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Arjan Mann e Calvin So. Foto: Smithsonian

Antepassado dos anfíbios descrito como nova espécie recebe nome do sapo Cocas

27.03.2024

Descoberto pela primeira vez há 40 anos, o Kermitops gratus é mais um testemunho do número de espécimes à espera de serem descritos nos museus de todo o mundo. 

Investigadores trabalharam um crânio fossilizado com 270 milhões de anos de um antepassado dos anfíbios na colecção do Museu de História Natural do Smithsonian, Estados Unidos. 

Num artigo publicado a 21 de Março na revista Zoological Journal of the Linnean Society, a equipa de investigadores descreveu o fóssil como uma nova espécie de proto-anfíbio à qual chamaram Kermitops gratus em honra do icónico sapo Cocas (“Kermit” em Inglês), personagem dos Marretas criada por Jim Henson em 1955.

Crânio fossilizado de Kermitops gratus (à esquerda) e crânio de um sapo dos nossos dias (Lithobates palustris, à direita). Foto: Smithsonian

Segundo Calvin So, estudante de doutoramento na Universidade George Washington e o principal autor do estudo, pôr o nome do sapo Cocas a esta espécie é uma oportunidade para entusiasmar as pessoas em relação às descobertas que os cientistas fazem usando as colecções de museu.

“Usar o nome Cocas tem implicações significativas na relação entre os paleontólogos e o público em geral”, disse Calvin So em comunicado. “Este é o nome perfeito porque este animal é um familiar distante dos anfíbios dos nossos dias e o Cocas é um ícone dos anfíbios modernos.”

Os cientistas deram ainda o nome “gratus” para representar a sua gratidão pela pessoa que originalmente descobriu este fóssil.

Arjan Mann. Foto: Smithsonian

O crânio fossilizado foi originalmente descoberto pelo paleontólogo Nicholas Hotton III, que foi curador naquele museu durante quase 40 anos. Hotton esteve em várias escavações na região central do Texas conhecida como Red Beds, que alberga fósseis de répteis, anfíbios, entre outros grupos de animais, incluindo os precursores dos mamíferos modernos.

Hotton e os colegas recolheram tantos fósseis que não conseguiram estudar todos em detalhe. Entre estes estava este crânio de proto-anfíbio, descoberto em 1984. Durante décadas esteve guardado nas colecções de fósseis do Smithsonian à espera de ser estudado com mais tempo. Durante todo este tempo apenas tinha a identificação ao nível da Família a que pertencia.

Em 2021, Arjan Mann, paleontólogo do Museu, estava a cuidar dos fósseis de Hotton quando um espécime em particular chamou a sua atenção. “Um fóssil imediatamente me despertou curiosidade, este crânio tão bem preservado”, comentou Arjan Mann que é co-autor deste artigo.

Arjan Mann e Calvin So trabalharam juntos para descobrir a que tipo de criatura pré-histórica pertencia aquele crânio. Acabaram por identificar o fóssil como sendo um temnospondyli, um grupo diverso de antepassados de anfíbios que viveram durante cerca de 200 milhões de anos. Mas porque o crânio tinha características tão únicas, os cientistas concluíram que pertencia a um novo género, ao qual chamaram Kermitops.

Arjan Mann e Calvin So. Foto: Smithsonian

Os registos fósseis de anfíbios e dos seus antepassados estão muito fragmentados, o que torna difícil compreender de que forma sapos e salamandras evoluíram. Adicionar antepassados como o Kermitops ajuda a compor a árvore genealógica desta família.

“O Kermitops dá-nos pistas para fecharmos esta enorme lacuna de conhecimento e começar a ver como os sapos e as salamandras desenvolveram as suas características tão especializadas”, comentou Calvin So.

Arjan Mann espera que esta descoberta de uma espécie escondida mesmo em frente dos nossos olhos inspire outros paleontólogos a olhar mais de perto para as colecções de fósseis dos museus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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