Ligar áreas protegidas entre si é essencial para a sobrevivência dos elefantes africanos da savana e para muitas outras espécies, segundo um novo estudo científico que ajuda a quantificar por que razão esta estratégia funciona.
Uma equipa internacional de investigadores concluiu que a solução para a sobrevivência a longo prazo dos elefantes africanos da savana (Loxodonta africana) exige não apenas que determinadas áreas sejam protegidas mas também que estas estejam ligadas para permitir às populações estabilizarem naturalmente.
O seu estudo, publicado a 5 de Janeiro na revista científica Science Advances, reuniu dados de 713 censos feitos entre 1995 e 2020 e calculou as taxas de crescimento para mais de 100 populações de elefantes no Sul do continente africano, o que representa 70% da população total de elefantes africanos da savana. O estudo abrangeu 103 áreas protegidas, onde vivem mais de 290.000 elefantes, da Tanzânia para Sul.
“Esta é a mais completa análise às taxas de crescimento para uma população de grandes mamíferos no mundo”, comentou, em comunicado, Rob Guldemond, co-autor do estudo e investigador da Unidade de Conservação Ecológica (CERU, sigla em Inglês) na Universidade de Pretória, na África do Sul.
No geral, os resultados dos censos são positivos. Existem hoje o mesmo número de elefantes como havia há 25 anos atrás, um raro sucesso conservacionista numa altura em que o planeta está rapidamente a perder a sua biodiversidade. Mas o padrão não é consistente em todas as regiões, alertam os investigadores. Algumas áreas – como no Sul da Tanzânia, no Leste da Zâmbia e no Norte do Zimbabwe – registaram acentuados declínios por causa da caça furtiva, em nome do tráfico de marfim. Em contraste, as populações noutras regiões, como o Norte do Bostwana, estão a crescer.
“Um crescimento sem controlo também não é, necessariamente, uma coisa boa”, advertiu Stuart Pimm, outro dos autores do artigo e professor de Conservação na Universidade Duke, na Carolina do Norte (Estados Unidos). “Populações que crescem rapidamente podem esgotar recursos e danificar o seu ambiente local, uma situação que as pode ameaçar a longo prazo.”
Além de avaliar as taxas de crescimento locais, a equipa de investigadores também estudou características das populações locais para identificar o que as torna estáveis, ou seja, que não estão nem a crescer nem a diminuir.
As populações de elefantes em parques bem protegidos mas isolados, por vezes chamados de “fortalezas de conservação”, crescem rapidamente na ausência de ameaças mas são insustentáveis a longo prazo. Esses elefantes poderão vir a precisar de intervenção a nível de conservação, nomeadamente translocações ou controlo de nascimentos, medidas caras e com os seus riscos.
A equipa descobriu que as populações mais estáveis ocorrem em áreas grandes e consideradas cruciais que estão rodeadas por zonas tampão. As áreas cruciais têm elevados níveis de protecção e impactos humanos mínimos; as áreas tampão permitem algumas actividades como agricultura sustentável, exploração florestal ou caça. Ao contrário das chamadas “fortalezas de conservação”, as áreas cruciais estão ligadas a outros parques, permitindo às manadas moverem-se naturalmente.
“O que é essencial é ter uma mistura de áreas com populações cruciais mais estáveis ligadas a zonas tampão mais variáveis”, comentou o coordenador do estudo Ryan Huang, investigador da CERU. “Essas zonas tampão absorvem os imigrantes quando as populações cruciais se tornam demasiado grandes mas também providenciam rotas de fuga quando os elefantes são confrontados com más condições de vida ou ameaças como a caça ilegal”, acrescentou.
Ter áreas protegidas ligadas entre si significa que os elefantes podem sair e entrar livremente; isto permite um equilíbrio natural sem intervenção humana, poupando recursos aos conservacionistas.
“A defesa de parques interligados não é novidade. Muitos o fizeram”, disse Huang. “Mas, surpreendentemente, não tem havido muitas provas científicas publicadas da sua eficácia. Este estudo ajuda a quantificar por que razão esta estratégia funciona.”
Para Celesté Maré, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, “ligar áreas protegidas é essencial para a sobrevivência dos elefantes africanos da savana e para muitas outras espécies de animais e de plantas”. “Populações com mais opções para se movimentar são mais estáveis e saudáveis, o que é importante dado o futuro incerto por causa das alterações climáticas.”
África tem duas espécies de elefantes: o elefante africano da floresta tropical (Loxodonta cyclotis), que está classificado como Criticamente Em Perigo, e o elefante africano da savana (Loxodonta africana) que está Em Perigo, segundo a Lista Vermelha da UICN.
Estima-se em cerca de 415.000 elefantes a população continental africana das duas espécies combinadas. Os elefantes africanos da floresta tropical vivem nas florestas tropicais da África Central e em vários habitats da África Ocidental. Raramente se sobrepõem aos territórios dos elefantes africanos da savana, que preferem zonas mais abertas da África sub-saariana.
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