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Foto: Joana Bourgard

Alcácer do Sal: Geota alerta para “impacto irreversível” de central solar em Rede Natura 2000

11.06.2025

A organização ambientalista GEOTA contesta a localização de uma central solar com mais de 1 milhão de painéis em área de Rede Natura 2000, em Alcácer do Sal.

O GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente – manifestou a sua “total discordância” com a Proposta de Definição de Âmbito do Complexo Solar Fotovoltaico do Sado, em consulta pública até ao dia 11 de junho, e exige que o projeto seja rejeitado antes mesmo da realização de Estudo de Impacto Ambiental.

Em causa está a localização da central de 600 MW numa área integralmente sobreposta à Zona Especial de Conservação Comporta/Galé, parte da Rede Natura 2000.

A organização alerta para o “impacto irreversível” deste megaprojeto sobre habitats naturais, solos, linhas de água e biodiversidade, em particular sobre áreas de montado de sobro e azinho, espécies protegidas e ecossistemas de elevado valor ecológico.

Para o GEOTA, o projeto é um “exemplo paradigmático de como a transição energética não pode ser feita à custa da destruição do património natural protegido”, salientou em comunicado.

“O país comprometeu-se com a proteção efetiva de 30% do território e está a desenvolver um Plano de Restauro da Natureza. Avançar com uma central solar desta dimensão numa área protegida seria uma contradição total com estes objetivos”, disse Miguel Macias Sequeira, vice-presidente do GEOTA e investigador no CENSE NOVA-FCT. “As energias renováveis devem, preferencialmente, ser instaladas em áreas já edificadas ou degradadas e, nunca, em zonas classificadas.”

Além da questão ecológica, o GEOTA sublinha o contexto de saturação do território. O litoral alentejano tem sido alvo de sucessivos projetos turísticos, agrícolas e mineiros, cujos impactos cumulativos já afetam gravemente os ecossistemas, a disponibilidade de recursos hídricos e as comunidades locais. O projeto agora em consulta “acentua uma tendência de pressão insustentável”, alerta o grupo ambientalista.

Caso o projeto avance para a fase de Estudo de Impacto Ambiental, o GEOTA defende que este deverá apresentar medidas vinculativas e quantificáveis de mitigação e compensação, um plano de monitorização a longo prazo e um plano robusto de partilha de benefícios com as comunidades locais. Entre as medidas propostas, destaca-se a criação de comunidades de energia renovável geridas localmente, com apoio técnico e financeiro do promotor e a compatibilização do uso do solo com atividades agrícolas e pastoris.

“Uma transição energética justa implica ouvir as populações, garantir compensações reais e evitar injustiças ambientais. Este projeto, tal como está, falha em todos esses critérios”, alertou Miguel Macias Sequeira.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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