O leitor Rui Bem encontrou esta aranha na Gafanha da Encarnação, Ílhavo, a 18 de Fevereiro e pediu ajuda para saber qual a espécie. Sérgio Henriques responde.
“Encontrei este animal num lago de tartarugas” na Gafanha da Encarnação, Ílhavo, Aveiro.
Tratar-se-á de uma aranha-dos-bichos-de-conta (Dysdera cf. crocata).
Espécie identificada por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.
Esta é uma fêmea de Dysdera, possivelmente Dysdera cf. crocata.
É um predador sobretudo nocturno que habita muitas vezes as fundações ou áreas próximas de casas, como caves com alguma humidade, ou jardins. Também pode ser encontrada em cavernas, minas abandonadas, florestas, pauis e outras zonas húmidas ou dunas, normalmente debaixo de pedras, troncos, folhas mortas ou musgo.
É uma especie nativa da Europa até à Ásia central mas que foi introduzida na América do Norte, Chile, Brasil, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e até as ilhas remotas do Hawaii e Santa Helena (no Atlântico sul).
A sua distribuição é testemunha do seu sucesso em habitats modificados pelo homem, que talvez também seja consequência da abundância dos animais de que se alimenta – bichos de conta. Por isso é chamada de oniscofagicas (Oniscus sendo o nome científico de um género comum de bicho de conta).
Este pequeno predador produz seda, mas não a usa para fazer teia ou para caçar, preferindo fazer emboscadas. A sua longa boca é uma ferramenta eficaz que lhe permite ser dos poucos predadores a conseguir abrir um bicho de conta, depois deste se fechar. Esta mesma boca longa, permite que seja das poucas aranhas portuguesas capazes de perfurar a pele humana. No entanto a sua mordedura não é dolorosa e mesmo em casos em que foi descrita como dolorosa (dependendo da parte do corpo onde ocorreu), os seus efeitos são localisados (como um pouco de comichão) e temporários, passando em menos de 40 minutos.
Os machos são mais esguios mas conseguem levantar a fêmea que é consideravelmente maior durante o acasalamento.
Uma vez grávida, esta produz um casulo de seda branco puro dentro do qual se fecha completamente a limpar e a guardar os seu ovos, até que as suas crias estejam prontas para nascer.
Agora é a sua vez.
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