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Milhafre-real no local de libertação. Foto: LIFE Eurokite

Espanha: Libertados quase 130 milhafres-reais desde 2022, ao lado do Alentejo

25.06.2025

Os esforços do projeto LIFE Eurokite para recuperar esta espécie ameaçada em território espanhol poderão ajudar também no regresso da população nidificante ao Alentejo, acredita Alfonso Godino, ligado a esta iniciativa. Este ano houve uma primeira tentativa de um casal.

Por estes dias há 32 jovens milhafres-real (Milvus milvus), ainda com poucas semanas de vida, à espera de serem libertados na zona de Valencia del Monbuey, na região de Badajoz, a poucos quilómetros da fronteira com o Alentejo. Com a libertação agendada para meados deste mês de agosto, depois de passarem pela fase de controlo de doenças e por um período de aclimatação, esse será o último grupo de um total de 128 dessas aves de rapina libertadas na Extremadura e na Andaluzia desde 2022. Estas ações têm acontecido no âmbito do projeto internacional LIFE Eurokite, dedicado ao estudo e recuperação da espécie.

Técnicos da ONG espanhola AMUS transportam milhafres-reais para as instalações de libertação em Valencia del Mombuey. Foto: LIFE Eurokite

Em Portugal, a população reprodutora de milhafres-reais (Milvus milvus), que para aqui migram todos os anos para nidificar na primavera, está classificada desde 2005 como Criticamente em Perigo, o último degrau antes da extinção local. Esta população é atualmente “muito rara” e “a sua abundância e distribuição sofreram nas últimas décadas uma redução significativa”, como descreveu o III Atlas das Aves Nidificantes de Portugal, publicado em 2022. Nesse ano, estimava-se que subsistem entre 50 a 100 casais nidificantes, mas na sua maioria no Nordeste Transmontano e Beira Alta (Ribacoa).

Quanto ao Alentejo essa população terá praticamente desaparecido, afugentada pelos venenos, pela caça ilegal e por alterações no uso do solo, devidas por exemplo aos investimentos na agricultura intensiva. Mas Alfonso Godino, ligado ao projeto de libertação de milhafres-reais do lado espanhol da fronteira, acredita que a situação ainda pode ser revertida.

Milhafre-real (Milvus milvus). Foto: Hansueli Krapf/Wiki Commons

No sul de Espanha, nas regiões da Extremadura e Andaluzia, a população reprodutora destas aves de rapina também está ameaçada, pelo que o objetivo do projeto é ajudar à criação de um núcleo estável de reprodução de milhafres-reais nesta parte do país – algo que Alfonso Godino acredita que será possível acontecer também do lado português da fronteira. Até porque no caso de projetos semelhantes no Reino Unido e em Itália, como este conservacionista já tinha referido à Wilder numa ação semelhante em 2022, “as aves libertadas voltaram a nidificar num raio de 50 a 70 quilómetros do local de libertação.”

“Os milhafres-reais que têm sido libertados em Espanha começam agora a chegar à idade adulta e de reprodução, com cerca de três anos de idade”, disse à Wilder o mesmo responsável, que é membro da Amus – Acción por el Mundo Salvaje, uma organização não governamental espanhola com sede na Extremadura. “Este ano, tivemos três novos casais reprodutores do lado espanhol e um casal do lado português. Estas últimas aves, por serem ainda inexperientes, não conseguiram reproduzir-se com sucesso, mas acredito que nos próximos anos haverá mais casais a nidificar.”

Três dos milhafres já libertados, em que são visíveis as marcas alares do projeto para as aves libertadas em 2024. Em 2023, as marcas alares tinham fundo preto. Foto: LIFE Eurokite

Para seguir estes 128 milhafres-reais, a equipa do projecto tem vindo a marcar as aves com dispositivos GPS e também com marcas alares, especialmente úteis se os emissores falharem. “Agradecemos a todos os observadores e fotógrafos de aves, assim como a qualquer pessoa de Portugal, o envio da informação e observações destes milhafres-reais”, apelam.

Nascidos no Reino Unido

Todos estes milhafres-reais têm sido transportados desde o Reino Unido, onde o milhafre-real, conhecido como ‘red kite’ em inglês, já esteve próximo da extinção. Hoje chega aos 6000 casais e forma a segunda maior população reprodutora da Europa, ultrapassada apenas pela Alemanha e à frente de França e da Espanha.

Curiosamente, foi a Espanha e também à Suécia que recorreram vários projectos de reforço da população de milhafres-reais no Reino Unido durante os anos 1990, quando esta estava reduzida a poucas dezenas. E por isso, é possível que uma parte dos milhafres agora libertados perto da fronteira portuguesa descendam dos milhafres-reais que tinham sido libertados há cerca de 30 anos, no Reino Unido.


Agora é a sua vez.

O milhafre-real é ligeiramente maior do que o milhafre-preto. Além disso, tem uma tonalidade mais clara, padrões mais bem definidos e a cauda bastante mais forcada.

A cauda é quase cor de ferrugem e tem a cabeça acinzentada, que contrasta com o castanho-claro do resto do corpo. Veja uma destas aves fotografada em Alter do Chão, identificada no “Que Espécie é Esta?”.

Se observar um milhafre-real com marcas alares amarelas com código preto, em especial se estiver no Interior Sul do país, pode enviar a informação para o email da organização espanhola Amus ([email protected]).

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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