Banner

Que espécie é esta: aranha buraqueira-de alçapão-duplo

28.01.2020

O leitor Bruno Silva Rodrigues fotografou esta aranha na zona de Relíquias, Baixo Alentejo, em Dezembro de 2016 e quis saber a que espécie pertence. Sérgio Henriques responde.

 

Bruno Silva Rodrigues pergunta se este “estranho aracnídeo” será uma aranha Antrodiaetus pacificus.

 

 

Trata-se de uma aranha buraqueira-de alçapão-duplo (Ummidia algarve).

Espécie identificada e texto por: Sérgio Henriques, líder do grupo de especialistas em aranhas e escorpiões da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e especialista da Sociedade Zoológica de Londres.

Em Portugal não temos nenhuma espécie da família Antrodiaetidae, que apenas ocorre na América e no Japão. Logo, não poderia ser Antrodiaetus. Mas percebo porque é que a espécie pode parecer similar.

Este é um macho de Ummidia algarve, membro da família Halonoproctidae. Esta é uma espécie que só está registada para o nosso país.

Apesar de serem famílias tão diferentes quanto cães e gatos (na verdade, a separação entre canídeos e felídeos é mais recente), as duas famílias de aranhas têm hábitos mais ou menos semelhantes. São ambas aranhas buraqueiras, que vivem em tocas com tampa.

Além de construir um alçapão na sua toca, o que torna bastante difícil encontrar esta espécie na natureza, a aranha buraqueira-de alçapão-duplo tem um abdómen truncado (achatado com textura semelhante a solo), o que se denomina de fragmose.

Várias formigas também têm cabeças assim para um propósito semelhante.

Uma das aranhas mais “famosas” com esta estatégia são as Cycloscomia.

Esta estratégia de defesa permite que um predador que consiga encontrar a tampa, e que consiga forçar a sua entrada (a aranha agarra a tampa com força se alguém, ou algo, a tentar abrir), na escuridão do fundo da toca irá encontrar o que parece ser o fundo vazio, mas que na verdade pode ser o rabo da aranha a imitar solo.

Se mesmo assim o predador não se deixar enganar, a aranha tem ainda uma última estratégia: projectar as suas fezes contra o seu agressor. Estas podem ser projectadas dezenas de vezes mais longe que o tamanho da própria aranha.

Embora este comportamento tenha sido registado nos anos 30 ou até antes, e seja bem conhecido dos aracnológos, nunca se descobriu se o líquido projectado é mesmo fezes ou o produto de alguma glândula própria para o efeito.

O que eu sei é que uma vez arranjei uma daquelas fitas que medem o ph de líquidos e o que é projectado é altamente ácido, mas nunca se estudou ou se fez algo com este grupo ou com esta informação.

Aranhas são tão pouco estudadas em Portugal que esta espécie, Ummidia algarve, só foi descrita em 2010 por um amador belga. Se não fosse por ele ainda hoje a espécie nem teria nome.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Encontrou um animal ou planta que não sabe a que espécie pertence? Envie para o nosso email a fotografia, a data e o local. Trabalhamos com uma equipa de especialistas que o vão ajudar.

Explore a série “Que espécie é esta?” e descubra quais as espécies que já foram identificadas, com a ajuda dos especialistas.

 

[divider type=”thick”]

Descubra o Calendário Wilder 2020

Para o ano de 2020 criámos um calendário inspirado nas espécies de plantas, animais e cogumelos de Portugal, com 12 das melhores imagens que recebemos dos nossos leitores, através do Que Espécie É Esta. E com os dias mais especiais dedicados à Natureza, de Janeiro a Dezembro. 

Saiba aqui como adquirir. 

Desta forma está a apoiar o trabalho da Wilder, revista online independente dedicada ao jornalismo de natureza.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

Don't Miss