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Conservação: população do pato mais ameaçado da Europa consegue 740 crias em 2022

15.12.2022
Pardilheira. Foto: Miteco

A população de pardilheira (Marmaronetta angustirostris), no centro de um projecto de conservação, continua a aumentar. Este ano foram registados 115 casais e 740 crias, anunciou hoje o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (Miteco).

A espécie vive hoje nas zonas húmidas da Comunidade Valenciana (51,3%), Andaluzia (38,2%), Ilhas Baleares (7,8%) e Castela-La Mancha (2,6%), segundo dados do Miteco.

As equipas por detrás da conservação desta espécie reúnem-se uma vez por ano. A última aconteceu a 1 de Dezembro, em Clot de Galvany (Elche, Comunidade Valenciana) e aí foram revelados os dados populacionais da espécie e os avanços nas acções de conservação realizadas, assim como os acordos para desenvolver novas medidas.

Ainda que o número de casais seja superior ao de 2021, quando se registaram 105 casais reprodutores, o número de crias foi ligeiramente inferior aos 759 registados no ano passado. O ministério espanhol explica o facto com “a escassez de água em algumas zonas húmidas, como as da Andaluzia, o que afectou negativamente a espécie por depender directamente delas para a sua reprodução”.

O pato mais ameaçado da Europa

A pardilheira é uma das sete espécies classificadas como em situação crítica em Espanha – até meados do século XX, a pardilheira era abundante nas zonas húmidas costeiras mediterrânicas, especialmente em Doñana – e é a espécie de pato mais ameaçada da Europa. Em Portugal está Regionalmente Extinta.

Pardilheira. Foto: Miteco

Nas últimas décadas, o seu declínio foi tão drástico que esta espécie de interesse comunitário passou a estar Criticamente Em Perigo de extinção. Em 2020 apenas foram registados 45 casais reprodutores em Espanha, que é quase o único local de distribuição desta espécie na Europa.

“A perda e degradação do habitat é a sua maior ameaça e põe em causa a própria sobrevivência da espécie. As zonas húmidas sofrem o impacto da seca, da poluição, da proliferação de barreiras artificiais e outras ameaças causadas por actividades humanas”, segundo o ministério espanhol.

Nos últimos anos, autoridades ambientais autonómicas e da administração central e organizações não governamentais uniram-se para tentar recuperar esta espécie. Uma das acções no terreno é o projecto LIFE Cerceta Pardilla, coordenado pela Fundación Biodiversidad do Miteco até 2025. O objectivo é melhorar o estado de conservação e restaurar 3.000 hectares de zonas húmidas para travar o risco de extinção da pardilheira.

Este ano foram feitas as primeiras acções para restaurar El Espigar, uma propriedade de 55 hectares no Parque Natural El Hondo (Alicante) e adquirida no âmbito do projecto LIFE Cerceta Pardilla. Foi feita a gestão da vegetação, a adequação de comportas e dragagem de canais para garantir uma adequada quantidade de água ao longo de todo o ano.

Também na Andaluzia está a ser feita a melhoria da gestão de zonas húmidas chave para esta espécie, em especial no baixo Guadalquivir.

A reprodução em cativeiro em centros de referência é outra medida considerada crucial. De momento estes patos são reproduzidos na Comunidade Valenciana, na Reserva Natural Concertada Cañada de los Pájaros (Sevilla) e no Zoobotânico de Jerez de la Frontera (Cádiz).

Este ano, os centros andaluzes e valencianos libertaram um total de 839 pardilheiras nas zonas húmidas da Andaluzia, Comunidade Valenciana, Castela-La Mancha e Comunidade de Madrid. Estas acções vão “reforçar as populações selvagens”. Outros animais foram transferidos para a sua libertação no âmbito de um projecto de recuperação que está a decorrer na Sicília (Itália).

Para o ano, os responsáveis prevêem ampliar este esforço a outras comunidades autónomas para ajudar a recuperar a área de distribuição da espécie.

Ao longo de 2022 foram ainda marcados 63 exemplares com GPS para melhorar o conhecimento sobre a actividade e movimentos desta espécie. Graças à informação agora recolhida podem ser “estabelecidas metodologias comuns com os países do Norte de África para onde a pardilheira migra no Inverno”. Além disso, a informação gerada também permite identificar as principais causas de mortalidade e encontrar soluções para reduzir essas ameaças.

Em 2022 foram assinados acordos de custódia do território com gestores privados de propriedades agrícolas, de criação de gado e cinegéticas para a gestão positiva do habitat.

Outro feito deste ano foi a avaliação da variabilidade e estrutura genética das populações em cativeiro e selvagens, em colaboração com a Estación Biológica de Doñana. Os resultados “permitem caracterizar os indivíduos presentes em distintas áreas geográficas onde se distribui a espécie e nos centros de reprodução em cativeiro para orientar melhor as acções de conservação”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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