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Cientistas encontraram petróleo da Deepwater Horizon no organismo de pardais

16.11.2016

A explosão na plataforma petrolífera Deepwater Horizon, no Golfo do México, a 20 de Abril de 2010 causou a pior maré negra da história dos Estados Unidos. Agora, cientistas encontraram as primeiras provas de que o petróleo derramado entrou no organismo de uma espécie terrestre, o pardal-marinho.

 

Os efeitos da tragédia de há seis anos – relembrada por Hollywood no filme que estreou em Setembro em Portugal, “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo” – continuam a ser estudados. E a causar surpresa.

Uma equipa de investigadores da Universidade estatal do Louisiana analisou o conteúdo do trato digestivo e as penas de pardais-marinhos (Ammodramus maritimus), uma ave residente nas zonas húmidas do Louisiana. Estas aves foram capturadas mais de um ano depois da explosão da plataforma, explorada pela BP. Estima-se que tenham sido libertados cerca de 700.000 metros cúbicos de petróleo para as águas do Golfo do México.

As aves que foram capturadas em habitats expostos ao petróleo tinham uma assinatura química diferente nos seus tecidos em relação às aves capturadas em áreas aonde o petróleo não chegou.

 

Foto: Philip Stouffer/LSU School of Renewable Natural Resources

 

Os investigadores concluem que o petróleo da Deepwater Horizon foi incorporado nas presas e nas penas das aves nas regiões afectadas.

“Sabemos que o carbono do petróleo entrou nas cadeias alimentares offshore e perto da costa, como já demonstrado no plâncton e nos peixes. Mas esta é a primeira prova de que o carbono do petróleo também foi integrado numa espécie terrestre, o pardal-marinho”, disse Sabrina Taylor, da Escola de Recursos Naturais daquela universidade.

“Tendemos a pensar que os ecossistemas terrestres estão a salvo da poluição dos derrames de petróleo”, disse Andrea Bonisoli Alquati, professor de toxicologia ambiental no Departamento de Ciências Biológicas na California State Polytechnic University, Pomona, e principal autor do estudo, publicado ontem na revista Environmental Research Letters. “Mas a fronteira entre ecossistemas marinhos e terrestres é muito menos definida do que julgamos. As espécies que vivem na fronteira não só estão vulneráveis aos efeitos tóxicos do petróleo mas também podem ser responsáveis pelo seu transporte para as cadeias alimentares terrestres”, explicou.

Num comentário ao estudo, Richard Shore, do Centro britânico para a Ecologia e Hidrologia, disse à BBC que os resultados são interessantes mas não surpreendentes. “Os pardais alimentam-se de invertebrados marinhos e terrestres, por isso a exposição poderia ter acontecido pela cadeia alimentar marinha”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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