Seis associações de Ambiente consideram pouco os dois cêntimos de taxa por cada cartucho feito de chumbo usado por caçadores, uma medida proposta no Orçamento do Estado para 2017. Em vez disso, pediram hoje o fim do chumbo nas munições e a sua substituição por materiais não poluentes.
A taxa de dois cêntimos sobre cada munição de chumbo, proposta pelo Governo, é “uma medida insuficiente para reduzir ou compensar a poluição provocada por este contaminante” na actividade cinegética, diz a Coligação C6 (GEOTA, FAPAS, LPN, Quercus, SPEA e WWF Portugal), em comunicado. “A única medida realmente eficaz seria a interdição do seu uso e a substituição por ligas metálicas alternativas.”
As associações alertam que o chumbo nos cartuchos é um metal pesado que contamina os solos e a água. Este chumbo é depois absorvido por pessoas e animais que ingerirem água ou alimentos cultivados em solos contaminados, acumulando-se de forma lenta.
“A contaminação por chumbo pode comprometer o funcionamento do sistema nervoso, patologia conhecida por saturnismo, ou do funcionamento da medula óssea e dos rins, tendo levado a que Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro (International Agency for Research on Cancer- IARC) o tenha considerado como um possível carcinogénico”, salientam os ambientalistas.
O chumbo também é um perigo para a vida selvagem, que afecta especialmente aves aquáticas como os patos, acumulando-se nas cadeias tróficas, causando a morte por envenenamento. Estima-se que em algumas zonas húmidas mais de 10% das populações de patos sofram de saturnismo, lembram as associações.
Também os grandes predadores – como águias, abutres e lobos – acumulam doses letais de chumbo no seu organismo ao consumirem presas contaminadas.
Para a C6, o chumbo nos cartuchos usados na caça “não é aceitável duma sociedade informada e responsável”, por contaminar albufeiras, açudes, rios e ribeiros.
Outra diferença de opiniões entre a proposta de Orçamento e a coligação é o destino a dar à eventual taxa sobre as munições com chumbo. O Governo entende que as verbas devem ser investidas no sector da caça; a coligação sugere que devem ser usadas para “despoluir, proteger espécies ameaçadas pelo chumbo ou mesmo em medidas destinadas a banir definitivamente a utilização do chumbo”.