Realizador revela os desafios e as surpresas ao filmar o documentário “Migradores de longa distância”

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O documentário “Migradores de longa distância: entre o Tejo e o Ártico” estreia a 6 de Dezembro na RTP1. O realizador Joaquim Pedro Ferreira contou à Wilder os desafios e as surpresas destes dois anos de filmagens.

WILDER: Como surgiu a ideia de fazer este documentário?

Joaquim Pedro Ferreira: A ideia surgiu em 2018 quando fiquei a conhecer o trabalho do José Alves, que é investigador na Universidade de Aveiro. É este ciclo anual que José Alves segue cada ano, tentando desvendar os mistérios dos fenómenos migratórios e as respostas que estas espécies são capazes de apresentar perante as drásticas alterações dos seus habitats naturais, que torna estas histórias originais e impactantes. Na verdade, este é o primeiro documentário de uma triologia que queremos fazer em torno das migrações. Os outros terão protagonistas diferentes. 

W: Quando e onde decorreram as filmagens?

Joaquim Pedro Ferreira: As filmagens decorreram entre 2018 e 2019. Em Portugal, no estuário do Tejo, nos meses de Inverno e na costa sul da Islândia na Primavera e Verão de 2019. O objectivo era acompanhar a migração do maçarico-de-bico direito durante a época de invernada no estuário do Tejo e na época de reprodução na Islândia e, claro, o trabalho de investigação que era desenvolvido tanto em Portugal como na Islândia.

W: Quais os maiores desafios que enfrentou para filmar estas aves?

Joaquim Pedro Ferreira: As dificuldades para filmar os maçaricos-de-bico direito foram várias. A principal foi encontrar as aves e conseguir estar a uma distância que permitisse a obtenção de boas imagens a diferentes escalas. Apesar da ajuda dos investigadores com a indicação dos locais com maior potencialidade para encontar as aves, a imprevisibilidade da sua presença é enorme. Este aspecto foi particularmente dificil na Islândia, uma região que não era familiar para mim e onde a imensidão da paisagem acentuou, e de que maneira, a dificuldade em encontar as aves. Isto com poucos dias disponíveis para captar as imagens pretendidas.

W: O que mais o entusiasmou na história que queria contar?

Joaquim Pedro Ferreira: Tento encontrar histórias que cruzem a investigação com a conservação da natureza. O trabalho que a equipa liderada pelo José Alves estava a desenvolver em torno dos fenómenos migratórios fascinou-me. Havia dois aspectos que eram muito interessantes e atuais: o efeito das alterações globais na migração e sobrevivência destas aves, em particular o maçarico-de-bico-direito, que viria a ser o protagonista deste documentário; e a investigação de ponta utilizada, nomeadamente o uso de tecnologia GPS, que permitia ter informação detalhada sobre as movimentações das aves no estuário do Tejo. E esse foi também um aspecto crucial, uma vez que essa informação não constava do estudo de impacte ambiental para o aeroporto projetado para o Montijo. Acertámos, eu e o José Alves, que tinhamos de mostrar ao público porque esta informação é relevante e envolve um enorme esforço de obtenção de dados. Esta informação, precisa, sobre as movimentações das aves no estuário do Tejo altera significativamente a dimensão do impacto negativo que o aeroporto terá sobre a avifauna estuarina. 

W: Quais as tecnologias de captação de imagem utilizadas nodocumentário?

Joaquim Pedro Ferreira: Utilizei teleobjectivas de grande distância focal, 600mm que numa camera super 35 equivale a uma 900mm. A dificuldade de filmar limicolas prende-se com o facto de estarem no chão ou a voar, não costumam estar em árvores o que limita a diversidade de ângulos que temos disponíveis. E no caso da Islândia isso acentua-se. Utilizámos também drones para a captação de imagens aéreas que, no caso da Islândia, trouxe algumas dificuldades devido ao vento forte e à chuva. 

W: Que curiosidades pode partilhar sobre a filmagem deste documentário?

Joaquim Pedro Ferreira: Este documentário teve alguns desafios e muitas surpresas. Um dos maiores desafios foi filmar em plena escuridão nas salinas a montagem das redes e a captura das aves. Tinha as mãos ocupadas com a máquina de filmar e por isso uma enorme dificuldade em caminhar no lodo, e quando parava começava-me a afundar. Acho que a Islândia, onde nunca tinha estado, é deslumbrante. É incrível a quantidade e a diversidade de aves aquáticas e limícolas. Por exemplo, ver bandos com  mais de cem cisnes, raposas do ártico a patrulharem a paisagem, os ostraceiros a criarem em ruínas. Tudo novo e absolutamente fascinante. Uma das imagens que aparece no documentário é um maçarico pousado num poste com um vulcão coberto de neve como fundo. Estava com o José Alves na altura e, quando vimos a ave pousada, percebemos que tinhamos que ter aquela imagem. Foi difícil porque tinha que me aproximar sem afugentar a ave. Fui-me aproximando a rastejar fazendo pequenas paragens e, sem tripé, apoiei a câmara com uma teleobjectiva numa pequena depressão e mantive-a estável o máximo que pude pois a ampliação era grande. Esta é uma das imagens que mais me marcam neste documentário.


Saiba mais aqui sobre o documentário “Migradores de longa distância: entre o Tejo e o Ártico”.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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