O pastoreio de cavalos semi-selvagens, como os cavalos Sorraia, pode ajudar a reduzir o risco de incêndios florestais e aumentar a biodiversidade nas paisagens mediterrânicas, comprovou um novo estudo publicado na revista Frontiers in Ecology & Evolution.
Ao longo de três anos, uma equipa de investigadores estudou o impacto do da transição do pastoreio extensivo de gado tradicional para o pastoreio de cavalos semi-selvagens na paisagem do Grande Vale do Côa, mais concretamente em duas áreas rewilding, Vale Carapito e Ermo das Águias. Estas áreas foram adquiridas pela Rewilding Portugal em 2020 e 2021, respectivamente.
As organizações que participaram no estudo incluíram o MARETEC da Universidade de Lisboa, a Rewilding Portugal, a Rewilding Europe e o Hill and Mountain Research Centre of Scotland’s Rural College.
As parcelas em ambos os locais – exclusivamente pastoreados por cavalos Sorraia, uma raça autóctone portuguesa adaptada a viver em condições selvagens ou semi-selvagens e que está reduzida a cerca de 200 indivíduos em todo o mundo – foram vedadas e usadas como locais de controlo sem pastoreio.
Os resultados do estudo mostraram que o pastoreio de cavalos nessas duas áreas reduziu a altura e a quantidade de vegetação e, por isso, o risco de incêndios florestais.
Mas se os cavalos ajudaram a controlar as gramíneas, tiveram pouco impacto na vegetação lenhosa, que também é facilmente combustível.
Por isso, os co-autores do estudo sugerem que uma combinação de diferentes herbívoros – como cavalos, veados, bisontes europeus ou gado extensivamente pastoreado – pode ser ainda mais eficaz na redução do risco de incêndio em paisagens mediterrânicas, porque diferentes espécies pastam em diferentes tipos de vegetação, promovendo uma maior função e resiliência do ecossistema.
A investigação concluiu também que o pastoreio por cavalos Sorraia aumentou a proporção de plantas com flor na paisagem o que, por sua vez, pode aumentar a quantidade de alimento disponível para insectos polinizadores, como abelhas e borboletas.
Outro benefício apontado neste estudo é que o pastoreio natural pelos cavalos também aumentou a quantidade de matéria orgânica no solo – que é fundamental para aumentar a biodiversidade do solo – e apoiou o crescimento de diferentes espécies de árvores autóctones. Este segundo impacto é particularmente importante em locais onde a natureza selvagem está a recuperar de incêndios intensos e recorrentes, como é o caso de Ermo das Águias.
Desde a sua fundação em 2011, a Rewilding Europe reintroduziu e reforçou populações de cavalos semi-selvagens em muitas das suas paisagens, desde os cavalos de Przewalski em Espanha, aos cavalos Konik e Karakachan nas Montanhas Rhodope da Bulgária e ainda o cavalo Sorraia no Grande Vale do Côa.
“Através do seu pastoreio natural e de outras interações com as paisagens e a sua vida selvagem, os cavalos selvagens e semi-selvagens desempenham um papel ecológico essencial, razão pela qual é tão importante restaurar as populações em toda a Europa”, defende a Rewilding Portugal.
Foi em Maio de 2021 que uma primeira manada de dez cavalos Sorraia chegou ao Vale Carapito, no concelho do Sabugal. Um ano depois chegou outra manada, desta vez ao Ermo das Águias, no concelho de Pinhel.