“O veneno não tem olhos” é o nome da campanha lançada ontem pela Junta da Andaluzia contra os perigos dos venenos para a fauna, flora e para o ambiente em geral.
Com esta campanha, a Junta da Andaluzia pretende chamar a atenção para o uso indiscriminado de venenos, “que não tem olhos, já que mata muito mais do que aquilo que vemos, incluindo espécies às quais não foi dirigido porque não é selectivo”, explicou, em comunicado, o delegado do Ambiente e Ordenamento do Território, Francisco de Paula Algar.
Entre as iniciativas previstas está a criação das primeiras Brigadas de Investigação ao Envenenamento que vão fazer inspecções caninas, em coordenação com o SEPRONA (Serviço de Protecção da Natureza da Guardia Civil espanhola), e investigação policial, fazendo a recolha de amostras biológicas e de indícios de delito, por exemplo.
Em Espanha, entre 1992 e 2013 registaram-se mais de 8.000 casos de envenenamento, dos quais resultaram 18.503 animais mortos, segundo um relatório publicado no ano passado pela organização WWF – Espanha e pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).
“Estes dados são apenas a ponta do iceberg”, disse Francisco de Paula Algar. “O uso ilegal de veneno constitui uma ameaça muito grave para a biodiversidade espanhola e, por extensão, para a europeia, já que o nosso país alberga entre 80 e 90% das populações europeias de espécies como o abutre-preto, o grifo e o abutre-do-egipto e é um refúgio fundamental para a sobrevivência no continente de outras espécies, como o quebra-ossos e o milhafre-real.”
Ainda este mês, três homens foram detidos na Extremadura espanhola por envenenamento de três águias-imperiais e dois milhafres-reais.
Mas os venenos afectam ainda outras espécies que não as aves, desde o urso-pardo, ao lobo-ibérico e ao lince-ibérico, acrescentou.
Em Portugal, dados do Programa Antídoto revelaram em 2015 que 145 indivíduos de espécies protegidas morreram envenenados de 2003 a 2014. Ao todo foram registados 1.534 animais mortos em 475 casos. Um desses casos foi a lince Kayakweru, encontrada morta por envenenamento a 12 de Março, duas semanas depois de ter sido libertada no Vale do Guadiana.