécie num dos enclaves prioritários para a sua sobrevivência.”
“A temporada de reprodução de 2025 está a ser beneficiada por condições hidrológicas excepcionais, que estão a permitir ter esperança na consolidação da tendência positiva da reprodução da espécie.”
Além do que acontece em plena natureza, a conservação também se faz em cativeiro. O programa de reprodução em cativeiro permitiu, graças à coordenação de todos os parceiros, a libertação na natureza de 3042 indivíduos, o triplo do previsto no projecto LIFE Cerceta Pardilla.
Destes 3042, um total de 95 foram equipados com dispositivos para o seu seguimento via satélite para melhorar o conhecimento sobre os seus movimentos e ameaças.
Além disso foram instaladas mais de 100 caixas-ninho para fomentar a sua reprodução.