Quem participou no primeiro bioblitz na Estação da Biodiversidade do Merujal (EBIO do Merujal), na Serra da Freita, aprendeu a identificar diferentes insectos, anfíbios, répteis, morcegos, e até uma aranha.
Num bioblitz, cidadãos comuns observam e participam no registo de espécies de um determinado local, com a ajuda e orientação de diferentes especialistas, contribuindo desta forma para o conhecimento científico.
Os 96 participantes nesta acção de ciência cidadã a 5 de Outubro, sábado, quando o bioblitz se dirigiu ao público em geral – sexta-feira tinha sido a vez das escolas – contribuíram para o registo de mais de 30 espécies diferentes na EBIO do Merujal, que fica no distrito de Aveiro, no território do Arouca Geopark. Esta EBIO consiste num pequeno percurso com 1,7 quilómetros.
“Entre as 15h00 e as 18h00, [os participantes] acompanharam as capturas e identificação de anfíbios, insectos e aranhas e micromamíferos. Munidos de redes entomológicas, frascos de recolha, camaroeiros e armadilhas para pequenos ratinhos, foram colaborando nos trabalhos de campo dos investigadores das Universidades de Aveiro, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro”, descreveu Rita Rocha, da Mundo Científico, empresa que participou na organização desta saída.
Quando a noite caiu, o desafio foi identificar espécies de morcegos que vivem no Merujal, através dos seus chamamentos ultrassónicos. “Apesar do frio que se fez sentir na Serra da Freita, o entusiasmo do grupo não esmoreceu e foi plenamente recompensador.”
Assim, entre os morcegos que se fizeram ouvir, estiveram o morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus), o morcego-de-Kuhl (Pipistrellus kuhlii), o morcego-arborícola-pequeno (Nyctalus leisleri), o morcego-negro (Barbastella barbastellus) e o morcego-rabudo (Tadarida teniotis), entre outros.
Antes, durante a tarde, já tinham sido observadas pelo menos 15 espécies de insectos, de acordo com dados ainda provisórios, entre os quais o louva-a-deus (Mantis religiosa), a borboleta-da-couve (Pieris brassicae), a borboleta-azulinha (Lampides boeticus), a libélula imperador-azul (Anax imperator), a vespa Vespula germanica e a invasora vespa-asiática (Vespa velutina).
E ainda uma espécie pouco habitual. “Foi a primeira vez – em 25 anos de bicharada – que encontrei a Notonecta meridionalis”, comentou José Manuel Grosso-Silva, curador de entomologia do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, depois de participar como biólogo neste bioblitz. Conhecidos em inglês pelo nome comum ‘nadador de costas’ (‘backswimmer’), os insectos deste género fazem precisamente isso: nadam de costas através de lagos e cursos de água.
Já o tritão-de-ventre-laranja (Lissotron boscai) foi um dos cinco anfíbios encontrados, tal como o tritão-marmoreado (Triturus marmoratus), a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), a rã-ibérica (Rana iberica) e a rã-verde (Pelophylax perezi). A estas espécies, juntou-se apenas um réptil: o lagarto-de-água (Lacerta schreiberi).
Os participantes também puderam ficar a conhecer uma espécie de aranha, a aranha-vespa (Argiope bruennichi). É uma das maiores aranhas de Portugal e considerada por especialistas uma das mais belas.
Além de José Grosso-Silva e dos biólogos da equipa da Mundo Científico, também conduziram este bioblitz outros três investigadores: Daniela Teixeira, investigadora do Departamento de Biologia e do CESAM-Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, e Virgínia Duro e Sandra Faria, do Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
““Não se gosta do que não se conhece”
Os dados obtidos vão agora ser aplicados em projectos com alunos das escolas da região e com a população local, adiantou Rita Rocha, que explicou à Wilder que este primeiro bioblitz “enquadra-se numa estratégia mais vasta de promover localmente a biodiversidade e a educação para o território”. “Não se gosta do que não se conhece e não se conhece algo com que não se contacta”, salientou.
Desde Agosto, começaram também a realizar-se expedições com participantes mais jovens na Serra da Freita, sempre com o objectivo de dar a conhecer a natureza local. “A surpresa pelo que foram descobrindo reforçou uma ideia que não é, de todo, exclusiva daquele território: conhecemos, de facto, muito pouco das maravilhas que temos à porta. E o fascínio, quando nos ensinam realmente a ‘Ver’, é o gatilho para a vivência ativa do território”, notou a mesma responsável.
Esta atividade enquadrou-se no projecto “Expedição Científica do Território Arouca Geopark”, promovida pelo município de Arouca, em colaboração com a AGA – Associação Geoparque Arouca. Foi dinamizada pela Mundo Científico e pelo Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e contou ainda com o apoio de investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Aveiro.
O projecto é cofinanciado pelo Ministério do Ambiente e da Transição Energética, Fundo Ambiental e ENEA2020.
Saiba mais.
Conheça as espécies observadas neste bioblitz e noutras expedições científicas realizadas na EBIO do Merujal, registadas na plataforma BioDiversity4All.