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Holotipo de Acontias mukwando. Foto: Arthur Tiutenko

Cientistas descreveram 153 novas espécies em 2023

28.12.2023

Aranhas, plantas, estrelas-do-mar, lagartos, escaravelhos, abelhas, vespas e um escorpião fazem parte da lista das 153 espécies que os investigadores da Academia das Ciências da Califórnia descreveram para a Ciência durante 2023.

Mais de uma dezena de investigadores da Academia das Ciências da Califórnia, nos Estados Unidos, – ao lado de vários colaboradores internacionais – descreveram 153 novas espécies de animais, plantas e fungos em 2023, ajudando a compreender a biodiversidade da Terra e a melhorar a nossa capacidade para regenerar o mundo natural.

As espécies descritas agora para a Ciência incluem 66 aranhas, 20 lesmas do mar, 18 plantas, 13 estrelas-do-mar, 12 geckos, 10 escaravelhos, cinco peixes, quatro minhocas, duas vespas, um caracol marinho e um escorpião.

Actualmente, “mais de um milhão de espécies continuam ameaçadas devido a actividades humanas que causam a destruição de habitats, alterações climáticas e poluição”, sublinhou, em comunicado, Scott Sampson, director-executivo da Academia.

“Temos de documentar a diversidade viva da Terra para conseguirmos protegê-la e a Academia das Ciências da Califórnia tem muito orgulho em fazer parte deste esforço mundial crucial”, acrescentou o responsável.

Na opinião de Scott Sampson, é preciso ir além da protecção e almejar a “regeneração e a promoção da saúde e resiliência dos ecossistemas para as gerações futuras de humanos e de não humanos”.

Provando que o nosso planeta ainda alberga espaços por explorar e espécies ainda não registadas, os cientistas fizeram as suas descobertas em seis continentes e em quatro oceanos.

Aqui ficam cinco das espécies descritas este ano para a Ciência.

Um lagarto descrito por portugueses

Holotipo de Acontias mukwando. Foto: Arthur Tiutenko

Uma equipa de investigadores portugueses – entre eles Diogo Parrinha (investigador que identifica répteis do Que Espécie É Esta), Luís Ceríaco e Mariana Marques – descreveu para a Ciência uma nova espécie de lagarto, o lagarto-lança-da-Serra-da-Neve (Acontias mukwando), num dos locais mais biodiversos de Angola. A descoberta, onde também participou Aaron Bauer, da Academia das Ciências da Califórnia, foi uma das escolhidas para exemplificar as 143 espécies descritas em 2023.

O holotipo foi colectado por Diogo Parrinha, Mariana Marques e Luís Ceríaco a 28 de Outubro de 2022. Foi encontrado debaixo de uma rocha granítica; os outros indivíduos recolhidos foram encontrados entre as folhas caídas no chão da floresta da ilha-montanha da Serra da Neve no sudoeste de Angola.

“Cada nova espécie que descrevemos nesta montanha, e em outras como ela, prova que locais como este merecem algum tipo de conservação”, comentou Bauer. “Continuamos a encontrar novas espécies nestas ‘ilhas’ isoladas, o que nos diz que ainda não é demasiado tarde para a sua protecção.”

Um escorpião ameaçado do Deserto San Joaquin (Califórnia)

Depois de terem descrito duas novas espécies de escorpiões para a Ciência em 2022, Harper Forbes e Prakrit Jain, juntamente com Jacob Gorneau e Lauren Esposito, acrescentaram um novo nome à lista dos escorpiões da Califórnia: o Paruroctonus tulare. Apesar de esta espécie ter sido registada pela primeira vez em 2020 na Bacia de Tulare por um utilizador da plataforma iNaturalist, foram precisos mais de dois anos para os investigadores recolherem informações e espécimes no Deserto San Joaquin para formalmente descreverem esta espécie.

“Verificámos cada pedaço de terra na área que ainda não estava a ser usado para fins agrícolas”, contou Prakrit Jain. Os investigadores acabaram por conseguir encontrar este escorpião em 12 locais diferentes.

19 aranhas australianas

Este ano, a investigadora da Academia, Sarah Crews, acrescentou 19 aranhas da Austrália ao género Karaops. Estas pequenas aranhas, com apenas dois milímetros, são conhecidas pela sua incrível velocidade. Quando Crews começou a estudar este grupo de aranhas na Austrália em 2010, apenas tinha sido identificada formalmente uma espécie do género Karaops. Mas ao longo da última década, Crews acrescentou mais 53 espécies a este género. “Não são necessariamente raras, apenas são incrivelmente difíceis de apanhar!”, comentou.

Uma suculenta que gosta de penhascos

Apesar de uma espécie ser nova para os cientistas ocidentais pode já existir há milénios e ser reconhecida há muito por comunidades indígenas locais. Este ano, o investigador da Academia Isaac Lichter Marck e cientistas do Instituto Politécnico Nacional em Durango, México, descreveram uma planta suculenta rara, encontrada em penhascos da Sierra Madre Ocidental: a Pachyphytum odam. Mas há séculos que os O’dam, da comunidade de La Muralla, conhecem esta planta como da’npakal. “Os O´dam conhecem o seu território melhor do que ninguém e mantêm uma relação próxima com a sua biodiversidade local”, comentou Arturo Castro-Castro, investigador que colaborou na descrição desta planta. “Eles preservam um património biocultural incomparável e um vasto conhecimento tradicional ligado à Botânica.”

Uma flor da Costa Rica que ficou com o nome correcto

Os botânicos da Academia revelaram que uma planta comum da Costa Rica estava classificada de forma errada há mais de 150 anos como uma determinada espécie. Descrita este ano pelos investigadores Tom Daniel e Ricardo Kriebel, a Stenostephanus purpureus foi erradamente confundida com a S. silvaticus, um planta do México, quando foi colhida pela primeira vez em 1855. Apesar de ter identificado e colhido esta espécie agora descrita várias vezes, Kriebel detectou o erro quando estava a consultar as observações do género submetidas na plataforma iNaturalist. “Nunca questionei a identificação dos espécimes da Costa Rica”, comentou Kriebel, “pelo menos até ter feito uma comparação com imagens de plantas vivas do México. As diferenças entre as duas são subtis quando estamos a trabalhar com espécimes secos nas colecções dos herbários.”

Afinal, a S. purpureus e a S. silvaticus diferem tanto quanto à cor das flores como à morfologia do pólen.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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