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Foto: Andreas/Pixabay

Cinco coisas que podemos fazer para ajudar a travar a extinção de espécies

30.11.2018

Cristiana Palmer, secretária-executiva da Convenção da ONU para a Diversidade Biológica, dá cinco ideias do que podemos fazer para ajudar a travar a destruição da natureza.

 

A responsável falou aos jornalistas à margem da 14ª Conferência das Partes (COP14) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica, que decorreu de 17 a 29 de Novembro em Sharm el-Sheikh, no Egipto. Ali, líderes mundiais reuniram-se para discutir o futuro da política de biodiversidade e da conservação depois de 2020.

 

1. Compreender as implicações da perda de biodiversidade:

A variedade da vida animal e botânica no mundo é um capital que não nos podemos dar ao luxo de perder. Ao perdê-lo estamos a perturbar a teia da vida que nos suporta, diz Palmer à BBC.

Ainda esta semana, a equipa de botânicos da Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental alertou que Portugal poderá ter perdido 24 espécies de plantas nativas.

“Vejo a perda de biodiversidade como um assassino silencioso. O seu impacto não é tão visível quanto o das alterações climáticas mas, em muitos aspectos, é bem mais perigoso.”

Na opinião de Palmer, as pessoas, “de uma maneira correcta ou não”, associam tudo o que acontece no planeta às alterações climáticas porque não têm tanta informação sobre o papel da biodiversidade, contou à agência espanhola de notícias EFE. A responsável aproveitou para notar que “a biodiversidade é uma das melhores maneiras para tratar os problemas das alterações climáticas”.

“Precisamos de nos preocupar não só com as alterações climáticas mas com o estado do planeta em geral”, disse à Deutsche Welle, o canal internacional alemão de notícias. “A biodiversidade é a infraestrutura que suporta a vida na Terra. Não podemos funcionar sem ecossistemas saudáveis. As alterações climáticas são apenas um resultado que mostra que o planeta já não é saudável. Mais perdas de biodiversidade causam mais alterações climáticas e vice-versa; estamos num ciclo vicioso”.

 

2. Pensar naquilo que comemos:

Aquilo que consumimos tem implicações na saúde do planeta. “Não estou a dizer que todos se devem tornar vegetarianos”, diz Palmer à BBC. “Mas devemos ter a consciência de que as nossas preferências às refeições contribuem para as alterações climáticas o que, por sua vez, afecta os habitats e os ecossistemas.”

 

3. E pensar naquilo que compramos:

Cada vez é mais fácil identificar a origem dos materiais usados para produzir inúmeras coisas que consumimos, desde móveis a alimentos. “O consumidor pode ser informado. Por exemplo, a sua sandes de atum – de onde veio aquele atum? Veio de um habitat que está ameaçado?”

“As nossas escolhas estão a causar perdas de biodiversidade”, sublinhou à Deutsche Welle. “Podemos consumir menos e podemos ser mais conscientes com aquilo que consumimos. Por exemplo, é importante reduzir o nosso consumo de plásticos. Também podemos reduzir o nosso consumo de carne vermelha e laticínios”, continuou.

“Também podemos pensar duas vezes antes de comprar animais selvagens exóticos ou produtos feitos de uma planta exótica. Estamos no Ano Internacional dos Recifes (International Year of the Reef) e os corais são extraordinariamente sensíveis às alterações climáticas. Por isso, talvez devamos evitar protetores solares com ingredientes químicos que acabam na água e afectam os corais. Estes são só alguns exemplos das nossas escolhas diárias”.

 

4. Preocuparmo-nos tanto com os pequenos animais e plantas, como com os mais carismáticos:

Palmer diz que muitas vezes lhe perguntam por que nos devemos preocupar com a extinção de uma borboleta na Amazónia ou com a perda de um pequeno escaravelho. “A questão é que se os perdermos, perdemos o seu papel no sistema mais amplo”, explicou ao canal alemão. “Progressivamente veremos também este impacto com as alterações climáticas – uma alteração no bom funcionamento dos ecossistemas”.

“Quando olhamos para a biodiversidade temos de ver a imagem completa, porque cada espécie, não importa quão pequena é, tem um papel importante a jogar”, acrescentou.

“Todas as formas de vida estão interligadas. Precisamos, de facto, de mudar a narrativa quando falamos de biodiversidade, temos de garantir que as pessoas compreendem que a biodiversidade diz respeito a todas as vidas no planeta, incluindo a nossa.”

 

5. Olharmos para a biodiversidade como um capital limitado:

“Só temos um planeta, precisamos de o tratar como tal”, disse Palmer à Deutsche Welle. Esta ideia deverá estar presente no nosso dia-a-dia mas também orientar as negociações para a política mundial da biodiversidade na década 2020-2030.

Na opinião de Palmer, conseguiu-se um “bom progresso” em várias das metas de Aichi, “especialmente e muito importante, na número 11”, segundo a qual pelo menos 17% das zonas terrestres e de águas interiores e 10% das zonas marinhas e costeiras estarão conservadas através de sistemas de áreas protegidas, disse à espanhola EFE.

“Mas não podemos ficar por aqui. Não podemos preservar a nossa diversidade pondo uma vedação em redor destas áreas e destruindo tudo o que está fora delas. Precisamos gerir toda a terra e água de uma forma sustentável.”

Também é importante aumentar não só a quantidade de áreas protegidas mas também a qualidade da gestão. “Em geral, precisamos de uma abordagem à biodiversidade mais transformativa. Precisamos de considerá-la um capital limitado.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Durante a COP14 foi apresentado o Roteiro para a Conservação do Jaguar nas Américas 2030.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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